"Cuidar!"
"Proteger!"
"Ferida!"
"Rápido!"
As sombras formam um redemoinho ao meu redor, extremamente agitadas, nunca as vi ou senti assim. Agoniadas, quase sinto uma dor física com a bagunça que fazem ao meu redor, me desorientando.
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Azriel vê...
Acordo em meio aos sussurros desesperados das sombras ao meu redor. Elas escorriam para fora da cama como uma cachoeira negra.
"Vá! Ela precisa de nós"
Elas berram praticamente me expulsando da cama. Tenho certeza que se pudessem se materializavam e me empurravam. Levanto com um pulo já empunhando a adaga que estava sob meu travesseiro.
Ao sair do quarto vejo que as sombras já se esgueiravam por baixo da porta do quarto onde a fêmea estava. Nem me preocupo em bater à porta, apenas entro.
Puro pânico exala das sombras. A fêmea se debate durante o sono, provavelmente tendo um pesadelo, ela berra a plenos pulmões e aquele som quebrou alguma parte de mim que eu nem sabia que existia. Com as barreiras de som nos quartos, imposição de Theron assim que teve idade suficiente para entender o que eram os barulhos que os pais faziam na madrugada, provavelmente ninguém mais a ouvia gritar, apenas as sombras a sentiram.
Eu preciso tirar aquela agonia dela. Preciso acalmá-la. Vou até a cama e a envolvo nos meus braços. Parece que uma descarga elétrica me percorre, mas ao mesmo tempo eu me sinto bem, como se algo estivesse certo em todo aquele caos em forma de pesadelo.
-Calma. - sussurro enquanto a embalo - Você está a salvo. Nada pode atingi-la aqui.
Me lembro da canção que minha mãe cantava quando me visitava na cela e começo a cantarolar para a fêmea. Aquela canção sempre me acalmava. Vale a pena testar.
Sob o luar e o brilho das estrelas...
O caminho se abre...
A verdade e a paz estão ao final dele...
Nada te atingirá...
A estrela da Mãe te guiará...
E um novo alvorecer você vai encontrar...
Aos poucos sinto os tremores diminuindo, a respiração voltando a pesar e automaticamente as sombras também se acalmam.
Observo, agora com mais tempo, o rosto da fêmea. Linda! Me arrisco a dizer que seja a fêmea mais bonita que já vi em toda a minha existência. Em momento algum ela acorda. Como eu queria ver os seus olhos abertos para saber de qual cor seriam. Ela teria um olhar que me afogaria de tanta intensidade ou o seu olhar me traria a paz que o seu toque proporciona? O que diabos está acontecendo comigo? Porque ela me intriga tanto?
Ao menor dos meus movimentos os longos cabelos dourados, quase brancos de tão claros, escorrem pelos ombros da fêmea para suas costas e reparo nas orelhas. São redondas como as minhas! Surpresa me percorre. Qual é a sua espécie? De onde você vem?
-Durma - volto a deitá-la na cama - Tenho tanto o que descobrir sobre você. - falo acariciando sua bochecha e tendo a certeza que não voltarei ao quarto que estava.
Me acomodo da melhor forma possível no sofá ao lado da cama que ela ocupa e a observo durante seu sono. Preciso estar perto dela para ampará-la em outra onda de pesadelos, se for necessário. Uma coisa é certa, tenho a impressão que pequenas coisas nela me marcarão para sempre.
Só percebo quanto tempo se passou quando sinto o calor dos primeiros raios de sol atingir o meu rosto. Estava amanhecendo.
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