Terminei de ler o bilhete na hora em que a Rosa saiu do banho. Ela já estava vestida para dormir, então presumi que não iria ver o Pedro essa noite. Eu estava sentada na cama com o papel ainda na minha mão. Ela parou um segundo, me olhou, olhou ele, e olhou para mim novamente. Ela abriu a boca para dizer algo, mas, bem na hora, alguém bateu na porta.
A Rosa foi atender, já que estava em pé. Quando a porta se abriu, o Nathan entrou pisando forte no nosso quarto.
— É verdade o que me contaram, Lila? — Ele veio na minha direção, sem nem sequer olhar para a Rosa. Devia está chateado mesmo.
— Ah, boa noite pra você também. Como vai? Vou bem, e você? Obrigada por perguntar. — Falei para ele, lembrando da educação.
Ele nem me deu ouvidos. — Você saiu com o Carlos?
— Você sabia que eu tinha aceito. Até passou uma hora azucrinando o meu ouvido pra eu mudar de ideia, lembra?
— Eu sei. Mas, não sabia que seria hoje. Você nem me avisou.
— D-desculpa, Nathan. Eu...
Ele olhou para a minha mão.
— O que é isso que você está segurando? — Ele aponta para o bilhete.
— Ah, n-nada demais. É só um poeminha do Carlos...
— O Carlos não escreve poemas. — Interveio Rosa.
— Como você sabe? Ele pode ter começado agora. É dele. Tinha até uma bouvardia em cima, a flor que ele usou pra me chamar pra sair.
Tanto o Nathan como a Rosa estavam em pé na minha frente, de braços cruzados. Eu estava sentada na cama, olhando os dois, me sentindo uma criancinha, com os pais brigando comigo. Me encolhi na cama. Aquilo parecia um julgamento.
— Eu estou em um tribunal, é isso? Virou um crime sair com o Carlos?
O Nathan suspirou e se sentou ao meu lado.
— Olha, eu sei que ele é seu amigo. Mas, eu só quero o seu bem. Você sabe disso. Se eu digo que ele não é pra você, eu tenho os meus motivos. Você entende?
— Mas ele é muito legal, Nathan. Vocês não veem o lado dele que eu vejo. Ele é doce e carinhoso. — Choraminguei.
— Não, não é. Ele só está agindo assim porque está interessado em você. É só observar como ele trata as outras pessoas ao redor dele. — Ele falou, me abraçando, como se eu fosse realmente uma criancinha.
Me senti boba e infantil, mas gostava dos carinhos dele. De ser cuidada por ele.
— Você não sabe como ele é com os amigos. Você o julga sem o conhecer. — Disse, por fim.
— Quem disse que já não o conheci?
— J-já c-conheceu? E... como foi? Quer dizer...
— Deixa pra lá, Lila. Não quero falar sobre isso. É só que... pensei que você sabia fazer suas escolhas direito, escolhas corretas.
Arregalei os olhos para ele. Ele não tinha o direito de falar nada sobre escolhas certas. Principalmente envolvendo relacionamentos. Ele estava apaixonado por uma garota que namorava outro há quase 4 anos.
Ele pareceu ter lido meus pensamentos, pois resolveu completar.
— Eu sei. O coração tem razões que a mente desconhece. Ninguém consegue mandar nele.
Essa última frase dele mexeu comigo. Que ninguém consegue mandar no coração. Mas, meu coração realmente queria o Carlos? Acho que é muito cedo para dizer.
— Eu gosto dele, mas não posso dizer que estou apaixonada. — Pensei em voz alta.
— Pois, se até poema ele fez, pra ele deve ser sério. — Nathan se levantou.
— Como ele pode ter escrito e te mandado esse bilhete, se você estava com ele até agora? — Perguntou a Rosa, que só agora notei que estava com o papel na mão, analisando-o.
— E-eu não sei. Vai ver foi antes de sairmos.
— Essa letra eu conheço... — Sussurou Rosa, baixinho.
— O quê? — Não tinha escutado o que ela disse.
De repente, ela ficou pálida, como se tivesse visto um fantasma, ou se lembrado que deixou o fogo do fogão acesso, prestes a explodir a cozinha.
Fiquei preocupada. O Nathan também, já que ele estava segurando seu braço para ampará-la, caso ela desmaiasse. Nem tinha reparado antes que ele foi até ela.
— Rosa?! Você está bem?
— Ah, sim, claro. Eu tenho que sair. Até ma... — Ela já ia abrindo a porta do quarto, quando a interrompi.
— Vai sair de camisola?
Ela olhou para si mesma, e reparou na camilosa rosa que estava usando. Só então lembrou que já ia para a cama.
O Nathan estava com tanto receio da minha saída com o Carlos que parece que só agora percebeu o que a Rosa vestia. Pois, na mesma hora, ele desviou o rosto da direção dela, e ficou super corado. Que fofo! Só agora ele sente a vergonha por invadir o nosso quarto.
Desejei boa noite para o Nathan. Ele me abraçou e acenou timidamente para a Rosa. Já saindo do quarto, ele disse, olhando para mim.
— Juízo, moça.
Quando ele saiu, a Rosa comentou que quem não conhecia a gente poderia jurar que o Nathan era apaixonado por mim, que seríamos um lindo casal. Até parece. Mal sabe ela quem realmente é a paixão dele. Sorri com esse pensamento. Até que eu gostaria que eles dois fossem um casal, contanto que não me esquecessem, e me amassem, sempre. Nada carente, haha.
Olhei para a Rosa, e ela já tinha colocado um vestido por cima da camisola.
— Você realmente vai sair? Pensei que a gente podia ver um filme juntas, com pipoca. Sabe, tipo uma noite das meninas. Preciso disso. Muita pressão com essa história de garotos.
— Desculpa, Lila. Mas, eu realmente preciso falar com alguém. Urgentemente! — Ela notou minha decepção — Não se preocupe, eu volto logo. Vai preparando a pipoca.
Terminando de falar isso, saiu e fechou a porta, me deixando no quarto, sozinha, com minhas dúvidas e meus pensamentos.
Será possível que o bilhete possa ser de outra pessoa, que não o Carlos?
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Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...