A Aposta

Trinta e seis

Pela primeira vez eu não havia feito um trabalho da faculdade, eu não conseguia me concentrar em nada, ainda mais depois que Bianca me contou sobre tudo o que eu ainda não sabia sobre a aposta, e saber que foi ainda pior do que eu imaginava.

Se eu já não conseguia olhar na cara do Yuri, agora eu sentia vontade de bater nele todas as vezes que me encontrava com ele pelos corredores da faculdade.

Hoje todos estavam eufóricos, e o campus estava enfeitado para o jogo que aconteceria mais tarde. Seria um jogo importante, os vencedores disputariam a taça e eu queria muito que nosso time vencesse, que ele vencesse.

Eu ainda me sentia equilibrar sobre a fina linha que separa amor e ódio, me equilibrei tantos anos nela, que ainda me sentia incapaz de escolher um lado. A mágoa que ele me causou ainda me machucava, mas por algum motivo eu me sentia incapaz de odiá-lo.

Não deveria ser tão complexo escolher um lado, mas se tratando dele... complexo era tudo o que podia ser.

Mesmo depois dele partir o meu coração, eu me sentia incapaz de cruzar a linha e escolher um lado, seria mais fácil se eu o odiasse, talvez até menos doloroso, mas eu simplesmente não conseguia esquecê-lo, não conseguia tirar a imagem dos seus olhos suplicantes da minha cabeça, enquanto tentava desesperadamente uma nova chance.

Não havia uma escolha, meu corpo sabia bem disso. Eu o amava e o odiava ao mesmo tempo, além de sentir medo de ser machucada de novo.

Respirei fundo enquanto os alunos ocupavam os seus lugares, pensando que talvez eu devesse ter matado essa aula e tentado passar o fim de semana escrevendo, para entregar o trabalho na próxima aula, mas aqui estava eu, pela primeira vez despreparada.

E pela primeira vez, eu não podia me importar menos.

Ouvi o Sr. Smith iniciar a aula, chamando alguns alunos a frente que queriam ler seus textos, e eu me encolhi na cadeira quando senti seu olhar analítico em mim. E o que eu menos esperava aconteceu, Rodolffo se levantou e pediu para ler.

Senti minha boca secar e meu coração bater tão rápido, que era como se ele fosse sair do meu peito.

Ele ajeitou a jaqueta do time, e passou os dedos pelos fios negros do seu topete, antes de segurar o papel entre os seus dedos, buscando meu olhar com o seu, antes de começar a ler o que quer que ele havia escrito.

— "Os sentimentos de amor e ódio são muito similares, então é normal que a gente confunda as coisas. E por muito tempo eu pensei que a odiasse, mas eu estava apenas me enganando.

Pensei que odiasse o fato dela ser tão certinha, pensei que odiava a forma como ela me ignorava e como revirava os olhos todas as vezes que eu atingia seus nervos. Pensei que odiava o fato dela ser muito mais inteligente do que eu, e quando usava sua língua afiada para fazer comentários sarcásticos sobre mim.

Pensei odiar seu perfume e a forma como ele fazia todo o meu corpo reagir, pensei que odiasse a sua boca, principalmente quando a usava para me xingar. Pensei que a odiava toda as vezes que a desejei, e odiava ainda mais quando finalmente a tive, mas mesmo assim não parecia ser suficiente. Pensei odiar sua risada, seu sorriso, e o fato de não conseguir tirá-la da minha cabeça.

Pensei odiar a maneira como ela me beijava, e o quanto eu sentia sua falta, todos os minutos, de todos os dias, até entender que eu mentia para mim mesmo, que eu tentava a todo custo esconder que na verdade nada do que eu sentia era ódio, e sim amor.

Se você tiver sorte na vida, você vai ser capaz de encontrar aquela pessoa, que é capaz de mudar toda a sua vida, e te tornar alguém melhor. Alguém com quem você vai querer passar todos os momentos do seu dia, mesmo que seja apenas rindo ou assistindo os filmes de serial killer que você odeia. Se tiver sorte, vai encontrar alguém capaz de melhorar tudo apenas com um sorriso, e se você for inteligente, vai fazer tudo para que essa pessoa fique para sempre em sua vida.

Eu nunca fui o tipo de cara que acredita em amor, e confesso que sempre achei livros de romance uma baboseira, nunca acreditei naquelas palavras melosas e sempre achei que a única intenção por trás delas, era de conseguir levar a garota para a cama.

Mas tudo mudou quando eu te conheci.

E eu queria muito dizer que essa história termina diferente, mas eu não fui inteligente e a deixei escapar por uma mentira. Uma mentira que me tirou a única pessoa por quem eu me apaixonei na vida.

Sim, canalhas também se apaixonam, e eu queria muito poder dizer todas aquelas palavras melosas para você, porque pela primeira vez eu entendo aqueles personagens dos livros, e entendo como esse sentimento chamado amor, pode te atingir com tanta intensidade e de forma tão avassaladora.

Me dói saber que não poderemos mais viver esses momentos juntos, mas o que eu mais queria que soubesse, é o quão verdadeiros esses sentimentos são, e o quanto eu me arrependo todos os dias por ter te feito sofrer.

Eu sou um dos sortudos, e ao mesmo tempo amaldiçoado por não poder mais viver com a mulher que eu amo."

Toda a atenção da turma oscilava entre Rodolffo e eu, e eu sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu estava sem reação, e só saí do meu transe quando ouvi o sinal anunciar o final da aula, e todos se levantarem para ir embora da sala.

Eu senti verdade em todas as suas palavras, mas por algum motivo eu continuava travada, sem conseguir me mover. Ele interpretou como se eu não tivesse gostado, e deu um leve aceno de cabeça antes de deixar a sala também.

Sem saber que o que mais desejava no momento, era ter ele de novo na minha vida.