Capítulo 57- A força do Lobo

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As memórias de Jaguar, começam antes mesmo de ele ter despertado suas habilidades. Sua primeira memória vivida, é de estar nas costas de sua mãe, enquanto na frente dele é de seus irmãos, havia um enorme e raivoso gorila, nessa época, o primata era cuidado por um zoológico, mas acabou fugindo de lá e invadindo a flora local. A mãe do lobo guará tentou lutar contra o gigante primata, mas com apenas um soco do mesmo, a fêmea teve sua mandíbula arrancada e foi morta ali mesmo, o gorila logo começou a atacar e a matar os irmãos do Jaguar, um após o outro. Mas, quando chegou na vez do futuro adotado, algo estranho aconteceu, a vontade de viver e vingar seus irmãos e mãe, fez com que jaguar despertasse o seu poder espiritual, e como o primeiro primata que o mesmo viu em toda vida, foi aquele gorila, ele se transformou nesse animal. Na hora em que a mutação ocorreu, um longo e mortal embate teve início, quem começou atacando foi o lobo guará, que deu um soco de direita no queixo do primata assassino
— Aaaaahhhgggg!!!!
Gritou o canino, enquanto disparava mais e mais golpes contra a face e cabeça do primata. O macaco musculoso, por sua vez, revidou com um soco contra a mandíbula do lobinho, colocando toda sua força e ferocidade neste ataque. Jaguar quase fica sem consciência, mas para a sua sorte, a sua vontade de viver é se vingar era tão grande, que impediu o mesmo de cair no chão sem sua consciência. O filhote, ainda em pé, conseguiu acertar um golpe potente com a mão esquerda, o ataque acertou o exato centro da face do Gorila fugitivo, fazendo o nariz do mesmo quebrar e alguns dentes dele foram arrancados fora com esse soco. O grande promata ficou desnorteado com esse ataque, e se aproveitando desse momento de confusão, o guará saltou e mordeu o pescoço do gorila com muita força, acertando um ponto vital e conseguindo o matar
— Waaaarrrrhhhhggggg
Berrou o transmutador, enquanto bate em seu peito, mostrando sua vitória e sobrevivência. Então, dois anos se passaram desde o incidente, com o mesmo sobrevivendo desde aquele dia, usando sua forma de gorila para vencer de predadores perigosos para sua forma natural, o uso dessa forma fez com que rumores se espalharam, rumores que o condenaram
— Ei, ouviram falar no lobisomem da floresta?
— Ouvi sim!
Dois bêbados comentaram isso em um bar, onde estava um destemido caçador, que apenas escutava a conversa e se interessava por aquilo
— Tão falando por aí, que tem uma recompensa de meio milhão pela cabeça desse bicho, tudo isso por ele estar atrapalhando o negócio da madeireira!!
Ao ouvir aquilo que queria, o caçador apenas se levantou de sua mesa, andou em direção aos dois homens e falou
— Eu darei cabo dele, onde ele está?
Esse caçador se chama Edson aguinaldo, também conhecido como "O homem de um único tiro", isso se deve pôr contando seu poder, que fazia as balas de seu rifle serem cem vezes mais mortais que as normais, tudo por ele aumentar a "explosão" delas e a velocidade em cem vezes. Os bêbados se assustaram com a presença dele no bar, mas fizeram questão de falar tudo que sabiam para o homem, pois tinham medo do que iria acontecer se não fizessem isso. Saltando cerca de uma semana no tempo, era possível ver o Jaguar comendo alguns pequenos roedores, e algumas frutinhas, ainda na sua forma de gorila. Edson logo apareceu atrás do animal que se alimentava, chamando a atenção do mesmo e dizendo
— Então, você é o lobisomem que todos falam? Que surpresa!!
Disse o caçador, apontando sua arma na direção do animal gigantesco. Enquanto isso, o transmutado ficou encarando aquele estranho com a arma, sentindo a ameaça e pronto para o atacar a qualquer momento. Edson, então, puxou o gatilho de sua arma e atirou contra o animal selvagem, animal esse que conseguiu se desviar parcialmente do projétil, por estar preparado para tomar aquele tiro. A bala, ainda assim, pegou de raspão no braço esquerdo do animal, fazendo com que um pouco de sangue fosse jorrado para fora do membro. Jaguar se irritou e correu a toda velocidade em direção ao homem hostil, tentando lhe acertar um soco de direita na cara, o caçador conseguiu desviar, mas recebeu um pequeno corte em seu rosto
— (Mas o quê?! Esse bicho não só desviou de um tiro meu, como também entrou na minha área?!)
O homem continuou se afastando, enquanto a criatura tentava lhe acertar um soco potente. Então, quando o homem conquistou uma distância de mais ou menos oito metros em relação ao "gorila", ele mirou na barriga do animal e esperou um momento em que a barriga do mesmo ficou relaxada. E, quando notou esse momento de fraqueza, Edson puxou o gatilho de seu rifle e aumentou a potência de sua bala em cem vezes, fazendo com que dessa vez o projétil acertasse o lobo guará. Jaguar sofreu o dano, não sendo perfurado pela bala, mas o impacto do tiro o fez cair sangrando e destransformado no solo. O caçador foi se aproximando do pequeno animal caído, enquanto foi falando
— Hum? Pensei que lobisomens fossem só pessoas, mas…. Você é um lobo guará?
Disse o homem dando pequenos chutes no animal, para testar se ele estava ou não vivo. Quando chutou, o pobre guará gritou de dor e cuspiu mais sangue, ao mesmo tempo em que a bala do rifle caiu no solo, fazendo o Edson ficar ainda mais surpreso
— Além de estar vivo, você quer me dizer que essa bala não entrou no seu corpo? Nossa, aparentemente meu título de "homem de um tiro só" foi colocado em cheque, tudo por sua causa!
O homem logo preparou novamente a arma, preparando o tiro de misericórdia contra o crânio do animal, dizendo para ele em um tom meio sarcástico
— Bem, três tiros, é essa quantidade que eu preciso usar contra você. Se divirta sabendo disso, lá no outro mundo!
Quando o homem iria puxar o gatilho, sons de passos extremamente rápidos começaram a ecoar, chamando a atenção de Edson. Quando o caçador se virou para ver oque era, ele foi surpreendido com um potente chute flamejante, que destruiu a sua arma de fogo
— Quem você pensa que é, pra atacar esse pobre animal?!
O homem que disse isso, tinha pinturas e roupas tradicionais indígenas. Aquele que falou isso, foi o Humaitá, que estava apenas fazendo uma ronda diária pela floresta. O caçador se assustou, tentando justificar o seu ato
— C-calma, é que eu fui pago para isso, nada além disto!!! Cobre quem me pagou para estar aqui!!
Humaitá apenas jogou a cabeça decepada dos bêbados para os braços de Edson. Não só revelando a ele, que os homens haviam o seguido, como também que ele não teria como escapar mais
— Já lidei com eles, agora só falta você, verme….
O atirador ficou profundamente assustado, com ele logo tentando começar uma corrida. A tentativa dele, por sua vez, se mostrou falha, pois o líder indigena interceptou a mesma e acertou um potente soco no crânio de Edson, explodindo a cabeça do caçador e o matando ali mesmo. Em seguida disso, Humaitá caminhou até o animal caído, o pegando nos braços e falando
— Irei cuidar de você!!
Jaguar ouviu aquilo, logo desmaiando pelos ferimentos, enquanto era levado pelo líder da aldeia. Quatro dias se passaram desde então, Jaguar estava completamente inconsciente até finalmente acordar, olhando em volta e notando duas pessoas, uma sendo o próprio Humaitá e a outra a mãe do mesmo
— Olha só, acordou o dorminhoco!!
Humaitá disse isso, tendo um sorriso bem simpático em seu rosto. O animal ferido, porém, apenas se assustou com aquilo, se levantando bruscamente e correndo até uma parede do local
— Fique longe de mim!!
Gritou o lobo guará, já estando na sua forma bípede. O animal sequer havia notado isso, mas o seu poder havia novamente feito efeito nele. Esse fato, fez com que o indigena ficasse ainda mais interessado naquele lobo guará, colocando assim o homem para falar
— Consegue imitar um humano também? Que interessante!!
Jaguar ficou encarando aquele homem, ainda se perguntando como foi para ali. O canino logo prestou mais atenção em si mesmo, notando que havia sofrido essa mudança, mas ainda ficou focando a maior parte de sua atenção naquele humano
— Não chegue perto, ou eu te mato!!
O bípede estava totalmente na defensiva, ainda carregando um enorme trauma por conta do seu primeiro contato com pessoas. Humaitá, notando isso, logo foi chegando perto dele enquanto fala
— Ei amiguinho, calma aí! Eu não vou te fazer mal, sério, tanto que eu e minha mãe cuidamos dos seus ferimentos!
A criatura foi olhando o seu corpo, notando os curativos em cima das feridas, olhando de volta para o nativo e falando
— E eu com isso?! Nada me garante que você não quer me matar!!
O homem começou a ficar meio sem ideia do que dizer, mas, ele apenas olhou o animalzinho e disse
— Se a gente fosse te matar, não acha que teríamos deixado você sangrar até morrer? Relaxa o facho aí, você tá bem, e ninguém vai te matar aqui!!
Jaguar foi ficando meio sem jeito depois daquilo, notando que talvez estivesse muito paranoico. Logo, o animal fala
— Certo…. Irei embora daqui então, já que já estou bem!!
Jaguar foi andando tranquilamente até a porta, afim de ir embora de uma vez daquele lugar. Mas, a voz alta do indigena logo o parou, principalmente pelas seguintes falas
— Se você for agora, provavelmente vai morrer! Seus ferimentos não fecharam ainda.
O lobo logo ficou completamente travado e assustado, não só os instintos, mas também a consciência do animal barraram para ele ficar ali, afinal, o mesmo não queria morrer na natureza
— E…. Quanto tempo devo ficar?
Disse o pequeno transmutador, com a voz trêmula por conta da possibilidade de morrer. Logo, o homem que o salvou responde de forma calma
— Umas duas semanas, mas não se preocupe, você pode dormir na minha casa, lá tem espaço de sobra!!
No meio desse assunto, uma pessoa entra naquela sala, era o filho biológico do Humaitá,  o garoto conhecido como Cheraa Tembipota, o jovem carregava consigo um peixe grande, de mais ou menos uns treze quilos
— Papai, cheguei!!!
Disse Tembi, enquanto olhava em volta, notando assim o animal acordado em sua frente, falando para ele
— Oh, você acordou, finalmente!!
Disse o garotinho, enquanto encarava o lobo guará, o jovem possuía um sorriso bem grande em seu rosto, parecendo contente em ver o animal vivo. O Serginho desconfiado, por sua vez, apenas perguntou
— Quem é você?!
Disse o Jaguar, encarando a criança com uma cara desconfiada. O jovenzinho, por sua vez, apenas respondeu
— Ah, quase me esqueci disso! Eu me chamo Cheraa Tembipota, mas pode me chamar de Tembi! E você, qual o seu nome?
O animal ficou ainda mais confuso, já que ele não sabia oque era um nome, logo perguntando ao garoto
— Nome, o que é isso?
As palavras do ser deixaram os três ali em choque, por nunca terem visto alguém sem um nome, mesmo sendo um animal
— Mas o que? Então vamos resolver isso!!
Disse o Humaitá, quase que gritando de tão alto que falou, se aproximando dos dois garotos a toda velocidade, pegando o lobo guará nos seus braços e o encarando por alguns segundos, até finalmente ter alguma ideia em sua mente
— Que tal…. Jaguar Jogua?!
Disse o líder da tribo, enquanto tinha os olhos brilhando e um sorriso bem animado em seu rosto, quase como se tivesse acabado de ganhar um segundo filho naquele momento. Enquanto isso, os dois garotos ficaram se encarando, ambos com uma cara meio sem jeito, fazendo o filho do líder falar para o seu pai
— Que animação, papai….
Jaguar ficou olhando os dois conversando, e pensando sobre o nome que havia acabado de receber. O lobo guará nunca havia pensado sobre o'que seria um nome, já que ganhou esse tipo de consciência há pouco tempo, além de ver isso só como algumas palavras esquisitas, como se fosse um código de identificação
— (Que bizarro…. Não entendo o motivo de um nome, mas…. Sabe, até que eu gostei de como esse nome é falado, dá uma sensação muito boa, algo gostoso de ouvir!)
O animal pensou isso sozinho, enquanto dava um pequeno sorriso orgulhoso desse nome, enquanto os outros dois continuavam conversando, até que o estômago do canino começou a roncar bem alto, mostrando a fome do animal. Os dois humanos notam isso, com o adulto logo falando
— Vejo que está com fome, pequenino! Vou fazer esse peixe aqui para que possamos comer!!
Nisso, Humaitá colocou o lobo guará no chão, pegando aquele peixe com a mão esquerda e indo com ele para dentro, para lavar e limpar o peixe antes de cozinhar o mesmo. Enquanto isso, os dois garotos ficaram ali parados, se olhando por alguns segundos, até finalmente um dos dois tomar coragem para puxar algum tipo de conversa
— Eu nunca tinha visto alguém sem nome antes! Sua mãe nunca te deu um?
Disse o filho do Humaitá, olhando para o lobo com um sorriso até que amigável, nesta tentativa de puxar assunto e matar o silêncio da sala. O guará, por sua vez, apenas ficou calado por alguns momentos, até finalmente decidir responder o garoto
— Bem…. Meio que minha mãe era um lobo normal, então não existia esse conceito de "dar um nome"..... E ela morreu também
O silêncio que se formou após isso, foi um silêncio um tanto quanto constrangedor. Com os dois apenas se encarando por alguns segundos, até o Tembi decidir continuar o assunto
— Caramba…. Desculpa por ter perguntado, eu não sabia disso……
O animal ficou meio recluso, continuando bem em silêncio, até que decidiu dar uma resposta para o garoto
— Nah, tá tudo bem….. Você não sabia disso, pode relaxar
O silêncio perdurou por mais algum tempo, até a criança finalmente decidir continuar a conversa
— Bem… a minha mãe também morreu….
Disse o filho de Humaitá, que decidiu compartilhar sua dor junto com Jaguar, por ser uma dor praticamente igual. O lobo, por sua vez, apenas olhou o garoto e disse para ele
— Sério? De que?!
O animal caçador ficou encarando o garoto, esperando alguma resposta vinda do mesmo. Tembi, por sua vez, ficou um pouco chocado e animado com a animação do animal com o assunto, decidindo assim dar uma continuidade para aquele assunto, por mais mórbido que pudesse ser
— Bem…. Minha mãe morreu durante o meu parto, desde então, eu sou criado só pelo meu pai e a minha avó!
O lobo guará ficou cada vez mais interessado naquilo, porém, notou uma certa falta de senso da sua parte, pois sequer compartilhou essa sua fraqueza antes de seu "amigo" dizer aquelas infrações. Logo, o animal começou a falar sobre também
— Bem…. A minha mãe morreu pra tentar me proteger, um bicho gigante apareceu do nada, matando ela e os meus irmãos. E, quando menos esperei, eu me transformei nesse bicho, lutei contra ele e matei ele. Ah, e antes que eu esqueça, o quê é uma avó?
Tembi ficou ainda mais surpreso, não só com a pergunta do Jaguar, mas também com a história de como a sua mãe infelizmente veio a falecer. O garoto indigena, então respondeu para o ser
— Caramba, que coisa…. Triste…. Sinto muito por você, Jaguar. E bem, uma avó é apenas a mãe ou do seu pai, ou da sua mãe. Você não tem uma?
O canino ouviu a pergunta, fazendo uma cara meio sem reação, com ele continuando a responder o garoto
— Não, nunca cheguei a conhecer a minha avó, nem sabia que isso existia
Claro, o garoto da aldeia até que esperava por uma resposta dessas, pois o período que a mãe de lobos guarás cuidam dos filhotes é de quatro meses, assim, sendo impossível de ele ter conhecido sua avó. Mais algum tempo de conversa foram jogadas fora, até Humaitá finalmente sair da cozinha, chamando os garotos para lá
— A comida está pronta, podem vir!!!!
Os dois garotos foram, e desde aquele dia, ambos se tornaram grandes amigos. Não só isso, como irmãos, com o líder daquele povo adotando o guará como seu filho, o ensinado sobre a cultura local, vivência em sociedade e a como controlar e melhorar seus próprios poderes, dando sinal de um futuro próspero. Algo, que viria a ser interrompido dentro de dois anos








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