O primeiro mês na Focus passou voando. Tive algumas aulas com o professor Fernando e conheci outros professores também. Alguns chamados de PHDeuses, pelos alunos, por serem muito conhecidos como referência na sua área de atuação. Era realmente um prestígio ter aula com eles.
Estava descansando no quarto após a minha última aula do dia. Tinha começado a ler o livro As mentiras que os homens contam, do Luís Fernando Veríssimo, quando a Rosa chegou da aula dela. Almoçamos e, depois de umas horinhas de preguiça, decidimos ir passear pela cidade.
Agora que estamos mais próximas, descobri que na verdade o seu nome é Rosalinda. Mas, ela não gosta muito dele. Segundo ela, ela sente um calafrio quando alguém a chama assim, com o nome completo, como se tivesse feito algo errado. Eu achei isso uma graça, mas, para falar a verdade, eu até entendo. Argumentei que além de Rosa, o apelido também poderia ser Linda. Ela riu e comentou que preferia ser elogiada quando essa fosse a intenção.
O Nathan sumiu nesse meio tempo. Mandei mil mensagens para ele, mas ele nem sequer as visualizou. E é porque vivia dizendo que íamos ser carne e unha na universidade. Quase me obrigava a fazer o curso de Direito também. Mas, como ele gosta de dizer, tenho vocação para ser pobre.
Após o passeio com a Rosa, cheguei na república morta de cansada, mas feliz. Fomos ao centro comercial e ela me fez andar muito. Praticamente conheci todas as lojas. Ela ama fazer compras e apesar de eu não comprar nada, a Rosa é muito divertida e eu realmente adoro passar um tempo com ela. De agradecimento até ganhei um batom vermelho que ela achou a minha cara.
Os dias na Focus passam extremamente rápidos. Com tantas leituras, trabalhos e provas, mal tive tempo de socializar com meus colegas ou mesmo ir visitar minha família. Acho que vou acabar sendo deserdada. Vou tentar ir visitá-los pelo menos no próximo fim de semana. E foi o que fiz.
Já era dia primeiro novamente, estava na sala de aula esperando a aula começar. O professor chegou avisando que teríamos uma semana para enviar um trabalho para ele que serviria como nossa primeira nota na cadeira.
Já no final da aula, meu celular vibrou. Peguei e li a mensagem.
Nathan: Sentiu mnh falta?
Lila: Aonde vc tava? Já tava pensando em ir falar com a Juliana pra saber se tinha acontecido algo D:
Nathan: Noooooossa :o A preocupação tava tão grande assim? Sorry, girl.
Lila: Saudades, loirinho...
Nathan: Então, vem matar a sdds :D
Nessa hora, olhei para fora da sala e vi o Nathan me olhando do outro lado do corredor. Ele estava segurando uma flor murcha que, provavelmente, ele arrancou de algum jardim do campus, vindo para cá.
Segurei o riso e esperei a aula terminar.
Quando saí, abracei meu amigo durante uns trinta segundos.
— Você me abandonou. Em um lugar novo, sozinha, com pessoas estranhas. — Fiz cara de choro.
— Quanto drama! — Ele riu e colocou a flor atrás da minha orelha. — Agora você está linda.
— Não estou!? — Falei gargalhando, confirmando.
Nós andamos até uma pracinha que tinha perto do meu bloco, brincando, claro, de não pisar nas linhas da calçada.
— Então... — Continuei o assunto, quando sentamos no banco — Aonde você estava?
— Eu não fui a canto nenhum. É que sou o novo monitor de Direito Processual Civil I. Estava organizando meus horários e fazendo os cronogramas da disciplina. Sabe que não gosto de acumular trabalho.
— Podia, ao menos, ter me dito isso pelo celular, não ia levar nem um minuto. Ou respondido as minhas mensagens, né.
— Desculpa, baixinha. Sabe como me desligo de tudo quando estou concentrado em algo. Prometo que não vai mais acontecer.
— Ok... — Aceitei satisfeita as desculpas dele, já que ele nunca quebrou nenhuma promessa. Nunca.
Quando levantei minha cabeça, vi o Theo saindo de uma das salas do bloco de Letras e indo em direção ao estacionamento.
Eu acenei para ele. Ele me viu ao longe e fez menção de se aproximar, mas pareceu ter mudado de ideia e só acenou de volta e seguiu seu caminho inicial.
— Você realmente fez amizade com ele? — Perguntou o Nathan, incrédulo.
— Não digo amizade. Ele está mais para um conhecido. Falo com ele, às vezes, mas nunca uma conversa demorada, sabe?
— É, ele é meio calado. Só o vejo conversando com o Carlos.
— Falando em Carlos, eu também falo com ele, de vez em quando e... hum... a Rosa me contou uma coisa.
— Rosa? Rosa que você diz... Rosalinda? Como a conhece? Garota, você só está aqui há um mês! — Ele falou mais alterado do que eu esperava.
— Calma, Nathan. Ela é minha colega de quarto. E, bem, ela sim eu posso dizer que fiz amizade. Enquanto você me ignorava, ela me fez companhia. — Brinquei, empurrando ele de lado.
— Sua colega de quarto?
— É, ela é uma pessoa ótima, super legal. Ela me disse que vocês são da mesma turma e...
— O quê? Vocês conversaram sobre mim? E o que ela disse? Quer dizer... — Ele tentou disfarçar o interesse — Ela comentou algo legal a meu respeito?
— Aaaaaaah não, Nathan. Não. Não mesmo. Não vai me dizer que é ela...
Ele ficou vermelho, sem saber o que dizer. Por fim, suspirou e acabou falando.
— Você me conhece tão bem. — E escondeu o rosto nas mãos.
Fiquei sem saber o que falar durante um tempo. Achei que devia dar um tempo a ele. Ele me explicava quando se sentisse à vontade para falar sobre isso.
Passados uns cinco minutos, ele falou.
— Não disse que era impossível?
— Quando você me disse que era um amor platônico, pensei que era só porque você nunca iria chegar nela.
— Poxa vida! Tantas pessoas no mundo e você vai ser justo sua colega de quarto? — Ele sorriu triste — Sabe o que é engraçado? Antes de ser sua colega de quarto, ela foi colega de quarto da Ju.
— Foi, eu soube.
— Como posso tentar esquecê-la assim? Não basta ser da mesma turma que eu...
Eu apertei sua mão. Então, ele continuou.
— Você já conheceu o Pedro?
Fiz que não com a cabeça.
— O pior é que ele é super gente boa.
Enquanto conversávamos, o Carlos passou por nós, indo na mesma direção que o Theo tinha ido. Quando ele passou, olhou para mim e para o Nathan. E, depois, para as nossas mãos.
Não tinha me tocado que ainda estava segurando a mão do Nathan. Soltei rápido, não sei bem o porquê.
O Carlos prosseguiu de ombros baixos, parecendo decepcionado.
— Qual o problema dele?
— Bem, eu ia te falar. Não sei bem, mas parece que ele está... bem... er... a fim de mim. — Enrubesci.
— Sabia. Soube desde a primeira vez em que ele te olhou. Se cuida, Lila. Não vai dar trela para ele, está bem?
— Por que você fala desse jeito sobre ele? Faz com que ele pareça um monstro.
Ele olhou para o outro lado.
— Nathan, o que aconteceu entre vocês?
Ele me olhou e forçou um sorriso.
— Deixa isso para outro dia, certo? Já foram muitas revelações por hoje. — Ele me deu um beijo na bochecha e saiu.
Então, lá fui eu para a minha segunda aula do dia.
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Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...