Corte de Memórias Perdidas

CAPITULO 52

POV Azriel

A energia ao nosso redor era um misto entre expectativa e nervosismo. Observo a multidão espalhada nas arquibancadas. Famílias e amigos dos recrutas que se aglomeram no centro da arena alguns metros abaixo de nós. Machos e fêmeas com macacões táticos pretos, com a insígnia dourada do império no lado direito do peito. Apenas a tatuagem dourada no pulso adorna os braços, pernas e pescoços expostos. A marca do compromisso com o rito que hoje tem o início da sua fase final de preparação. Hoje é o primeiro dia do mês antes da Iniciação do exército Olympiano.

Reparo na tensão do meu irmão ao meu lado, os sifões vermelhos brilham de tempos em tempos, reflexo da confusão de sentimentos que passa por ele. Seu olhar focado no centro do espaço à nossa frente, onde Nestha, Emerie e Gwyneth estão em pé de mãos dadas e observando o ambiente deslumbradas. As entendo bem, o Pantheon é algo espetacular, um misto de história dos antigos e magia que resiste em meio a este reino tecnológico. O mármore branco esculpido ao nosso redor se mistura com metais dourados e pratas que adornam os pilares e colunas. À frente de todos os recrutas, um patamar simples e alto da mesma pedra branca lisa se estende até chegar ao fundo onde um arco de pedra preta, que parece sugar a luz do ambiente, se abre para a Floresta das Almas que neste momento está silenciosa. Como se espreitasse e aguardasse a carnificina que se desdobraria ali em trinta dias. Cinco estátuas flanqueiam o arco, os cinco deuses têm uma mão erguida no ar, como se eles estivessem na iminência de fincar algo no chão, mas o olhar rígido e determinado está virado para os recrutas. Sempre vigilantes.

-Bonito, né?

Olho para o meu outro lado e vejo uma jovem feérica me observando, deve ter quinze anos ou menos. As veste simples, mas elegantes. Os olhos enormes e curiosos. 

-Devo admitir que estou impressionado com tudo isso.

-Imaginei, meu príncipe. - ela faz uma pequena reverência com a cabeça. Vejo o movimento sendo repetido pelos dois adultos atrás dela, provavelmente os pais, que me observam com admiração e espanto ao mesmo tempo. Tenho que me acostumar com isso, afinal aceitei ser príncipe consorte dessa nação. - É a sua primeira vez no Pantheon, correto? Eu vi uma reportagem hoje cedo em que Vossa Alteza aparecia junto à princesa Thyra no evento de ontem à noite. Dizia que era o seu primeiro evento oficial. - ela me mira com olhos dourados.

-Digamos que seja a minha primeira vez em tudo que diga respeito às cerimônias do império. - tento ser o mais amigável e calmo que posso. Sei como posso ser assustador ainda mais para jovens. - Poderia nos ajudar a entender melhor, ...?

-Atia, meu príncipe. - ela cora levemente. - Meu nome é Atia. Vocês estão aqui apenas para acompanhar e compreender nossa cultura?

-Minha parceira está lá embaixo. - Cass fala ao meu lado, a voz tensa demais.

O sorriso da pequena feérica se alarga, as pinturas no rosto bronzeado parecem vivas com esse movimento.

-Pois ela é muito especial e honrada. Escolher cortar a fita demonstra muito caráter e dedicação. Kampen vil være tøff, men ære vil belønne. "A batalha será dura, mas a glória recompensará." - puro orgulho envolve cada palavra dita por ela.

-A parte da batalha que me assombra um pouco. - meu irmão desvia o olhar para a garota. - Ela é forte e derruba meio mundo, porém eu não estarei lá com ela.

-Mas ela estará com os irmãos e irmãs. - ela aponta os recrutas com as mãos. - Os próximos trinta dias tem esse propósito. O objetivo não é treinar técnicas de luta ou armas, mas sim torná-los uma família. Que se protege e cuida de seus membros. - ela o olha com carinho. - Você não estará lá, mas ela não estará sozinha. Beskytt og server. - ela bate com um punho no peito. - "Proteger e servir" não é o lema de Titãs e Valquírias a toa. Lealdade corre nas veias dos que cortam a fita.