Trinta e três

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Eu queria dizer que as coisas ficaram mais fáceis com o tempo, mas eu estaria mentindo se dissesse isso

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Eu queria dizer que as coisas ficaram mais fáceis com o tempo, mas eu estaria mentindo se dissesse isso. Três semanas se passaram e ainda doía como no primeiro dia.

Rodolffo, por algum motivo, continuava frequentando as aulas de literatura, e eu que já achava difícil encontrar com ele pelos corredores, achava ainda mais difícil dividir o auditório com ele, ainda mais porque eu sentia meu coração bater forte e meu estômago revirar todas as vezes que ele estava minimamente perto de mim.

Eu estava em uma luta interna entre a razão e a emoção, enquanto meu coração iludido e apaixonado batia mais forte quando eu o via, e tentava me convencer de que eu deveria perdoá-lo, que eu o amava. A minha cabeça dizia que eu precisava ficar longe, que se eu me aproximasse de novo eu iria cair novamente nos seus truques e ele iria partir meu coração.

Mas por alguma ironia, essa mesma cabeça me sabotava com as lembranças dos nossos momentos juntos, dando ainda mais força para o meu coração permanecer apaixonado.

Me sentia dividida entre razão e emoção, amor e ódio, sabendo que eu pendia entre as duas opções, sem saber direito para qual caminho seguir. Eu o amava, isso era um fato que eu não podia esconder de mim mesma, e por mais que eu tentasse muito, eu não o odiava, só sentia uma mágoa grande pelo que ele fez comigo.

"Chorarei tão-somente por aquilo em que acredito; acreditarei tão-somente naquilo que sei de fato; e tudo que eu puder remediar será feito à medida em que o tempo for se mostrando companheiro."

Foquei meus olhos na frase de Macbeth, destacada à minha frente, ignorando a presença do capitão do time, e do seu perfume que parecia viajar até as minhas narinas. Rodolffo estava sentado bem atrás de mim na aula de literatura, e eu sentia meu corpo inteiro formigar com ele tão próximo de mim.

— Quero que usem a criatividade de vocês e escrevam um texto, se inspirem nas obras que estudamos até aqui, e criem algo que valha a pena ser lido. Pode ser uma história fictícia, ou podem se basear em algo real, me impressionem.

Suspirei ao ouvir sobre o último trabalho que o Sr. Smith pedia, já me sentindo frustrada porque imaginava que não conseguiria entregar algo, eu estava com bloqueio criativo, e tudo o que eu escrevia eu estava achando péssimo.

— Estão dispensados por hoje, enviei as notas do último trabalho no e-mail de vocês. — logo o auditório foi invadido por barulho de mochilas e carteiras sendo afastadas, enquanto todos se preparam para deixar a sala — Senhorita Freire, posso falar com você por um instante? — fui chamada pelo professor e assenti.

Joguei minha mochila sobre os ombros e desci as escadas do auditório, ficando frente a frente com o professor.

— Sei do seu desejo de seguir carreira no jornalismo, mas gostaria de sugerir uma outra alternativa. — ele iniciou, me dando um sorriso gentil — Você é uma aluna dedicada, e sei do seu amor por literatura, tenho um amigo em uma editora e se for do seu desejo, adoraria indicá-la para uma vaga lá. — minha boca de partiu em surpresa, ao mesmo tempo que eu sentia um sorriso se formar em meus lábios.

— Eu adoraria. — respondi sem pestanejar e ele sorriu.

— Perfeito, vou enviar seus dados para o meu amigo e pedir para ele entrar em contato com você.

— Muito, muito obrigada, eu não esperava isso e nem sei como agradecer. — dei um sorriso nervoso e ele assentiu.

— Agradeça sendo brilhante.

— Obrigada.

Deixei a sala empolgada como não ficava há dias, era uma oportunidade incrível e seria ótimo se eu realmente conseguisse. A caminho do meu armário, acabei me encontrando com Bianca. Ela era outra com quem eu não falava há dias, isso porque ela confessou ao Rallyson que sabia da aposta.

— Eu sei que ainda deve estar brava comigo, mas será que a gente pode conversar? — ela perguntou receosa — Queria só me explicar.

Ponderei por um instante, sentindo muita vontade de negar, mas ao mesmo tempo, sempre defendi a tese de que as pessoas merecem uma chance de defesa, então assenti.

Caminhamos juntas até o refeitório, e nos sentamos em uma das mesas vagas.

— Eu já venho querendo falar com você há dias, mas quis dar um tempo pra você assimilar as coisas. Foi horrível o que o Yuri fez na minha festa, e eu não queria que aquilo tivesse acontecido, pode não confiar muito em mim no momento, mas eu realmente gosto muito de você.

— Por que não me contou? — fui direta, e ela desviou o olhar do meu por um instante.

— Quando eu soube da aposta, nós ainda não nos conhecíamos, não que isso justifique, é claro. E depois, acho que tive medo, assim como o Rodolffo, eu não queria que tivesse descoberto.

— Eu não entendo, achei que o propósito da aposta fosse esse.

— Sou amiga dele faz um tempo, e tanto eu, quanto o Owen tínhamos certeza que ele gostava de você. Quando a aposta surgiu eu pensei que talvez fosse o que faltava para vocês finalmente se entenderem, mesmo que fosse de um jeito torto. Eu lembro dele ter me falado que não se importava mais com a aposta, que ele só queria te afastar do Yuri.

— Por que?

— Rodolffo nunca escondeu quem ele é, ele nunca fez um personagem. Yuri por outro lado não é tão bonzinho como ele gosta de parecer. Quando tudo isso foi longe demais, ele encerrou a aposta que fez com Yuri, ele queria te proteger e ele acreditou que Yuri não fosse fazer nada, não era pra você descobrir, muito menos descobrir da forma como foi.

— Ele podia ter me contado, se eu tivesse ouvido da boca dele, talvez tudo fosse diferente. Eu me senti enganada e usada.

— Ele estava com medo de te perder, ele se apaixonou de verdade por você.

Meu coração vacilou com a afirmação dela, as memórias dele dizendo que me amava voltaram para a minha mente, e eu respirei fundo, não querendo me mostrar abalada com isso.

— Ele sente tanta a sua falta, acho que nunca o vi assim antes.

— Sinto falta dele também. — admiti enfim, e Bianca esticou a mão sobre a minha, a segurando em consolo.

— Nem imagino o quanto está sendo difícil pra você, não tenho o direito de te pedir que o perdoe, mas eu o conheço o suficiente para dizer com toda a certeza, que ele se arrepende muito do que fez a você.

— Não sei se eu consigo confiar nele de novo. — murmurei, limpando uma lágrima solitária que escorria pelo meu rosto.

— Eu entendo, e a mim, consegue perdoar?

— Você não tem metade da culpa que ele tem, Bianca. E mesmo estando chateada, não tenho raiva de você, na verdade eu não tenho raiva nem dele, só mágoa.

— Sei que talvez seja pedir demais, mas você podia tentar conversar com ele, talvez tentar serem amigos de novo.

— Vou pensar. — concordei — Posso te perguntar uma coisa? — questionei e ela assentiu — Rallyson me contou que Rodolffo precisou ser substituído no último jogo... sei do sonho dele de jogar profissionalmente, e fiquei preocupada com isso. — Bianca deu um longo suspiro, antes de voltar sua atenção para mim.

— Ele tá sofrendo, e de uma forma que eu nunca sequer imaginei, e isso está afetando o desempenho dele em campo. Owen e eu estamos preocupados com ele, se ele ficar de fora do próximo jogo, ele vai perder todas as oportunidades.

Engoli em seco com a informação, me sentindo triste por ele passar por isso.

— Espero que ele fique bem.

A ApostaOnde histórias criam vida. Descubra agora