016.𝕭𝖆𝖉

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Um som distante me desperta.

Abro devagar os meus olhos e a luz da televisão me ofusca por um momento. Levanto o braço bloqueando a luz e abro meus olhos por completo, olho ao redor e percebo que acabei dormindo na sala, que está frio para um caralho e com o som distante de chuva entendo a razão da temperatura cair tanto.

Quando tento me lembrar o motivo me recordo da Any mexendo de forma distraída no meu cabelo, lembro que ela estava aqui, e acima de tudo que eu não me lembrava de ter levado ela embora o que quer dizer que ela ainda está aqui.

Abaixo meu braço e devagar me viro para o outro lado encontrando Any deitada no meu sofá-cama dormindo tranquilamente como a boneca que ela é. Alguns fios estavam na frente do seu rosto e eu não pensei muito em esticar com cuidado minha mão e afastar elas até as colocar atrás da sua orelha com carinho.

Alisei devagar a bochecha quente e macia dela antes de recolher a minha mão quando percebi o que estava fazendo.

Passo a mão pelo meu cabelo e suspiro frustado.

Eu tenho uma garota incrível deitada ao meu lado e me odiava tanto por saber que as chances de estragar tudo, e acabar quebrando o coração dela eram de 99,9%. Isso era uma verdadeira tragédia.

Levanto devagar, olho para Any mais uma vez. Ela está toda encolhida no sofá, certamente por causa do frio, apesar disso ela aparenta estar dormindo muito bem e a sua expressão tranquila é capaz de me tranquilizar sobre tudo o que aconteceu desde que ela acabou aqui, assistindo Coraline comigo. Tudo soava como uma piada, nunca fiz nada do tipo com nenhuma garota e com ela foram várias coisas em uma cajadada só: um encontro, um presente, a minha infância, um filme de animação, quem sou e o que posso fazer.

Contorno o sofá e sigo o corredor com os olhos quase fechados para tentar manter meu sono por aqui, se eu o perdesse não o teria de novo pelas próximas horas sem sombra de dúvida. Entro no meu quarto e mexo no guarda-roupa até encontrar a manta que eu tinha ganhado da minha avó uma vez sabe se lá quantos anos atrás. Ela é enorme e daria para Any e eu. Minha avó certamente pularia de euforia se ainda fosse viva e descobrisse que o seu presente finalmente foi usado e não doado como os outros que eu acabei não usando. E pior, o que ela faria se soubesse que eu estava realmente dormindo com uma garota e conversando para valer.

Não consigo me conter no riso, minha avó descobrir sobre essas coisas certamente seria a pior coisa que poderia acontecer, ela certamente iria encher meu saco até conhecer Any, mas ao mesmo tempo seria bom ver ela orgulhosa do neto.

Mexo a cabeça e paro de pensar nessas possibilidades para lá de impossíveis. A coisa mais possível era que meu pai conhecesse Any, só que ele mora em outra cidade, o que tornava isso quase impossível a menos que eu fizesse a ele uma visita. O que não aconteceria visto que eu e ele mal conversamos.

Refaço o caminho até a sala, me sento no sofá com cuidado e cubro Any e eu. Penso em colocar um travesseiro debaixo da cabeça dela porém isso certamente a acordaria, então acabo deixando como está e sossego no intuito de observar a boneca bem ao meu lado.

Toco no cabelo macio dela, ele está ondulado, deslizo meus dedos pelas mechas e desço até a nuca dela acariciando seu cabelo gentilmente lembrando de como ela fez comigo. O corpo dela parece relaxar como sua respiração, ela está em sono profundo.

— Ah, boneca, o que vai ser de mim se eu acabar destruindo tudo? — Pergunto em um sussuro. Era óbvio que ela não me responderia. E nem eu. Sequer tinha ideia se havia feito a escolha certa. Era para tudo ser só mais um momento como todas as outras. Era para ser só mais uma lembrança curta e prazerosa.

Pego meu celular e mando uma mensagem para Sam.

Noah.
Any tá dormindo aqui.
 
Sam.
Defina o dormindo.

Bad Drug ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora