Só me lembro de correr em direção ao local do acidente. Carlos tentava me segurar e eu podia ouvir os gritos da senhora Roriz. Recordo que cheguei bem próximo, inalando toda a fumaça do incêndio, e avistei o Theo. Sua cabeça estava sangrando. Depois disso, eu apaguei.
Acordei assustada em um quarto de hospital. As pessoas tentavam me acalmar, mas eu só queria saber se o Theo estava bem. Como ninguém respondia, comecei a lutar contra meus pais, para poder ir procurá-lo. Porém, estava fraca e eram dois contra um. Eles ganharam a queda de braço.
Olhei ao redor. Nathan e Juliana também estavam lá, no quarto.
Respirei fundo e tentei me acalmar um pouco. As pessoas me olhavam, preocupadas.
— O Theo está bem? — Perguntei, com medo da resposta.
Meus pais se entreolharam, e meu coração bateu cada vez mais rápido.
Por que eles não respondem?
— Ele está bem? Q-quer dizer... Ele... ele... — Não conseguia pronunciar as palavras que tanto temia. Fechei meus olhos só de pensar na ideia de sua morte. Lágrimas saiam involuntariamente pelo meu rosto.
— Oh, não, não. Ele está vivo. — Surpreendentemente quem me deu a notícia que eu tanto queria ouvir foi a Juliana. Ela também parecia abalada.
Sorri em forma de gratidão, e ela retribuiu o sorriso.
— Eu posso vê-lo? — Implorei com os olhos.
— Querida, ele está vivo, mas a situação é delicada. — Papai senta na cama hospitalar — Parece que fraturou o crânio. Os médicos estão esperando ele acordar, para fazer todos os exames com mais exatidão.
— Ele ainda corre perigo? — Tento afastar todas as ideias ruins que aparecem na minha cabeça agora.
— Não, acho que não. — Ele olha para o Nathan, sem ter certeza da sua resposta, procurando um socorro.
O loiro se levanta e vem até mim, segura a minha mão e fala.
— Você está se sentindo melhor? Você inalou muita fumaça. E o choque também contribuiu para piorar a situação. — Nathan me explicou.
Assenti firmemente com a cabeça.
— Que bom, minha filhinha. — Mamãe me abraça.
Olho para o Nathan, e ele já sabe o que quero. Ele lê através da minha expressão.
Suspirou — Você quer que eu chame um médico para te colocar a par do estado do Theo?
— Quero sim! — Me levantei e, depois de uma enfermeira tranquilizar meus pais dizendo que eu estava bem, saí perambulando pelo hospital, atrás de um médico. Juliana, Nathan e meus pais também vinham comigo.
Chegamos ao corredor onde se encontrava o quarto do Theo, pois logo avistei uma multidão conhecida. O senhor e a senhora Roriz, Pedro, Rosa, Carlos, Érica, Jadson, Rita, Igor e Daniel. Todos estavam lá.
Me aproximei e todos perguntaram como eu estava. Disse que estava bem, para não se preocuparem comigo. Carlos veio com os ombros baixos, e me abraçou. Ele não estava se importando de parecer vulnerável. Era seu melhor amigo e ele se sentia culpado. Eu também me sentia assim. Érica e Rita não demonstraram nenhum tipo de ódio e, assim como Juliana, só queriam que tudo acabasse bem. Eu também não queria mais brigar com Jadson. Todos os desentendimentos de antes agora pareciam tão supérfluos.
A senhora Roriz veio até mim e me abraçou. Ficamos assim, chorando.
Um traumatologista saiu do quarto do Theo e nos avisou que ele estava acordando. Somente a família poderia entrar.
Mordi o lábio com força, para não fazer um escândalo.
Eles entraram.
Todos nós ficamos do lado de fora, na expectativa, até ouvirmos o Theo gritar.
— EU NÃO CONSIGO ENXERGAR! NÃO CONSIGO! TÁ TUDO PRETO! SOCORRO, EU NÃO ENXERGO! — Sua voz tinha um desespero que fez meu coração apertar e o nó na minha garganta subir.
Todos do lado de fora do quarto se entreolham nervosos.
A família do Theo saiu da sala. Estavam muito abatidos.
— O traumatologista nos pediu para sair, para fazer uns exames nele. E... descobrir o motivo da cegueira. — Pedro fala num sussurro.
A mãe do Theo apenas chorava, apoiada no peito do senhor Roriz.
...
Horas mais tarde, o médico sai da sala. Todos nos levantamos.
— Os pais? — Ele pergunta em meio a pequena multidão.
— Sim, somos nós, doutor. — O senhor Roriz toma a frente.
— Vocês precisam resolver se querem ou não autorizar uma cirurgia com um neuro. É a única chance dele voltar a enxergar. — Ele dá uma pausa, e termina de falar, com compaixão — Se optarem por isso, precisamos que vocês assinem os termos de compromisso e responsabilidade, caso aconteça o pior na cirurgia.
Eu arregalo os olhos. O pior... quer dizer... ele corre risco de vida?
Carlos perguntou o que eu estava pensando e o médico confirma.
— No acidente, o Theo foi arremessado para fora do carro. O que é bom, já que ele estava prestes a explodir. Porém, ele bateu a cabeça com muita força em uma árvore. — Ele vê se estávamos conseguindo acompanhar — A pancada afetou a parte detrás de sua cabeça, perto da nuca, onde fica o lobo occipital. Cirurgias no cérebro são perigosas.
— Traduz, doutor. — Jadson interveio.
— O lobo occipital é a parte do córtex cerebral responsável pela visão primária.
Ele repara nos nossos rostos confusos, tentando entender aquela linguagem médica. O traumatologista resolveu mudar de tática.
— A via da visão termina no lobo occipital, tipo... vai do olho até essa região, que é onde é mandada a informação para ser processada a visão, entenderam? Se ela for perfurada, a cegueira é irreversível, pois as células do cérebro, os neurônios, não participam da divisão celular. Como o Theo apenas sofreu uma pancada muito forte, o osso do crânio afundou o espaço, então causou a lesão. Tentaremos fazer uma cirurgia para reajustar o osso do crânio e desafogar o que está comprimido.
A senhora Roriz começa a chorar loucamente, dizendo que prefere que ele fique cego, mas vivo.
Eu estava muito chocada e em pânico com tudo o que estava acontecendo... Não tinha mais forças nem pra chorar. Minha mente não estava mais processando nada. Ou ele fica cego para sempre, ou ele tem uma chance... mas, pode morrer. Meu Deus!
Todos foram para casa, exceto a família da vítima, e eu. Insisti para ficar e meus pais acabaram concordando. Passei a noite em claro. Meus pensamentos não paravam. Só pensamentos ruins.
...
No dia seguinte, transferiram o Theo de quarto. Agora as visitas estavam liberadas, finalmente. O pessoal voltou no dia seguinte, com mais gente do que antes. Estavam todos da faculdade que pertenciam à sala dele, os parentes mais distantes, e até alguns fãs antigos.
Ele não queria ver ninguém. Estava meio deprimido e não queria a pena alheia. Não queria que o vissem nesse estado. Palavras do Pedro.
As pessoas se reuniam no corredor, conversavam e o acidente era explicado várias e várias vezes, assim como a explicação do médico. Os únicos que o Theo não se opunha de entrar em seu quarto era os pais, o irmão e o Carlos.
Dois dias inteiros se passaram. Até, FINALMENTE, o Theo permitir que eu e a Rosa possamos vê-lo.
Batemos na porta, cuidadosamente.
— Theo? — Perguntei cautelosa.
— Pode entrar... — O Theo respondeu.
Nós entramos.
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Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...