Capítulo 24 - Que os jogos comecem

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Os dois ficaram se confrontando, o ruivo, com um olhar raivoso e o heterocrômico, com um olhar arrependido.

— Pensei que fossemos amigos. — Carlos empurrou o ombro do Theo.

— Nós somos amigos! — Responde o Theo, já perdendo a calma. Me surpreendi. É a primeira vez que o vejo assim.

— Bom, não parece. Amigos contam as coisas um pro outro. Amigos não escondem o que sentem. Amigos não mentem. — Carlos vai falando, enquanto o empurra a cada palavra.

— Eu nunca menti para você. Desde a Carol, eu nunca te vi gostando de menina nenhuma. Não de verdade. E... quando você me falou o que sentia pela Lila... Como você a trata... Eu soube que ela era a pessoa certa pra você. O problema é...

— Ela também é a certa pra você. — Falou Carlos, com desprezo, parando com a provocação.

— Eu juro que tentei me afastar. Não queria sentir o que sinto. Carlos, eu tentei juntar vocês dois. Eu te dei a ideia das flores da sala de aula, lembra? — Olhei surpresa para ele, mas ele me ignorou completamente.

— E por que fez isso? Por que não foi sincero comigo, dizendo que ela também era especial pra você? Por que não me contou tudo?

— Porque eu te devia isso! — Explodiu o Theo.

Os dois ficaram calados. Parecia que o clima pesado tinha diminuído, dando lugar a noite fria. Eu me sentia estranhamente culpada.

O Theo recuperou a calma e continuou em um tom de voz baixo.

— Você sempre esteve comigo. Sempre me ajudou, me defendeu. Me fez companhia quando eu mais precisei. Por sua causa, eu me senti uma pessoa normal novamente. Eu não queria estragar a sua felicidade...

— Theo, você não me deve nada. Se eu fiquei todo esse tempo ao seu lado, foi porque você também ficou ao meu. É isso o que os amigos fazem.

— Os melhores amigos. — Theo abaixou a cabeça.

— Os melhores amigos, seu idiota. — Carlos sorriu e eu entendi aquilo como uma reconciliação.

Bom, e agora? O que eu faço? Melhor eu ir embora de fininho. Assim, não vou ter que lidar com essa situação constrangedora.

Fui andando de costas vagarosamente, já tinha dado alguns passos quando pisei em falso no degrau da calçada e me desequilibrei. Em vão, tentei me manter de pé, porém minha saia longa prendeu na minha sandália. Caí com tudo no chão, soltei um grito por instinto e segurei minha boca com as mãos.

Tarde demais, os dois garotos já estavam me olhando, confusos, tentando entender o que aconteceu.

Quando se deram conta, Carlos começou a gargalhar loucamente. Theo deu uma cotovelada no amigo, que só então se lembrou de ir me ajudar.

Os dois chegaram perto de mim e estenderam as mãos, um de cada lado. Segurei as duas e me levantei.

Que mico! Muito bem, Lila. É assim mesmo que se evita situações constrangedoras. Sair de fininho é com você mesma.

Sussurrei, conformada, um obrigada para os dois.

Senti minhas bochechas quentes, apesar da noite fria. Eu só queria sair dali. Não me sentia confortável com a ideia de dois amigos estarem gostando de mim, deu saber disso e eles também saberem. Estava tudo tão às claras...

Carlos notou minha timidez e não perdeu tempo em me fazer virar um pimentão.

— O que foi, meu docinho? Só porque eu e o meu camarada aqui estamos de olho em você? — Ele coloca o braço ao redor dos ombros do Theo. Este ficou um pouco receoso, mas depois entendeu. Afinal, nós não éramos mais crianças.

— E agora, como vai ser? — Theo pergunta mais para si mesmo.

— Bem, agora a Lila vai escolher com quem ela quer ficar. — Carlos sorri de lado.

Os dois me olham. Seus olhos imploravam uma resposta.

Os heterocrômicos brilhavam, e tinham um tom de esperança. Também pareciam confusos e perdidos, mas ansiosos pelo meu veredicto.

Os cinzas transmitiam confiança e determinação. Como se qualquer resposta que eu desse fosse a correta e esperada.

— E-eu... v-vou... e-err... bom... — Comecei a falar, sem saber o que dizer.

— Temos uma indecisão? — O ruivo sorri abertamente — Que os jogos comecem.

Aconteceu na faculdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora