Trinta e dois

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Três semanas, vinte e um dias, quinhentas e quatro horas, trinta mil duzentos e quarenta minutos

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Três semanas, vinte e um dias, quinhentas e quatro horas, trinta mil duzentos e quarenta minutos.

Eu parecia um presidiário riscando as paredes da cela, contando os dias para ter sua liberdade, no meu caso, eu contava os dias que eu estava longe dela.

Nos últimos dias eu tentei realmente a deixar em paz, ela queria espaço e era o mínimo que eu podia fazer por ela depois de tudo. Eu estava indo em todas as festas, e enchendo a cara em todas, buscando na bebida algum alívio para a dor que dilacerava o meu peito.

— Oi, Rios. Quer companhia? — ouvi a voz irritante da Lilly ao meu lado, e respirei fundo.

— Não.

— Qual é, você está aí sozinho, poderíamos nos divertir juntos. — ela insistiu, tentando dessa vez sentar em meu colo e eu a afastei bruscamente, já me levantando do sofá. 

— Eu disse não.

Peguei a garrafa de tequila e fui para os fundos, sentando próximo a piscina, a mesma que havíamos caído uma vez. Fechei os olhos, e deixei as lembranças de nós dois naquele dia voltarem, lembrando do seu corpo quente grudado no meu, dos seus lábios carnudos entreabertos e da sua respiração ofegante tocando meu rosto, tudo parecia tão real que eu podia sentir seu perfume.

Bebi mais uma dose de tequila, sentindo o líquido queimar minha garganta, nos últimos dias eu bebi tanto, que nem fazia careta para o amargor da bebida.

Haviam se passado três semanas que ela me deixou, três semanas que ela me ignorava por completo nos corredores da universidade, três semanas que eu só ouvia sua voz, pelos áudios do whatsapp que ela havia me enviado antes de tudo isso acontecer, três semanas que eu não sentia seu cheiro, três semanas que eu vivia esvaziando todas as garrafas de tequila, ou qualquer outra bebida forte que tivesse, três semanas que a única coisa que eu podia fazer, era observá-la de longe, enquanto ela fingia que eu não existia.

Nessas três semanas, eu percebi que a Juliette era boa em muitas coisas, mas quando se tratava de me ignorar, ela era melhor ainda. Nem mesmo quando eu apareci na sua casa no meio da noite, depois de algumas doses de tequila, suplicando para que ela considerasse me dar uma nova chance, fazendo escândalo o suficiente para acordar toda a vizinhança, a única pessoa que apareceu ameaçando chamar a polícia foi Rallyson, ela nem mesmo apareceu para espiar pela cortina.

E mesmo sabendo que eu fui um babaca com ela, e que merecia tudo aquilo, eu simplesmente não conseguia esquecê-la. Haviam se passado vinte e um dias, mas doía como se tivesse passado apenas um.

Tirei meu celular do bolso, olhando ansioso para a tela, ainda com a esperança boba de que ela pudesse me mandar alguma mensagem, ou até mesmo me ligar.

Não havia nada.

Abri a minha galeria de fotos, e como um masoquista, eu comecei a assistir alguns vídeos que fiz dela, de momentos especiais que passamos juntos, fechando os olhos quando ouvia sua risada gostosa. Rolei a tela, chegando até a última foto que tirei dela, ela sorria e seus lábios estavam sujos de chocolate do bolo de aniversário do meu pai. Senti meu coração vacilar, cada célula do meu corpo vibrava em saudades, e eu bebi mais uma dose de tequila direto da boca da garrafa.

Todos os meus músculos doíam, eu não conseguia me concentrar nas aulas e muito menos nos treinos. Precisei ser substituído no último jogo, porque simplesmente não conseguia acertar um passe e quase perdemos o jogo por minha culpa.

Eu sabia que precisava seguir minha vida, mas eu simplesmente não encontrava forças para isso, e todas as vezes que eu sentia meu coração latejar, eu abria uma nova garrafa de bebida, na inútil tentativa de amortecer a dor que eu sentia.

— Ei, eu sei que está sofrendo, mas acho que já bebeu demais. — Owen se materializou ao meu lado, e seu olhar desceu para o meu aparelho celular, vendo a foto dela aberta e suspirou, antes de se sentar ao meu lado na beira da piscina — Cara, eu odeio dizer isso, mas eu te avisei. Eu avisei que ela não iria te perdoar e mesmo sabendo dos riscos, você quis ir em frente. Isso tudo é uma merda, mas você pisou na bola, magoou a menina e agora precisa deixar ela em paz. Já se passaram três semanas...

— Eu sei, e acredite em mim, se eu pudesse voltar atrás e fazer tudo diferente, eu faria. — virei a garrafa mais uma vez, deixando o líquido queimar minha boca por alguns segundos, antes de engolir — Eu tento me convencer todos os dias que eu não tive intenção de magoá-la, mesmo sabendo que é mentira.

— E por que você quis magoar a garota? — Owen questionou, me fazendo encarar a verdade que eu tentava esconder.

Respirei fundo, enchendo meus pulmões de ar, para depois exalar, meu olhar estava perdido na piscina a minha frente, sorri de leve quando eu a vi, como uma miragem.

— Você estava certo, eu sempre gostei dela, mas meu orgulho não me deixava admitir isso. Ela era a única que parecia me desprezar e isso feria meu ego, era mais fácil odiá-la do que admitir que eu gostava de alguém que não sentia o mesmo por mim. — esfreguei meu rosto com as palmas da mão e suspirei fundo, olhando novamente para a piscina e vendo sua imagem sumir — Quando Yuri me desafiou, eu quis ir em frente para saber se eu conseguiria conquistá-la, eu queria que ela se apaixonasse por mim, e eu queria ganhar e poder contar toda a verdade a ela, só para poder ferir seu ego também. — dei um sorriso fraco, me sentindo ainda mais idiota ao dizer aquilo em voz alta — Eu achei que seria fácil, achei que eu conseguiria conquistá-la e depois simplesmente esquecer, só que isso não aconteceu. Eu não consegui deixar de desejá-la, não importava como fosse, eu só a queria cada vez mais... — matei mais uma dose de tequila, e senti a mão de Owen nos meus ombros, como se quisesse me oferecer algum conforto — No final fui eu quem acabei me apaixonando.

Owen permaneceu calado ao meu lado, não sei se ele não sabia o que dizer, ou se era por que não houvesse nada que ele poderia dizer, para me confortar ou mudar as coisas. Ficamos em silêncio por alguns minutos, antes dele pegar a garrafa das minhas mãos e se levantar, me ajudando a levantar também.

Senti minhas vistas embaralharem, meu estômago embrulhar e meu corpo cambalear, Owen passou o meu braço sobre o seu ombro e me ajudou a sair dali.

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