Capítulo 27 - A Fazenda Roriz

224 29 90
                                    

O dia do aniversário do Pedro finalmente tinha chegado e eu estava ansiosa para reencontrar a Rosa. A manhã estava calma e ensolarada. Olhava pela janela do táxi, perdida em pensamentos. A paisagem era só mato, o que contribuiu para o meu devaneio. Estranhamente eu estava sentindo um friozinho na barriga. Deve ser apreensão por estar indo passar uns dias em um local totalmente novo para mim.

O taxista parou o carro no final de uma estrada. Segundo ele, a fazenda que eu estava procurando ficava um pouco mais a frente. Que ele não podia mais ir de carro, pois o caminho era bastante complicado.

Fiquei preocupada em ir andando, mas ele me garantiu que a fazenda ficava a somente 1 quilômetros dali.

Desci do carro, e o motorista me ajudou a retirar minhas malas. Ainda bem que eram poucas. Paguei e ele disse que bastava eu seguir em frente.

Fui andando, morrendo de medo de que alguma cobra aparecesse e me atacasse. Mal dei 10 passos, avistei uma casinha ao longe. Suspirei de alívio. Pelo menos, já tenho um vislumbre de aonde ir.

Quanto mais chegava perto do local, mais a pastagem ao meu redor ficava mais verde e as árvores com mais frutos. Já estava bem próxima da casa, que agora eu constatava ser enorme, quando um cachorro apareceu.

Ele era bem grande. Sempre tive medo de cachorros, ainda mais os que conseguem ser do meu tamanho. Ele começou a latir na minha direção e eu tentei me acalmar. Quando ele veio correndo, não me contive. Larguei todas as minhas coisas, na velocidade da luz, e subi rapidamente em uma macieira.

Algumas pessoas da casa vieram para o lado de fora, pois os latidos não paravam. Identifiquei a Rosa, o Pedro, o Carlos e o Theo. Também havia mais dois garotos, uma menina, e um casal mais velho, que eu supus ser os pais do aniversariante.

Todos demonstravam surpresa, misturada com gargalhadas. Carlos começou a chorar de tanto achar graça.

— Ei! Ninguém vai me ajudar? — Gritei para o pessoal lá em baixo.

Eles só riam, e a Rosa saiu correndo para buscar um celular para me filmar. Isso mesmo, sempre podemos contar com as amigas.

— Beleza. Posso ficar aqui o dia todo. Tem sombra e comida. Pra que mais? — Falei já emburrada.

Rosa me filmou, Theo me olhava divertido, o casal voltou a entrar na casa, Carlos e os outros morriam de rir.

Depois de um tempo, quando perdeu a graça, finalmente Carlos chamou o cão, que o obedeceu prontamente. Descobri que o nome dele era Dragon e a sua raça era pastor-de-beauce.

Desci, dei os parabéns ao Pedro e o presente que tinha comprado, um sapato, que a Rosa disse que ele tinha amado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Desci, dei os parabéns ao Pedro e o presente que tinha comprado, um sapato, que a Rosa disse que ele tinha amado. Soquei o braço do Carlos, que não parou mais de me azucrinar. Tentei, em vão, fazer a Rosa apagar o vídeo. Tarde demais. Ela já tinha postado no instagram. Theo me deu um abraço bem apertado, o que fez todos soltarem piadinhas conosco, e me apresentou o resto da turma. Eram Daniel, Igor e Rita, respectivamente.

Theo carregou minhas malas até dentro de casa. Ele me mostrou todo o local e onde eu iria dormir. Agradeci e ele avisou que o almoço seria em 15 minutos. Aproveitei esse tempo para tomar um banho, afinal eu tinha suado bastante com a caminhada e a escalada na árvore. Também liguei para os meus pais, avisando que cheguei bem, e em seguida, para o Nathan, que me fez jurar ligar todos os dias.

O almoço foi servido ao ar livre. Os pais do Theo e do Pedro foram bem simpáticos comigo. Pediram desculpas pelo que houve na minha chegada, que todas aquelas ''crianças'' ainda precisavam amadurecer. Depois, ajudei a mãe do Theo, a senhora Roriz, a lavar a louça. Rosa me falou tão mal dela, mas devo admitir que achei ela um amor. E acho que ela também gostou de mim.

Rosa estava se mordendo de ciúmes por ela ter convidado a Rita para o aniversário. Esta, sim, parecia não ter gostado de mim. Desde que o Theo me acompanhou até a sua casa, ela está me fuzilando com os olhos.

No geral, o dia foi bem tranquilo. Pedro ganhou vários presentes. E nós passamos o dia conhecendo toda a fazenda. Até andei a cavalo. Fui me acostumando a presença do Dragon, e me surpreendi, ele é um cachorrinho bem carinhoso. O inho é irônico, claro. Nunca vi um cão tão grande antes.

Combinamos todos de ir dormir cedo, pois, no dia seguinte, iríamos visitar uma cachoeira lá perto.

Me virei e revirei na cama. Não conseguia dormir. Finalmente cochilei, mas tive um pesadelo horrível durante a noite e acordei assustada. Aquele sensação estranha ainda tomava conta de mim.

Resolvi me levantar e tomar um copo d'água. Quem sabe se eu me distrair, quando voltar para cama consiga pegar no sono? Fui a cozinha e bebi minha água. Decidi dar uma olhada lá fora. Abri a porta e fiquei na varanda, o ar era tão puro ali. A noite estava mais estrelada do que o normal. Sempre dizem que no interior o céu é mas bonito. Bem, devem ter razão.

Estava distraída com meus pensamentos, quando alguém falou atrás de mim.

— Também não consegue dormir?

— Carlos... Oi. É... estamos bem longe de casa. — Falei, fechando o roupão que escondia o meu pijama.

— Verdade...

Ele deu um sorrisinho de lado e foi se aproximando de mim. Uma vez perto, ele beijou minha testa. Depois minha bochecha e o meu nariz. Eu sabia qual seria o próximo local. Ele segurou minha cintura e se aproximou dos meus lábios. Eu o parei.

— Desculpe. E-eu sei que estou confusa. M-mas, isso parece tão errado. N-não sinto o q-que achei que sentiria.

— Parece que você já fez sua escolha. — Ele baixou a cabeça, derrotado.

— Acho que eu sempre soube... — Também baixo a cabeça. Essa sensação é bem desconfortável.

— Acho que eu também sabia... Só não queria ver... — Ele nota minha cabeça baixa, e levanta o meu queixo — Ei! Não fique assim. Eu sei a hora de me retirar.

— E-eu sinto muito, Carlos...

— Shhh — Ele me silencia e me abraça — Docinho, você não poderia ter escolhido alguém melhor.

Eu o abraço de volta. Ficamos assim um bom tempo. Depois sentamos e ficamos conversando, até surgir os primeiros raios de sol. Desejei um bom dia a ele, que riu, e voltei ao meu quarto, como se nada tivesse acontecido.

Finamente! Isso parecia tão certo. Eu escolhi quem eu queria e meu coração estava em paz. Era o Theo a pessoa que fazia o meu coração bater mais rápido. São os seus olhos que os meus olhos procuram sempre. É ele o garoto que eu sempre esperei.

Hoje será um longo dia. Coloquei o meu biquíni, sem um pingo de sono, e fiquei esperando o horário combinado para irmos a cachoeira. Tomei café da manhã e cumprimentei o Carlos com um olhar cúmplice, daqueles que compartilham um segredo.

Todos terminaram logo de comer, pois estavam animados com o dia.

— Quando vai falar com ele? — Sussurrou o Carlos no meu ouvido.

— Calma. O dia mal começou! — Eu ri dele.

Theo nos observou aos cochichos, com um olhar triste.

Carlos notou e começou a rir e me abraçar.

— Ei!! — Reclamei.

— Que foi? Preciso aproveitar enquanto ainda posso. — Ele aponta para o Theo, falando — E, essa cara dele é impagável.

Aconteceu na faculdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora