Os dias se passaram e eu recebi outros bilhetinhos como o primeiro. Dessas outras vezes, o autor misterioso os deixou no meu armário do corredor do bloco. Não contei pra ninguém sobre esses outros. Perguntei sobre o primeiro recadinho, mas o Carlos disse que não foi ele. E, ele não gostou nada de saber que eu tinha um ''admirador secreto''.
Após a aula, meu grupinho se reuniu no pátio, como sempre, mas dessa vez estavam todos muito empolgados. Parece que finalmente, depois da gente insistir muito, mais muito mesmo, o Theo resolveu trazer o violão e tocar uma música pra gente.
— Só aceitei tocar pra vocês porque não quero ser excluído do grupo. — Disse o Theo, chegando com o violão em uma das mãos.
— Até parece. Você é o cara mais enigmático de toda a Focus. — Falou o Guto, que estava conosco hoje.
— Isso mesmo. Nós somos os ''tops''. Pois, você anda com a gente. — Brincou o Jadson.
— Verdade. Não quero deixar de sair distribuindo os meus autógrafos por aí. Seria constrangedor. — Érica entrou na brincadeira.
— HAHA, vocês são muito engraçados. — Ironizou o Theo.
— Anda, toca logo. Você é um mito universitário na música. — Insistiu Guto.
O Theo sorriu meio tímido e olhou pra mim. Eu sorri em sua direção. Então, ele ajeitou a posição do violão e começou a tocar uma música do Ron Pope, A Drop in the Ocean.
Sua voz era suave e melódica, enquanto seus dedos dedilhavam nas cordas do instrumento. Ele tocava olhando para baixo, fechando os olhos, como se realmente fosse algo só dele. Uma rouquidão se aprofundava em sua voz quando ele chegava na frase que fala sobre desejar poder ficar junto. Quando ele chegou no refrão da música, sua voz ganhou uma intensidade tão verdadeira que eu me arrepiei. Ele levantou a cabeça e me olhava na parte final da música que falava sobre se apaixonar por uma mulher que parece uma garotinha.
Eu fui transportada por suas palavras e melodia. Imaginava esse paraíso e como ele não está tão longe como se esperava.
Sem perceber eu também estava o encarando, perdida em seus olhos cinzas, tristes, carregando toda a verdade e o peso da música.
A música acabou e todos estavam nos olhando. A Érica pareceu um pouco incomodada com aquilo e foi a primeira a elogiar o talento do Theo, quebrando o nosso transe.
Acho que todos notaram nossos olhares, mas ninguém comentou nada. Ainda bem. Eu não sabia o que estava acontecendo entre nós. Acho que a música nos conectou, de alguma forma.
— Cara, você canta muito. — Disse o Guto, totalmente entusiasmado. — Não acredito que você e o Carlos desfizeram a banda. Com certeza, faziam muito sucesso. Tou chateado por nunca ter ido a nenhum show. Devia ter conhecido vocês na época do colégio.
— Vocês desfizeram a banda? — Perguntei, surpresa.
— Não era nada demais. Coisas de jovens sonhadores. Ainda tocamos juntos, ensaiamos, mas só para nós mesmos. Na época, queríamos sobreviver somente com nossa arte. — Ele deu um sorriso nostálgico.
— Bom, eu amei! Você devia cantar sempre, Theo. — Comentou a Érica, segurando o braço dele, já que estava ao seu lado.
Por algum motivo, desviei o meu olhar.
Passei o resto da tarde estudando na biblioteca, logo as provas iam começar e eu queria estar preparada para elas. Não queria que meus pais pensassem que fiquei relapsa nos estudos só porque estou tecnicamente ''morando sozinha'', como eles gostam de dizer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...