De repente, mãe

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| POV |

Dirigi o mais rápido que pude, estaciono de forma grosseira e olho para os lados tentando me localizar naquele estacionamento enorme. Respira, Bianca. Há mais ou menos uns 40 minutos recebi uma ligação desse hospital dizendo que minha mãe estava com complicações no parto e precisavam de alguém para acompanha-la. Pensei que o lixo do marido dela estaria presente, mas me lembro que ele está preso, e também se não estivesse, não acompanharia, pois aquele ser humano odioso só se importa com ele mesmo. 

Respiro fundo e vou em direção ao que parecia ser a porta de entrada, assim que entro me deparo com uma multidão de pessoas correndo de um lado para o outro, pessoas mutiladas, com o rosto machucado e nariz sangrando. Um pânico sobe e lágrimas escorrem pelos meus olhos, pois lembrei-me quando fui eu ali naquelas macas, com o rosto irreconhecível, o braço quebrado e meu rim quase perfurado de tantos chutes que tomei. Por que eu estou aqui para cuidar da pessoa que permitiu que esse monstro quase me matasse? Me viro rapidamente para correr para fora daquele lugar e bato de frente com um médico.

Está tudo bem? — ele pergunta, me segurando pelos ombros, olhando para mim.

E-eu, éé — gaguejo — Minha m-mã — minha voz vacila —Estou de acom-acompanhante em um parto, não sei onde fica — falo rápido e seco meu rosto. Ele me dá as coordenadas e faço exatamente como ele me instrui. 

Enquanto caminho naqueles corredores brancos e longos, torço para que essa criança não seja mulher. Torço para que não sofra tudo que eu sofri. Torço para que seja bem cuidada. Torço para que meu padrasto morra. Estou me aproximando do quarto e vejo uma movimentação de enfermeiras e médico e o grito estridente que reconheço muito bem. Apresso o passo, chego na sala e a vejo envolta por uma possa de sangue na cama, seu rosto enxarcado de suor.

Mãe  falo, me aproximando dela, que me olha de um jeito que não sei decifrar, pois parece que está delirando.

Você é a filha? — a médica me pergunta e eu assinto — Ela está perdendo muito, muito sangue e não vai dar tempo de levá-la a sala de cirurgia, vamos precisar abri-la aqui — meu corpo todo treme e lágrimas invadem meus olhos, fazendo-os arder — Você nos dá permissão? — ela praticamente grita.

S-s-sim — minha voz vacila tanto que quase não consigo falar. 

Precisamos que saia — a médica fala, enquanto coloca seu avental — Instrumentos cirúrgicos agora e só fica o pessoal necessário — grita.

Estou me encaminhando para a porta e escuto minha mãe me chamando. "Bia", "Bianca, vem cá". Olho para a médica que fala em sussurro "rápido" e paro ao lado da minha mãe.

Estou aqui — seguro as lágrimas. Suas mãos estão geladas quando me toca e puxa meu rosto para próximo aos seus lábios rachados e confessa algo de forma arrastada. 

Olho para ela em choque.

Co-como? — me solto de suas mãos — Por que você me odeia tanto? O que fiz para você? — começo a chorar e praticamente grito essas palavras novamente em seu rosto, que esboça a reação mais doente possível. Saio da sala correndo, até parar em um corredor vazio, me sento no chão e deixo toda a confusão me inundar. 

Não sei quanto tempo se passa, encaro meus pés, meu corpo todo dói, minha cabeça parece que vai explodir. Olho para a cicatriz em meu pulso e penso o quanto sou inútil até para tentar me matar. Escuto passos se aproximando e uma das enfermeiras que estava no quarto para ao meu lado.

Achei você, querida —  se abaixa e toca meu ombro, me dando um sorriso fraterno.

E-ela — pigarreio — O bebê, tá tudo bem com o bebê? 

Criminous Paradise | TOM E BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora