Conforme os dias foram se passando, eu me foquei mais nos estudos. Tentei evitar um pouco o Carlos, não queria magoá-lo. Acabei de me mudar e ainda estou aprendendo a me virar sem minha família, com toda a pressão da faculdade. Tudo ainda está muito recente para mim. Eu só quero ir com calma.
Já estou há dois meses aqui, na Focus, e acho que estou me saindo bem em relação às minhas notas. Tirei 10 em Filosofia e 9,4 em Teoria da Literatura. O Theo me ajudou um pouco, confesso, já que ele é o monitor dessa disciplina. Também não posso ignorar meus próprios méritos. Às vezes ficava horas na biblioteca.
Hoje o professor Fernando vai entregar os trabalhos que enviamos para ele, no fim de semana passado. Estou ansiosa com minha nota. É besteira, eu sei. Não é que eu seja nerd ou CDF, mas é que eu estou cursando o que amo. Me comprometi com isso. Então, se é para fazer algo, quero fazer direito. Até porque sou um pouco, MUITO, perfeccionista.
O professor entrou na sala, desejou bom dia a todos e fez a chamada. Depois de explicar todo o conteúdo novo, faltando quinze minutos para encerrar a aula, ele resolveu falar sobre os trabalhos.
— Turma, é o seguinte — ele começou a falar, sentando no birô da mesa — Eu não sei se fui muito precipitado passando esse trabalho para vocês. Acho que vocês ainda não entenderam muito bem as dicotomias. Achei que já estivesse claro, porém quase todos os trabalhos estavam muito confusos. — Ele encarou a turma — Outra coisa, todo trabalho, aqui, na Universidade Focus, precisa ser elaborado de acordo com as normas da ABNT. Lembrem-se que vocês estão em um curso de Letras.
Eu estava muito assustada com os comentários do professor. Mas acho que não era a única. Olhei em volta e parecia que toda a sala tinha parado de respirar.
— Eu vou entregar os trabalhos agora — ele continuou — Não se desesperem. Vocês ainda têm muito tempo para recuperar a nota.
Ele foi chamando nome por nome e entregando os trabalhos. Quando vi a fisionomia dos outros, tão tristes, fiquei torcendo para tirar, pelo menos, um 5,0.
Quando o professor chegou na letra L, finalmente ele falou meu nome.
— Lila Hesek?
Fui, tensa, andando em direção ao professor.
— Hmm... — Ele me analisou. Depois, se voltando para toda a turma, falou — Pessoal, eu quero dar os parabéns para a Lila. De todas as turmas do 1º semestre em que dou aula, ela foi a única aluna que conseguiu ficar acima da média. Meus parabéns, Lila. Bom trabalho.
Suspirei em alívio. Parecia que todo o peso sobre os meus ombros desapareceu.
Ele me entregou meu trabalho, tirei 7,9. Beleza, não é uma nota tão boa, mas estou acima da média.
Quando a aula acabou, a Érica e o Jadson vieram correndo até mim.
— Amiga, a senhora é ''dexxtruidora mexxmo''. — brincou a Érica.
— Isso aí. Agora vai ter que nos ajudar em Linguística. — acrescentou o Jadson. — Você está quase a neta de Saussure. — Ele riu.
— Pelo amor de Deus! Só estou há dois meses nessa faculdade e não aguento mais esse homem. Todo livro só fala dele. Me deixa, cara. — zoei, para disfarçar meu constrangimento pelos elogios.
Já estava saindo da sala, quando o professor me chamou.
— Lila? Você pode ficar mais uns instantes, por favor?
— Tudo bem. — Me despedi da Érica e do Jadson, e fui até o professor.
Ele me perguntou — Você sabia que existe um programa especial, neste campus, para alguns alunos que demonstram aptidão para a Linguística?
— Na verdade, não sabia.
— Bom, se você se interessar, acontece todas as quintas-feiras, às 15 horas, no Departamento de Línguas Vernáculas. Apareça por lá, acho que você vai gostar.
— Eu vou sim. — respondi, com um sorriso tímido — Obrigada, professor.
— Até mais, Lila. Bom dia. — E ele saiu da sala.
-
— Nossa, isso é o máximo! — Falaram todos do meu grupinho de amigos em uníssono, quando contei a novidade.
— Você ganha certificado! E horas complementares do curso! Arrasou. — disse o Guto, que de vez em quando ficava conversando conosco. — O Theo também participa desse programa.
Olhei para ele.
— É mesmo, Theo? — falei, me sentindo mais aliviada de dividir as atenções com outra pessoa. Não gosto de ser o foco.
— Ah, sim, fui chamado para participar no semestre passado. Você vai gostar. É bem interessante. — ele falou, sorrindo com o olhar.
— Já estou super curiosa — Retribuí com um olhar empolgado. — Gente, eu já vou. Preciso comer alguma coisa e tomar um banho.
— Vai lá, sujinha. — Provocou o Jadson.
Dei língua para ele e me despedi do pessoal.
Chegando no meu alojamento, resolvi contar para o Nathan o ocorrido. Liguei para ele e pedi que viesse me ver. Ele concordou de passar no meu quarto, depois de eu jurar umas quinhentas vezes que a Rosa não estava lá.
Assim que ele chegou, pulei em cima dele e contei a novidade.
— E sabe o melhor? O Theo também participa! — Falei feliz.
— Lila... você não está gostando do Theo... está? — Perguntou o Nathan.
— O-o q-que? C-claro que não. — Falei ficando vermelha. — Ele é só um amigo.
— Você me pareceu mais feliz pelo fato de que ele vai estar lá, do que com o próprio programa em si.
— Nada a ver, Nathan. É só que eu vou ter companhia. Não vou precisar ficar lá sozinha. E você sabe como sou tímida...
— Nem vem, Lila. Você sempre usa sua timidez como desculpa, mas você faz amigos mais rápido que a velocidade da luz. — Nós rimos.
— É porque sou fofa, e as pessoas querem falar comigo. — Brinquei.
— Tá se achando demais, mocinha. — Ele me empurrou de lado.
Nó ficamos rindo, até a bochecha doer. Então, ele parou e olhou para mim, sério.
— O que você sente pelo Theo?
— Ele é só um amigo. Nossa, quando você põe uma coisa na cabeça...
— Te conheço, senhorita Lila. Acho que melhor do que você mesma, pelo que parece.
A porta se abriu nessa hora.
Rosa entrou e parou. Olhou de mim para o Nathan, e do Nathan para mim. Nós estávamos sentados na minha cama. Ambos encostados na parede.
— D-desculpe. Não tive a intenção de interromper. — Falou a Rosa, sem jeito.
O Nathan ficou em pé em um pulo. Ele estava todo vermelho. Deu um ''oi'' trêmulo para a Rosa, inventou qualquer desculpa e saiu do quarto praticamente correndo, batendo a perna na porta, por acidente.
A Rosa, assustada, olhou para mim e disse: — Ué, eu fiz alguma coisa de errado?
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Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...