Capítulo 21 - Cobertos de sangue

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A semana passou normalmente, sem muitas novidades. A Rosa e o Pedro não se falaram mais, desde a briga. O Nathan quase teve um ataque cardíaco quando soube que ela estava solteira, mas eu o fiz se comportar, pois o coração dela ainda estava cicatrizando.

Depois dessa história da Rosa, eu o Theo voltamos a ficar mais próximos, conversamos todos os dias, ou no intervalo das aulas, com o pessoal, ou antes do programa especial de Linguística. Ele tinha se afastado um pouco de mim, desde o dia que eu descobri sobre os seus olhos. Mas, agora não. Ele parece está totalmente a vontade e relaxado comigo. Talvez porque o Carlos não queira mais saber de mim.

Falando nele, não sei se ele ainda guarda alguma mágoa em relação àquele dia. Mas, uma coisa é certa, os muros ao redor dele foram construídos de novo. Ele ainda falava comigo, mas não parecia nada com o Carlos que eu havia conhecido. Agora ele era frio e distante. Sinceramente, não sei para onde foi toda a paixão que ele demonstrava sentir por mim. Ou fingia sentir...

Encontrei com a Érica no final da última aula do semestre. Tínhamos combinado de sair, quando acabasse todos os estudos, para ir ao cinema. Parece que ela queria falar comigo, antes de nos encontrarmos com o pessoal da turma para a festinha de despedida do 1º semestre, misturada com a comemoração de natal, com alunos de outras salas.

Quando deu o horário e o professor se despediu da turma, guardei rapidamente o meu material e fiquei esperando por ela fora da sala.

Ela apareceu depois que todos os alunos da turma saíram.

— Finalmente, o semestre acabou! Agora tenho 2 meses só pra mim. — Falou Érica, aliviada, com um sorriso no rosto.

— Né! Férias! — Ergui os braços em sinal de vitória — Finalmente poderei ler todos os livros que eu quiser e atualizar minhas séries.

— Como se você já não fizesse isso, durante as aulas mesmo. Sinceramente, Lila, não sei como você ainda consegue tirar notas tão boas.

— Apenas sei organizar o meu tempo. — Fiz uma careta para ela, e ela sorriu.

O cinema que iríamos não se localizava como a maioria dos outros. Ele ficava no centro de uma pracinha histórica, que servia tanto como cinema, como teatro.

Compramos os ingressos e ficamos conversando sobre como o tempo passou rápido, as amizades que fizemos e os professores que gostamos e odiamos.

O filme começou, era de comédia. Eu, como sou muito besta, ria mais que todo mundo ali presente. A Érica ficava rindo da minha risada e eu já estava até com medo da gente ser expulsas de lá, porque até nas partes sérias, nós fazíamos um estardalhaço enorme.

Quando finalmente o filme acabou, nós resolvemos dá uma volta na praça, antes de irmos nos arrumar, afinal ainda eram 16 horas e a festina só começava às 19 horas.

Eu comprei um algodão doce imenso e fiquei comendo, parecendo uma criança, enquanto a Érica olhava para o infinito.

Eu devorava minha dose de açúcar com unhas e dentes, literalmente. Já estava toda melada e feliz. Então, do absoluto nada, enquanto eu me concentrava em comer o último grão de glicose que minha gula permitia, a Érica soltou de uma vez.

— Eu gosto do Theo!

Tomei um susto e quase deixo o palito de algodão doce cair na minha roupa. Olhei para ela assustada, e notei que ela estava extremamente vermelha.

— Q-quer dizer, vocês são amigos. Eu os observei durante esses últimos dias. E, como sei que você e o Nathan se amam, não tem perigo de ter mais do que amizade entre vocês dois. E-então, eu pensei que como você é mais próxima dele... — Ela falava, olhando para as suas mãos — Você poderia falar de mim. Sei lá, podia me ajudar com o Theo...

Por algum motivo, aquilo me incomodou, e eu senti uma raiva percorrer minhas veias, esquentando o meu cérebro.

— Mas eu e o Nathan não temos nada! É só amizade. Entendeu?? A-M-I-Z-A-D-E! — Falei um pouco mais alterada do que gostaria.

— Desculpe. Então... você e o Theo... — Ela arqueou uma sobrancelha, sem terminar de falar a frase.

— Quê?! Eu e o Theo? Não! Que ideia a sua.. De onde você tirou isso? — Falei corando, tentando disfarçar o meu constrangimento.

— Sei lá... O jeito que, às vezes, eu noto ele olhando pra você... Mas, deixa. Coisa da minha cabeça. Acho que sou um pouco ciumenta. — Ela dá um risinho fraco — Então... você vai me ajudar, Lila?

— C-claro. Por que não ajudaria, não é verdade? — Falei um pouco histérica.

A Érica logo estranhou o meu jeito.

— Lila... você está b...

De repente, algo interrompe a sua pergunta, atrapalhando a nossa conversa.

Escutamos uns barulhos bem altos, vindo do início da praça. Ao olhar na direção dos ruídos, observamos um tumulto, que ficava cada vez maior. Algumas pessoas gritavam ''briga, briga, briga'', outros apostavam quem seria o campeão, e ainda tinha outras pessoas que apenas diziam para chamarmos a polícia.

Geralmente, quando vejo alguma briga, corro para o lado oposto. Não gosto de confusão e sou um pouco medrosa e paranoica. Vai que rola tiro? Por algum motivo, porém, uma sensação ruim rondou o meu ser e eu sabia que devia olhar melhor o que estava acontecendo. Um palpite se apossou de mim, antes mesmo de eu constatar quem eram os brigões, no meu íntimo eu já sabia a resposta.

Eu e a Érica passamos, com dificuldade, pela aglomeração de pessoas. Chegamos no meio da roda já formada, e dei de cara com dois caras que eu conhecia muito bem.

— CARLOS! NATHAN! PAREM JÁ COM ISSO. PAREM AGORA! — Eu gritei, indo na direção deles, tentando separá-los.

— JÁ CHEGA!!! — Falei me metendo na frente dos dois.

O loiro, já com a boca sangrando, atingiu o meu braço, me empurrando, sem querer. Na hora, caí no chão, meio atordoada pelo que tinha acontecido.

O Nathan olhou para mim, surpreso — Pequena?!

Então, o Carlos deu um murro na cara dele, pegando-o desprevenido.

— Seu idiota, você machucou ela. — O ruivo veio na minha direção, ele também estava bem machucado, mas conseguiu me ajudar a levantar. Olhei para o lado e a Érica estava socorrendo o Nathan.

As pessoas já estavam se dispersando, decepcionadas, porque eu interrompi a violência gratuita.

— Pequena, me desculpa. Tava de cabeça quente. Não foi porque eu quis... — O Nathan falou, tentando vir na minha direção, mas mal conseguia ficar de pé.

— Tudo bem, não foi nada. — Tentei tranquilizá-lo. Sabia como ele odiava bater em alguém, pelo seus traumas de infância. Devia está mesmo irritado.

— Claro que foi. Olha, seu braço tá vermelho. Isso vai ficar roxo! Satisfeito? — O Carlos fuzila o Nathan com os olhos.

— A culpa disso tudo foi sua. — O loiro estava indo em direção ao Carlos.

— JÁ CHEGA VOCÊS DOIS! — gritei, sem paciência pela infantilidade deles.

A Érica sugeriu deles irem ao hospital, mas ambos negaram vigorosamente. Disseram que estavam bem. Mesmo cobertos de sangue.

Chamei um táxi, e fomos todos para o campus, pros meninos lavarem seus ferimentos.

O Nathan me pediu desculpas mais uma vez, antes de ir para o seu alojamento.

Me virei, raivosa, para o Carlos e mandei ele ir se cuidar.

— Você cuida de mim? — Ele me respondeu com um sorriso de lado.

— Depende! Você vai me contar o que houve? — Retruquei.

Ele hesitou.

— E eu quero saber o que houve do início. Ou seja, como começou essa rivalidade entre vocês. Tim tim por tim tim. — Cruzei meus braços, o encarando com os olhos semicerrados.

Eu riu.

— Fechado, meu docinho!

Aconteceu na faculdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora