POV Azriel
Rhysand está empertigado, sentado na poltrona com Feyre aconchegada no braço da mesma. Sinto sua raiva daqui, minhas barreiras mentais estão bem levantadas. Ele já vem tentando entrar em contato comigo há algum tempo, mas eu ainda não o permiti. Ele me lança olhares de tempos em tempos. Raivoso, completamente indignado com a minha revolta. Por não ter obedecido. Que seja!
Não me arrependo de nada que disse ou como agi. Ainda mais agora com tanto sangue na minha roupa e nas mãos. Sangue da fêmea que ele quase deixou morrer. Inferno! O pior é que nem consigo culpá-lo, eu normalmente seria o primeiro a carregá-la para uma sala de interrogatório na corte dos pesadelos do que para o meu quarto, mas as minhas sombras... Nunca as vi assim e elas jamais erram, confiava a minha vida a elas, se estou vivo até hoje é por conta delas. E elas a queriam protegida e cuidada.
-Como ela conseguiu furar as barreiras? - Amren andava de um lado para o outro no meio da sala - Ela furou as barreiras de Velaris e da casa do vento! - falava mais para si do que conosco. Eu até conseguia ver as engrenagens girando naquela cabeça milenar.
-Não sei se o fez conscientemente, tia - Nyx arrasta propositalmente a última palavra. Esse macho não tem amor às próprias bolas.
Amren não me decepciona. Pára e se vira lentamente para ele. Soltaria fogo pelas ventas se o seu poder ainda estivesse no máximo.
-Jamais me chame assim! - puro veneno escorre pelos lábios do pequeno monstro - Eu não sou tia de bebês ilirianos mimados. Me respeite!
Apenas vejo o balançar dos ombros do príncipe da noite, se divertindo às custas dela.
-Erro meu. - fala colocando a mão no peito e reverenciando falsamente a anciã - Mas continuando, ela estava desacordada quando caiu no ringue.
-Ou pode ter gastado a última gota de poder para atravessar até aqui. - Nestha fala do sofá que divide com Cass e Mor, ela definitivamente não estava feliz com a intrusa em sua casa, a cara mais fechada a cada segundo e a inquietação com as mãos deixava isso muito claro.
Ignoro tudo isso e me desencosto da parede à qual estou quase fundido ao sentir Madja se aproximar do portal da sala, limpando as mãos ensanguentadas em panos. Ela parece cansada depois de quase três horas no meu quarto junto à fêmea. Seus ombros estavam tensos e sentia sua cabeça latejando daqui. Ela pediu que buscássemos mais três curandeiros e estavam até agora sozinhos com ela. Ninguém permaneceu lá, inclusive minhas sombras, que se adensam ao meu redor a cada segundo longe da fêmea repetindo palavras raivosas, como se fosse um absurdo serem proibidas de estarem com ela.
Puxo uma cadeira em sua direção, ela me olha com gratidão e acena brevemente a cabeça em reconhecimento.
-Tudo isso é estranho. - ela sussurra ainda olhando para as mãos, como se repassasse mentalmente as informações e as organizasse para nos contar.
-Como assim, Madja? - Feyre se levanta de onde está, caminhando até estar ao seu lado e segurando suas mãos. Madja pisca, como se acordando de um transe e olha para a grã-senhora.
-Nunca vi nada como ela. - fala se recompondo e olhando os demais - A estrutura física parece grã-férica. Tem os mesmos órgãos, mas a composição é levemente diferente. Por isso pedi mais curandeiros, não sabia ao certo se as minhas habilidades funcionariam da mesma forma e precisava de outros olhos e opiniões. - ela foca seu olhar em Rhysand - Obrigada por retirar os grilhões. - ele o fez a contragosto sob meu olhar de ameaça, mas os retirou - Era o que mais a machucava. Ela... e-ela... - Madja respira profundamente e engole a seco antes de olhar novamente para Feyre - Ela foi torturada por muito tempo, meses no mínimo. Mas pela profundidade e brutalidade das marcas, anos seria uma estimativa mais precisa. - aquela informação faz o meu sangue correr mais forte, quase sinto minhas mãos coçando para puxar a reveladora da verdade. Quero, não, eu preciso de nomes para torturar. O que diabos está acontecendo comigo? - Ela tinha feridas sobre feridas, machucados feitos por magia que não cicatrizaram por conta das algemas, até os ossos tinham marcas antigas de tortura. E a quantidade de veneno de sangue que retiramos do seu corpo mataria pelo menos dez ilirianos adultos. - silêncio sepulcral rondava a sala, sentia as fêmeas se arrepiando e os machos se enojam com tamanha barbárie. Olho em direção a Rhys e ele está com o olhar perdido além das janelas da sala. A vida ao lado de Amarantha deve estar batendo nas paredes da sua mente - Fisicamente ela está bem agora, precisa de repouso e se alimentar propriamente e creio que logo estará bem. - ela dá um leve sorriso - Não sei precisar quanto tempo dormirá, pode ser um dia ou semanas, visto que não sabemos exatamente o que ela é. - por fim ela respira fundo - O que de fato me preocupa não é isso.
-O que seria então? - Nestha a interrompe bruscamente, quase impaciente. Tenho vontade de mandá-la calar a boca, mas vejo quando Cassian a repreende com o olhar e possivelmente via laço também.
-O psicológico. - Madja fala não se abalando pela interrupção - Alguém que passa por tanto pode ter a mente afetada ou pior. - olha diretamente para a parceira de Cass que engole em seco. Sobre traumas psicológicos ela entende bem.
-Madja, muito obrigado pelos seus serviços e dos seus auxiliares. Theron a acompanhará novamente. - Rhys fala massageando a têmpora.
-Me chamem assim que ela despertar. Quero examiná-la novamente.
-Claro! Nós a convocaremos assim que ela abrir os olhos. - Freyre dá o seu melhor sorriso de gratidão. - E mais uma vez muito obrigada.
Aos poucos todos do círculo foram se retirando da sala até estarmos apenas eu e meus irmãos. Eu estava sentado no lugar que antes Madja ocupava, observava atentamente o copo de whiskey na minha mão, bem como o sangue que ainda estava ali e refletia sobre tudo o que aconteceu.
-Az. - levanto o olhar para encarar meu irmão, agora com uma taça de vinho nas mãos e o semblante cansado - Me perdoe! Entenda que ela significa um risco à corte.
-Eu sei disso, Rhys. Não o culpo. - era a mais pura verdade - Você apenas quer a segurança da nossa casa e da nossa família. - percebo os músculos da sua face relaxando - É só que as sombras... - olho por sobre os meus ombros - Nunca as vi assim.
-Assim como? - Cass pergunta recostado com a lateral do corpo no portal da sala.
-Elas estavam desesperadas! Completamente enlouquecidas para ajudá-la. Como se fazer isso fosse o único propósito de sua existência.
-Isso não significa que ela não seja um perigo. - Nestha fala chegando e parando ao lado do parceiro e me observando.
-As sombras nunca colocariam Az em perigo de vida. Se ele está vivo é por causa delas. - Feyre se pronuncia passando pelo portal em direção a Rhys.
"Sábia grã-senhora" elas sussurram ao meu redor "Protegemos o mestre"
-Se a incomoda tanto, podemos realocá-la no palácio de pedra da lua, Nestha - Rhys oferece - Não precisa ficar com ela dentro da sua casa.
-Não será necessário. - olho incrédulo para a Archeron mais velha. Ela estava até agora repudiando a fêmea.
Eu particularmente preferia movê-la para outra localidade. Até a levaria ao meu apartamento, mas acho que Fey e Rhys não me permitiriam levá-la para Velaris por enquanto.
-O que a fez mudar de ideia? - ao que parece Cassian também não compreendia a mudança súbita de pensamento da parceira.
-A casa! - ela gesticula abrindo os braços - Ela também a acolheu, assim como as sombras de Az. - pura derrota ronda sua fala - Eu e Amren fomos ao quarto para vê-la e assim que nos viramos para sair, a casa conjurou um novo cobertor e suavizou as luzes feéricas. Até as cortinas ela fechou lentamente para não perturbar o sono da fêmea. Ela não a considera um risco. Ouso dizer que gosta dela. - fala conformada - Esta casa me salvou no meu pior momento, se a casa confia nela, eu também vou dar esse voto de confiança. - suspiro aliviado - Você também, Az! Se quiser pode ficar em um dos outros quartos.
Minhas sombras se agitavam de felicidade, cantando alegres ao meu redor. Eu me contive e apenas assenti para minha cunhada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corte de Memórias Perdidas
Fantasy"Cuidar!" "Proteger!" "Ferida!" "Rápido!" As sombras formam um redemoinho ao meu redor, extremamente agitadas, nunca as vi ou senti assim. Agoniadas, quase sinto uma dor física com a bagunça que fazem ao meu redor, me desorientando. ----- Azriel vê...