Acordei procurando pela Ju na minha cama, mas só seu perfume floral estava em meus lençóis. Abri os olhos, a procurando pelo quarto e percebi que eu estava sozinho. Afastei os lençóis do meu corpo, levantei e segui para o banheiro para tomar uma ducha rápida. Depois de escovar os dentes e já vestido, desci as escadas e ouvi risadas virem da cozinha, e segui o som.
A cena que eu vi quando eu entrei, foi uma das que eu menos esperei encontrar, mas também me fez dar um sorriso bobo enquanto eu me recostava no portal da entrada da cozinha. Ela já estava tão à vontade com a minha família, que parecia que eles já se conheciam há anos. Vi ela ao lado da Bella, decorando o bolo de aniversário do meu pai com chocolate e morangos.
As duas riam de algo que eu não sabia dizer o que era, e quando a Ju percebeu minha presença, sorriu largo para mim, com a boca manchada com o morango que ela comia segundos antes, eu senti meu coração parar no peito, para depois bater tão forte, que eu tive medo que ela pudesse escutar.
Seu rosto estava lavado e sem maquiagens, seus longos cabelos estavam presos em um coque alto, com apenas alguns fios de cabelo soltos caindo pelo seu rosto. Ela usava a minha camiseta e um short jeans, tão simples, mas ao mesmo tempo era a mulher mais linda que eu já vi.
— Estamos fazendo o bolo, e sua irmã tem me contado diversas histórias sobre você.
— Não acredite em nada que ela diga. — alertei e ela deu uma risada gostosa, que fez minha barriga gelar.
De repente eu senti tudo o que estava sentindo nos últimos dias de uma só vez. Formigamento no corpo, boca seca, coração disparado no peito, aquela sensação estranha como se eu estivesse caindo de um penhasco, revirada no estômago. E quando eu me dei conta do que todos aqueles sentimentos significavam, senti o ar escapar dos meus pulmões.
Eu estava apaixonado por ela, e constatar isso me fez sentir medo.
Medo porque tudo o que veio na minha mente, como a porra de uma avalanche, era aquela aposta estúpida, e o quanto ela iria me odiar se um dia descobrisse sobre ela. Realmente me odiar, como nunca odiou antes, e só de pensar nisso, eu sentia o mundo ruir ao meu redor.
— Tudo bem? — ela perguntou baixinho ao se aproximar, ficando na ponta dos pés para selar nossos lábios — Você parece distante.
— Eu não quero que me odeie. — respondi num sussurro, tirando uma mecha de cabelo do seu rosto e fazendo um carinho em sua bochecha.
Seus olhos encontraram os meus, e ela fez um carinho em minha barba, para depois sorrir.
— Não poderia te odiar... não tem mais espaço.
— Promete? — implorei, sentindo como se alguém segurasse meu coração e o estivesse esmagando com os dedos, uma sensação desesperadora invadindo meu corpo.
— Quer me dizer alguma coisa? — ela perguntou, seu olhar confuso nos meus.
Minha garganta secou, eu sabia que se contasse tudo agora eu estragaria tudo, e o medo era tão dilacerante que eu não saberia lidar com o seu afastamento. Não saberia lidar com seu ódio.
— Não. — menti, forçando um sorriso — Tá tudo bem.
Segurei seu rosto com as minhas mãos, e a puxei para um beijo, sentindo o gosto adocicado do morango em seus lábios.
— Vocês são fofos, eu shippo esse casal. – Bella brincou, fazendo com que o clima divertido voltasse a pairar na cozinha — Você é um chato, mas pelo menos tem bom gosto para mulher, amei minha cunhadinha.
— O que é shippar? — minha mãe quis saber, tirando a sua atenção dos doces que ela fazia, para levantar seu olhar para a minha irmã.
— É quando a gente torce para um casal. — ela explicou e minha mãe sorriu.
— Então eu também shippo vocês, a Ju é uma menina de ouro, meu filho. E espero que a traga mais vezes pra casa.
— Pode deixar. — concordei, desejando muito que isso pudesse se repetir diversas vezes.
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A casa estava cheia de amigos da nossa família e alguns vizinhos, todos entoavam juntos a música do parabéns, enquanto meu pai sorria animado por ver todos reunidos ali. O bolo que minha irmã fez com a ajuda da Ju, enfeitava o centro da mesa.
— Faz um desejo, pai. — Bella pediu, e meu pai sorriu.
Vi seu olhar migrar da minha mãe, minha irmã, depois ir para mim e finalmente na Ju.
— Acho que já tenho tudo o que desejo, minha filha. — ele respondeu antes de soprar as velas.
E ninguém se surpreendeu quando ele ofereceu o primeiro pedaço para a "nora" dele. Ela conseguiu fazer com que todos se encantassem por ela.
Passamos grande parte da manhã e inicio da tarde, aproveitando o churrasco de aniversário do meu pai. Minha mãe aproveitou para mostrar diversos álbuns de fotos de família para a Ju, que se divertia com tudo.
Quando o fim de tarde chegou, nos aprontamos para voltarmos para a nossa cidade, e o clima de despedida nos invadiu.
— É uma pena que não possam ficar mais. — minha mãe se lamentou.
— Temos aula amanhã, melhor a gente pegar a estrada agora. — Ju explicou e minha mãe concordou com a cabeça.
— Tudo bem, querida. Espero que voltem em breve, amei tê-los aqui.
— Tchau, mamãe.
— Vão com Deus, meu filho.
Nos despedimos de todos e entramos no carro, vi pelo retrovisor os três acenarem a medida que nos afastávamos, e a Ju acenou também.
— Minha família gostou de você.
— Gostei deles também.
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A Aposta
FanfictionJuliette Freire e Rodolffo Rios se odeiam há três anos e não fazem questão de esconder o ódio mútuo que sentem um pelo outro. Sejam com piadas ou provocações, eles sempre estão trocando farpas pelos corredores da Universidade. Ele a odeia por tudo o...