Capítulo 15 - Meu porto seguro

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Na manhã seguinte, acordei pensando estar atrasada para a aula. Já tinha tomado banho e me arrumado, às pressas. Estava prestes a sair do quarto, quando a Rosa chega. Ela ainda estava arrumada com a roupa do dia anterior. Pelo visto, passou a noite fora no One Kiss.

Já ia perguntar se ela ia faltar as aulas, quando meu cérebro começou a funcionar: A festa foi na sexta, Rosa passou a noite fora lá, então hoje era...

— Sábado! — Gritei.

— Quê? AAH! Que susto, Lila. — Diz Rosa com a mão no coração. — Ah, já que está acordada, pode, por favor, me explicar o que houve ontem? Só escutei os rumores. Ainda não estou acreditando...

— Desculpa, Rosa. Juro que te explico alguma outra hora, mas estou sem paciência agora. — E saindo do quarto, avisei — Vou dá uma volta. Beijos.

Fui caminhando lentamente pelo campus, sem rumo. Não tinha nada para fazer hoje, já que meus pais iam passar esse fim de semana na casa dos meus avós. A noite passada parecia um borrão na minha cabeça. As imagens passavam rápido, só via cores, risos, o Guto tentando me beijar, eu dançando com o Theo, depois um caderninho, música, um beijo, depois uma náusea. Minha cabeça ainda doía um pouco, como se eu estivesse bebido bastante ontem. Pior que não ingeri uma gota de álcool. Lembro de ter vomitado quando cheguei no meu dormitório.

Como é possível que alguém possa realmente passar mal pela confusão na mente?

Devo ser muito fraca mesmo...

Vaguei sem direção, caminhando lentamente, sentindo a brisa suave no meu rosto. Fechei os olhos, o vento brincava com meu cabelo. De repente, eu sabia exatamente o que eu queria fazer.

Bati na porta do seu dormitório, meio constrangida, pela noite de ontem.

A porta se abriu e revelou um menino moreno, de sorriso largo, com a cara inchada de sono.

— Desculpe, Jadson. Eu te acordei?

— Tudo bem, Lila. — Ele disse bocejando — Nathan ainda está dormindo.

— Eu o acordo. — Deu um sorriso amarelo para o Jadson.

Entrei no quarto e fui em direção a cama do Nathan, ele estava deitado ainda com a roupa de ontem.

— Ei, sujinho! Vai tomar banho. — Sussurrei, cutucando ele.

Ele resmungou algo e virou para o outro lado da cama, o que me fez rir.

— Nathan! Você foi reprovado no estágio! — Falei um pouco mais alto.

— Quê?? — Ele se levantou em um pulo.

Jadson começou a gargalhar abertamente — Valeu, Lila. Agora já sei como acordá-lo. — Ele disse contente.

Nathan me olhou confuso e finalmente entendeu que era só uma brincadeira.

— Não acredito que caí nessa de novo. Você usa essa desde que entrei na faculdade — Diz Nathan com sono.

— Pois é. Fazer o que? Não há ninguém que te conheça melhor do que eu. — Abri um sorriso pela primeira vez no dia.

Nathan me olhou por um tempo e parece que só então se lembrou da noite passada.

— Como você está, pequena?

— Bem... — Apontei pro Jadson com os olhos — Podemos nos falar em outro canto? — Falei baixinho. Apesar dele ser meu amigo, não queria que ouvisse a nossa conversa.

— Claro. Vou só tomar um banho. Te vejo lá em baixo em 10 minutos. — Ele disse, já se levantando.

— Precisa mesmo de um banho, cascão.

Ele me mostrou a língua.

— E não esqueça de escovar os dentes. — Disse brincando, já saindo do quarto.

Fiquei esperando o Nathan em uns banquinhos de frente para o lago da Focus. Era relaxante observar o vai e vem da água.

Logo, Nathan chegou com duas coca-colas e um pãezinhos de queijo.

— Aposto que ainda não comeu nada. — Ele disse, sentando do meu lado e me entregando uma latinha.

— Açúcar logo de manhã cedo? — Indaguei.

— Não conte pra sua mãe, ou ela nunca mais vai confiar em mim. — Ele disse sério.

Fiquei rindo do seu comentário, porque geralmente, quase sempre, minha mãe liga para o Nathan para saber se eu realmente comi alguma coisa, se não estou mentindo. Quando saímos, ela fica super tranquila, pois sabe que o Nathan vai me empurrar comida. Acho que é por isso que ela não tem me ligado tanto nesse semestre, ela sabe que ele também é da Focus.

Depois de um tempo rindo e comendo, ele me abraçou e tornou a fazer a mesma pergunta que tinha feito antes.

— Como você está, pequena?

Me afundei no peito dele e, por algum motivo que nem eu mesma conhecia, comecei a chorar baixinho. Eu realmente estava precisando de um abraço.

— Sabe, ontem quando você foi embora, eu pensei em correr atrás de ti. — Ele falava enquanto fazia carinho na minha cabeça — Mas, achei que você precisava ficar um tempo sozinha. Precisava de espaço.

— Acertou, como sempre. — Disse enxugando uma lágrima.

— Own, pequena, não fica assim. Vem cá! — Ele me colocou, sentada, entre as pernas dele, como se eu fosse uma criancinha.

Eu amava isso nele. A forma como ele me fazia sentir. Eu podia ser infantil, sem me sentir ridícula, ele não iria me julgar. Eu sempre estava protegida em seus braços. Sempre que acontece algo ruim, ou preciso de alguém, é a ele que eu vou. É a primeira pessoa que vem na minha mente.

— Eu estou gostando do Carlos, Nathan. — Ele me olhou, espantado. — M-mas... também estou gostando do Theo. — Escondi minha cabeça em seu peito, mas agora por vergonha.

— Você só se mete em roubada. Depois eu tenho que ficar te adulando. — Ele brincou comigo, fazendo cócegas de leve na minha barriga.

Eu ri.

— Você sabe que não sinto cócegas. — Disse ainda rindo.

— Então, por que você está rindo tanto, hein?! — Ele disse, me cutucando ainda mais.

— Porque eu tenho o melhor amigo do mundo.

Ele se surpreendeu com meu comentário. E, então, completei.

— E, o mais chato. — Então, peguei a chinela dele e saí correndo.

Ele correu atrás de mim. Parecíamos dois loucos, correndo pelo campus vazio.

Ele finalmente me pegou e eu joguei a chinela dele em uma árvore.

— Muito maduro de sua parte. — Disse ele, rindo muito. — Agora, você quem vai pegar.

— Eu mesma não. — Brinquei.

Assim, ele me segurou pela cintura e me levantou contra a minha vontade e fiquei pendurada em um tronco.

Gritei horrores com ele, até que desisti e resolvi pegar logo essa bendita chinela.

Joguei para ele, lá em baixo, e falei — Agora, pode me tirar daqui.

Ele riu e me tirou, me pegando no colo.

— Sorte sua, eu não estar com a minha varinha aqui. — Ameacei.

— Ia fazer o quê? Jogar um Avada Kedavra? — Ele me desafiou. — Você me ama!

— Até parece. — Mostrei a língua pra ele.

Voltamos para o nosso banquinho, rindo bastante.

Finalmente, resolvi perguntar.

— Nathan... você acha possível eu gostar deles dois ao mesmo tempo?

— Gostar sim, Lila. Agora, estar apaixonada... não.

Aconteceu na faculdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora