Capítulo 17 - Amiga ou inimiga?

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Após me empurrar para dentro de uma sala vazia, Juliana veio rápido em minha direção, falando baixinho para as pessoas não nos escutarem, dos corredores.

— Você tinha que aparecer pra estragar tudo, não é? — Disse ela, apontando um dedo na minha cara.

— M-mas, o que foi que eu fiz? Espera, estragar tudo...? — Eu não estava entendendo nada dessa situação, mas não a via zangada assim desde os meus 12 anos, quando o Nathan preferiu brincar comigo ao invés de ficar em casa com ela.

— Você sabe do que estou falando... Carlos! Eu já estava quase o conquistando, aí você chegou e estragou tudo. — Ela me olhou irônica e começou a imitar uma vozinha debochada — Tinha que ser a Lila, a perfeitinha, todos amam a Lila. E a Juliana? Quem se importa com ela? Ninguém!

— Juliana, para com isso. Você sabe que nada disso é verdade. — Eu falei sem paciência.

— Ah, não? Até meus pais preferem você. — Ela falou com a voz embargada.

— Isso é mentira. Eles te amam. — Não acreditava que ela ainda tinha ciúmes de mim. Depois de todos esses anos...

— Amam? Sabe, esse final de semana eu fui pra casa. Já faziam 2 meses que eu não os via. E, sabe a primeira coisa que me disseram?

Fiz um não com a cabeça.

— Pena o Nathan não ter vindo. Mas, pelo menos ele está lá com a Lila. Que saudade dela. Ela sim devia ter vindo nos ver. — Falou ela, imitando a voz do pai.

— Juliana... eu...

— Não quero que você diga nada. Só vim aqui te avisar. Você pode tirar todos de mim. Todos! Mas não o Carlos. Você sabe que ele sempre foi meu. — Ela gritava baixo, já querendo alterar a sua voz.

— Espera! Seu? E-ele é aquele meninozinho que sempre vinha passar as férias perto de onde morávamos? Que brincava com você no parquinho? Você sempre falava assim, que ele era seu... Que mundo pequeno... — Constatei surpresa.

— Pois é, na época eu confiava em você. Ingenuidade da minha parte.

— Juliana... nos éramos amigas. E, ainda podemos ser... — Disse tentando tocar nos ombros dela.

Ela se afastou de mim.

— Está avisada: Fique longe dele.

— Eu pensei que você estava interessada no Di... — Pensei em voz alta.

Nessa hora, a raiva tomou conta dela. Não sei o porquê. Ela se virou e me empurrou contra a parede. Levantou o braço para me bater, mas eu o segurei.

— Quer mesmo brigar comigo de novo? Nós duas sabemos quem é mais forte. — Arqueei uma sobrencelha.

Ela se soltou das minhas mãos e se recompôs. Foi em direção a porta da sala. Olhou para mim uma última vez e disse.

— O aviso foi dado, AMIGA! — Ela enfatizou essa última palavra, abriu a porta e sumiu antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa.

Fiquei um tempo parada ali, absorvendo tudo o que tinha acontecido. Eu nunca quis causar inimizade na Juliana. Sempre procurei ser agradável com ela. Muitas vezes, queria ser aceita pelo seu grupinho. Ela passou a ser minha amiga durante um tempo, mas desde que o Nathan preferiu ficar comigo do que com ela... Bom... Ela nunca me perdoou por isso. Nunca poderia imaginar que o garoto sobre o qual ela me falava todas as tardes, era o Carlos. Lembro-me que ela já planejava o seu casamento desde aquela época. Quando ele deixou de ir para nossa cidade, imagino que tenha ficado arrasada, mas já não éramos mais amigas.

Saí da sala envolvida nos meus pensamentos nostálgicos. Sempre fui vizinha da família Clifford e, claro, como toda criança, brincava com os da minha idade o tempo todo: o Nathan e a Juliana. Nossos pais ficaram amigos. Éramos, ou melhor, somos praticamente uma mesma família. Mas, eu acabei me afastando mais da linda menina de cabelos dourados. Nunca entendi porque ela não gostava de mim...

Hoje em dia, consigo entender um pouco melhor, mas ainda não caiu a ficha dela ter qualquer tipo de ciúmes ou inveja de mim. Foi ela que sempre foi linda, que sempre teve tudo o que quis. Eu sempre fui desajeitada e estranha, e minha família tinha bem menos condições do que a dela.

Já saindo do bloco, em uma árvore ao longe, avistei um pontinho vermelho e não tive dúvidas de quem era.

Hesitei um pouco, pensando se deveria ir até lá. Realmente eu não queria magoar a Juliana, mas não posso deixar de viver ou de falar com meus amigos por causa da loucura dela. Respirei fundo e fui em sua direção.

Quando cheguei perto senti um mal cheiro, foi quando notei de onde vinha.

— C-Carlos? V-você fuma? — Sem querer julgá-lo, mas o olhei com um pouco de repulsa por isso. Odiava o cheiro de cigarro.

Ele apenas me olhou, não parecia surpreso de me ver ali.

— V-você está com r-raiva de mim? — Perguntei com receio da resposta.

Ele não me respondeu. Apenas virou a cara e ficou olhando o outro lado do campus.

— Será que dá pra parar?? — Disse, me colocando na frente dele, olhando-o brava, e tirando a fumaça da minha cara.

Ele suspirou e apagou o cigarro. Finalmente.

— O que você quer saber? Tinha parado de fumar e voltei agora. Não, não estou com raiva de você. Por que ficaria? Só por que você me deixou lá sozinho, com todo mundo olhando? Ou por que você nem se importou em vim saber como eu estava? Eu abri meu coração pra você e você pisou nele. — Ele falou tudo isso de uma vez, sem pausa. Depois olhou para minha cara surpresa e deu de ombros. — Tanto faz, se você quer saber.

Eu estava sentindo um aperto no meu coração. Eu sabia que não deveria tê-lo deixado lá. Eu não estava pensando direito na hora.

— Me desculpa, Carlos. Será que um dia você vai me perdoar?

Aconteceu na faculdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora