Capítulo 32

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Eduardo

vai trabalhar hoje? — Pilar esbravejou.

— Vou, mas não vou demorar, será rápido.

— Igual na confraternização? Pelo amor de Deus, é véspera de Natal.

— Pilar, parece que você não sabe como a Arete funciona, não seria diferente se estivesse trabalhando. Temos um ponto importante para esclarecer sobre a obra de Bom Jesus da Lapa, Leandro vai para lá dia 27, não nos veremos até lá. Depois desta reunião volto para casa, aliás, todos vamos trabalhar até a hora do almoço, apenas.

— Todos?

— Não, apenas nós da diretoria, os demais funcionários tiveram o dia de folga.

— Nossa, parece que tem anos que não trabalho, e é horrível pensar que terei que sair de casa em datas importantes e deixar meu filho.

Minha vontade era de dizer que não precisaria fazer isso, que eu tomaria conta da empresa, dela e do nosso filho, mas a decisão não podia ser minha. Dei um beijo em sua boca e saí.

Voltei a tempo para o almoço e Heitor estava fazendo um churrasco, minha família já tinha chegado, Arthur estava com uma cara horrível, mal me cumprimentou, assim que sentamos para almoçar perguntei:

— Está tudo bem, Arthur?

— Eu quero um emprego, vou fazer dezesseis mês que vem. Você disse que conversaria com seu Emanuel.

Eu tinha tantos novos planos contando com a saída do meu pai do presídio, o que eu acreditava que não demoraria muito. Que não queria que Arthur começasse a trabalhar onde morávamos.

— Arthur, você precisa se focar um pouco mais nos estudos, irmão, porque se começar a trabalhar e não estudar, vai acabar sendo pião pra sempre.

— Lá vem você com esse negócio, eu estudo — foi grosso.

— Você vai para a escola, isso não significa estudar. Ficou de recuperação isso porque não trabalha — minha mãe falou nervosa. — Não vejo a hora do seu pai voltar.

— Eu também... — Arthur falou cabisbaixo e por um instante achei que fosse chorar.

— Cada pessoa é boa em uma determinada coisa. Arthur joga bola maravilhosamente bem, é responsável e está sempre disposto a ajudar. Ele só quer se sentir útil e não dar despesas à mãe. — Letícia sendo Letícia. — Ele ficou de recuperação porque estava com dificuldade em exatas e não quis colar.

Ele a olhou com os olhos ternos, mas com uma tristeza infinita. Acho que todos perceberam.

— Você é bom de bola, Arthur? — Heitor interrompeu a DR familiar.

— Eu acho que sou, né. Eu gosto de jogar.

— Já tentou participar de alguma escolinha? Ou fazer as famosas peneiras?

— Já fiz. Meu pai me levou, eu passei na primeira etapa para o Santos, mas não na segunda. Aí meu pai me colocou na escolinha Meninos da Vila, fiz um ano.

— E por que parou? — O silêncio reinou. Arthur olhou para minha mãe, depois para mim:

— Não era muito boa, não estava evoluindo.

— Ele parou depois que o pai foi preso, eu o acompanhava aos treinos, não trabalhava. Tive que começar a trabalhar, Eduardo disse que continuaria pagando, mas não deixei.

— Meu pai sempre teve muito medo desse mundo, porque meu tio era muito bom de bola e sonhava em ser jogador, ele começou a ir nas escolinhas, essas ofereciam bolsas para ele. Mas no processo, ele conheceu as drogas, era jovem, se viciou e morreu aos 17 anos. Meu pai era muito presente, nunca quis que minha mãe trabalhasse, ela me levou na escola até meus 12 anos. Era o maior mico da Terra. E quando Arthur mostrou que realmente queria jogar bola, ele disse que não poderia deixar de estudar e que acompanharia de perto, que ele só iria onde meus pais conseguissem estar.

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