Quatro Meses

735 63 10
                                    

Já faz dois meses desde que fugi de Los Angeles, que larguei toda a minha vida, meus amigos, meu emprego, eles... Deixei a badalada LA para me refugiar na pacata cidadezinha litorânea chamada Venus Cove*. Com população estimada em torno de três mil habitantes, em que todo mundo sabe da vida de todo mundo e o "point" da galera é a única sorveteria e o único pub, que toca todos os finais de semana as mesmas músicas e tem as mesmas pessoas frequentando. Nesses tempo que estou aqui, conheci pouquíssimas pessoas, mas todos estão curiosos em saber quem é a filha do Joel.

Meu pai, que descobri há três anos que não estava morto, ex-Seal da marinha e agora dono de uma loja de pesca, é conhecido na cidade. Por isso, ele pediu 'respeitosamente', na assembleia da cidade, para não comentarem sobre mim e Henry em lugar algum, principalmente nas redes sociais. 

Estou com quatro meses e duas semanas de gestação, minha barriga já está visível. Não há um dia que eu não olhe para minha barriga e não sinta o buraco no meu peito ficar cada vez maior com a falta que eles me fazem. Na grande maioria das vezes, se torna tão insuportável que não consigo nem levantar da cama. Escondo-me nos lençóis, tentando ignorar a profunda tristeza que sinto. 

Eu deveria estar aproveitando mais minha gravidez, deveria estar sentindo tudo aquilo que descrevem quando se está grávida, mas não consigo. Não me arrependo em nenhum momento por gerar esse bebê, mas nunca pensei que faria isso sozinha, que faria isso sem eles, que eles não veriam minha barriga crescer... Lembrar quê, na verdade, o que tivemos não foi real da forma que eu pensava que era, é como se uma faca tivesse sido cravada em meu coração e fosse pressionada cada vez mais. Sempre que fecho os olhos a imagem de seus sorrisos vêm em minha mente, minha pele se arrepia ao lembrar dos seus toques em meu corpo, suas vozes sussurrando em meu ouvido. Meu coração não quer acreditar que eles estavam comigo por interesse, mas minha razão me manda esquecê-los e seguir em frente. Estou tão confusa! 

Como eu gostaria que eles soubessem que estou grávida deles, que vissem a barriga crescer e conversassem com o bebê. As vezes fico questionando se o que fiz foi certo, mas ai lembro de tudo o que aconteceu comigo e em como esse nenê estaria vulnerável, assim como Henry ficou, se eu continuasse lá. Na verdade, eu não tenho a mínima ideia de qual seria ou como seria a reação deles com essa noticia, mas minha mente gosta de fantasiar que eles ficariam felizes e seriamos uma família feliz. Afinal, eles deixaram e instigavam meu filho chamá-los de pai. Me torturo com meus próprios pensamentos, me pego rindo das vezes que eles faziam palhaçadas só para me ver sorrindo ou quando assistiam minha série preferida comigo, mesmo sabendo que eu já tinha assistido milhões de vezes. Encaro por horas a foto deles com Henry no seu aniversário, minhas fotos com eles, nos momentos mais inusitados, como escovando os dentes ou comendo hamburgueres. Minha mente está sendo minha maior inimiga nesse momento. 

O dia amanhece e a luz do Sol passa através da janela. Me levanto devagar para não acordar Henry, que dorme profundamente ao meu lado e vou em direção ao banheiro fazer minha higiene. Paro em frente ao espelho e olho minha pequena barriga quê, apesar de estar aparecendo, ainda é discreta. Fecho meus olhos e acaricio minha barriga, pensando no rostinho em formação do pequeno bebê em meu ventre. Será que terá os meus olhos? Será que terá o sorriso deles? Será que vai puxar mais eu ou eles?                          

Assim que chego na cozinha, Ellie está colocando café na sua xícara e assim que me vê chegar, pega uma para mim e me serve. Fico surpresa no quanto é fácil conversar com ela e no quanto me sinto confortável em contar as coisas mais sofridas e pitorescas da minha vida, sempre recebendo seu carinho e abraço reconfortante em troca. Vejo nela, o que minha mãe deveria ter sido para mim. Meu pai e Ellie estão completamente rendidos pelo Henry, registram seu crescimento no marco da porta do nosso quarto. Também graças a ela, tenho registrado o crescimento da minha barriga em fotos, que insiste em medi-la com trena. Ontem fiz o registro quando fechou os quatro meses e duas semanas.

Criminous Paradise | TOM E BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora