Pedir o perdão do Carlos era o mínimo que eu poderia fazer depois de tudo que fiz ele passar. Mas, quem mandou ele fazer declarações públicas? Nunca se sabe o que pode acontecer...
Ele estava me olhando de forma curiosa. Acho que foi a primeira vez de todo o nosso diálogo que ele realmente me olhou, de verdade. Talvez ele não esperasse o meu pedido de desculpas, pois ele parecia... contrariado...
— Claro que te perdoo. Você não tem culpa de não sentir o mesmo que eu. — Ele falou friamente.
— N-não é isso... Eu só... e-er... — Não sabia como explicar que estava confusa entre ele e o seu melhor amigo.
— Não, Lila. Eu já disse que tudo bem. Foi só uma fase, já passou. — Ele encarou o chão e sussurrou mais para si mesmo — Eu que fui burro o suficiente para me expor, de novo.
Tentando tocar seu ombro, falei depressa — Você não foi burro. Eu que fui totalmente insensível e sem coraç..
— Já chega, tá bem? — Ele me interrompeu, afastando a minha mão e alterando a voz.
Arregalei meus olhos, que se encheram de lágrimas instantaneamente. Sou uma bobona, ninguém pode levantar a voz comigo que já fico estarrecida e amedrontada. Acho que tenho um pouco de pavor, me encolho toda.
O Carlos notou meu retraimento e como me assustei com sua reação. Ele simplesmente respirou fundo e socou a árvore. Se desculpou e falou algo sobre nunca mais se apaixonar novamente. Depois saiu, sem olhar para trás. Me deixando lá, sozinha.
— Parabéns, Lila. Você conseguiu que ele erguesse mais uma vez os muros ao redor dele. — Briguei, baixinho, comigo mesma.
Sentei onde estava mesmo e fiquei ali, estática. Nem sei quanto tempo passei observando o nada, até me levantar e me arrastar até o meu quarto.
Andei pelo campus sem prestar muito atenção ao meu redor. Ia caindo duas vezes no caminho e me esbarrei em alguém. Pedi desculpa, sem olhar para a cara da pessoa, e continuei andando. Era como se tudo aquilo fosse surreal. Como se eu estivesse assistindo a tudo e não vivendo. Sei que é exagero para uma briga trivial, se é que posso dizer que foi uma briga...
Cheguei no quarto e a Rosa não estava, como sempre. Me joguei na cama. Estou tão confusa sobre os meus sentimentos. Fico avaliando os prós e os contras o tempo todo. Mas, eu sei muito bem que gostar de alguém não se resume nisso. Bem lá no fundo, eu sabia quem era a pessoa pela qual estava realmente apaixonada. Estava pronta para admitir para mim mesma? E, como fazia isso?
Perdida pela confusão dos meus pensamentos, peguei minha bolsa da festa de sexta atrás de um remédio para dor de cabeça. Foi quando senti algo estranho dentro da bolsa, então retirei um caderninho pequeno lá de dentro. Demorei uns segundos até me lembrar de quem era e o que estava fazendo ali. Era o bloco de notas do Theo!
Ele tinha pedido para eu entregá-lo o mais rápido possível na sala de aula, hoje cedo. Ele pareceu tão perturbado com a ideia de eu o ter lido, pensei.
Minha curiosidade começou a ser despertada. O que será que tem aqui que o Theo não quer que eu leia?
Estou com o bloco dele nas minhas mãos. Não tem ninguém vendo. Porém, não seria nada ético, e nem legal. Mas, por outro lado, ninguém precisa ficar sabendo...
— Meu Deus! Que indecisão. Nem isso consigo escolher?? — Falei alto, revoltada. Olhei para o caderninho mais uma vez — Quer saber? Chega de pensar. Vou ler logo isso. Quem sabe não me ajuda em algo?
Tirei o elástico que envolvia o caderninho e o abri, com cuidado. A primeira página era apenas com o nome do Theo e o seu número, caso ele perdesse e alguém encontrasse.
Fui passando as páginas e na maioria eram só letras de músicas que falavam sobre as palavras e as melodias. Apenas uma metalinguagem. Nada muito profundo, nada sobre sentimentos ou o seu coração. Fui passando as páginas, uma por uma. Aquela letra não me era estranha, tinha algo de familiar nela.
Comecei a prestar mais atenção naquelas letrinhas deitadas, como que escritas manualmente em itálico. Eram tão leves... Parecia que uma brisa suave tinha soprado sobre os versos dele.
Já no final das páginas, havia muitas coisas rabiscadas, incompletas e poesias sobre amizade. E o medo. Os poemas começaram a ficar mais intensos. Os mais recentes eram mais avassaladores. Alguns me chamaram mais a atenção.
Sabe aquele dia que você não parava de me olhar e eu ficava vermelho? Mesmo assim, eu não queria que você parasse.
Sabe quando neguei aquele beijo? Ele era tudo o que eu mais queria.
Seguir o coração nem sempre é uma boa opção, mas acho que vou tentar - eu quero tentar. Mas, o medo, às vezes é mais forte e eu me encontro perdido outra vez...
Mais uma vez.
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Tive tudo o que quis. Nunca quis mais do que eu tinha. Mas, eu queria te ter, mesmo sabendo que não podes ser minha. Ah! Como eu queria... Em um sonho acordado pareço flutuar. Vendo as ondas e as areias onde não havia mar. Morrer de amor? Talvez!
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Je n'arrive plus à me contrôler. Je n'ai plus la force de rester loin de toi. Mais, c'est très difficile d'être si proche et de ne pas faire ce que je veux tellement faire. Ne pas faire ce que je ne cesse de rever de faire. Et je suis jaloux...
(Tradução: Não estou mais conseguindo me controlar. Não tenho mais forças para ficar longe de você. Mas, é muito difícil estar tão perto e não fazer o que quero tanto fazer. Não fazer o que vivo sonhando em fazer. E estou com ciúmes...)
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Inevitável é não sentir o que insisto em não dizer.
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Lendo essas poesias dele, senti um choque percorrer todo o meu corpo e, na hora, me lembrei das poesias que vinha recebendo durante todo o semestre, no meu Bloco, no armário do corredor. Era a mesma letra, o mesmo estilo, a mesma paixão. O mesmo admirador. O mesmo poeta. O mesmo... Theo?
Pensei que aquilo fosse me ajudar a escolher entre os dois, porém só embaralhou mais a minha mente. Não devia ter lido o bloco de notas dele.
Eu invadi a sua alma e o seu coração, sem a devida autorização. E, depois de saber de tudo isso, como iria conseguir olhar para a cara dele e fingir que não sabia de nada?
Como algo pode ser como era antes?
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Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...