Recomeços

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Quatro meses depois, estou devidamente instalada em Venus Cove. Consegui um emprego como revisora de livros de química, me permitindo trabalhar em home office e utilizar um pseudônimo para assinar as revisões, aluguei uma casinha simples afastada da cidade. Um chalezinho azul de dois andares, cercados pela floresta e o barulho dos insetos e animais. Assim que vi, foi como se todos os livros de fantasias tivessem se materializado em minha frente: fiquei encantada.  A atmosfera mágica se faz presente todas as vezes que o dia nasce, nos raios do Sol penetrando nos galhos das árvores, com uma meia névoa rondando o entardecer.  É perfeito! 

Meu tio abriu uma pequena mecânica, procura se manter o mais discreto em relação a mim e Henry

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Meu tio abriu uma pequena mecânica, procura se manter o mais discreto em relação a mim e Henry. Sou tão grata por tê-los por perto. Quando chegaram em Venus Cove, dias depois de mim e meu filho, expliquei; omitindo a parte deles serem gangsters; o motivo da fuga e o que aconteceu. Todos ficamos na casa do Joel; meu pai; e Ellie; a "namorada" que mora com ele; até arranjarmos um lugar para ficar. Mesmo contrário aos desejos do meu pai e minha madrasta para que ficássemos lá, ainda mais com minha gravidez. Tudo parece nos eixos. Constantemente apago os possíveis rastros nossos que podem surgir na internet, como as movimentações bancárias, minhas e dos meus tios. 

Cheguei no oitavo mês de gestação e nesses meses que se passaram, não há um dia que eu não queira meu bebê nos meus braços, mas que anseie que fique mais tempo protegido em meu ventre. Fico cada vez mais ansiosa para te ver, para saber o quanto cresceu, como é o formato do seu rosto, como será o som da sua voz, se terá meus cabelos ou olhos, ou será mais parecida com... eles. Observo a foto do primeiro exame, enquanto lembro, mais uma vez, como conheci teus pais. Os vi pela primeira vez na casa do tio Liam, imponentes e donos de si, com olhos oblíquos e indecifráveis. Desde aquele momento, que seus olhares encontraram com o meu, algo se agitou em mim. Quando nossas bocas se encostaram pela primeira vez, a eletricidade se apossou de mim e fiquei rendida por eles, até me apaixonar. Me apaixonar profundamente e fodidamente pelos homens mais intensos, complicados e protetores que já conheci.

Pela primeira vez, consegui ver o rostinho do meu bebê e descobri que é uma menina. Minha linda garotinha! Fiz uma consulta para saber como minha filha está e levei Henry pela primeira vez. A última vez que consultei foi no dia que desmaiei, depois de ver a notícia sobre a overdose de Viagra. A médica exigiu que eu evitasse me estressar, minha pressão estava muito alta e se continuasse assim, não conseguiria levar até o final a gestação. Por mais que eu soubesse que o pré-natal é de extrema importância, o medo de me localizarem falou mais alto. Fui na cidade para buscar o resto do enxoval da minha bebê e jurei ter visto Nick entre as pessoas na rua, com seu sorriso de canto, olhar penetrante e a presença inquietante que transmite perigo. Foi como um flash, um relance, mas não era ele. Não poderia ser ele. Senti meu coração acelerar e minha pressão despencar, então Ellie me obrigou a ir para o hospital. Ver os olhinhos do Henry, ao ver a irmã pela primeira vez, me encheu de emoção. Ele não parava de repetir o quanto ela é linda e preciso concordar totalmente. 

Desde que tudo aconteceu, evito falar sobre eles, sobrepujando todos os sentimentos, ainda, existentes em mim

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Desde que tudo aconteceu, evito falar sobre eles, sobrepujando todos os sentimentos, ainda, existentes em mim. Deixo as histórias e memórias apenas em minha mente, para que um dia, eu consiga lidar com elas quando conseguir falar em voz alta. Não procuro mais saber noticias deles, a última vez que procurei por algo, fui parar no hospital depois de desmaiar, quatro meses atrás. Tudo parece que seguiu da forma como deveria. Eu até acreditaria nisso, se o buraco em meu peito não me lembrasse sempre o quanto sinto falta deles. Mentirosa, mentirosa, mentirosa... repito isso todas as vezes que falo que está tudo bem.

Após a consulta pego Henry e vamos caminhar na praia, aproveitando que o Sol ainda se faz presente no céu. Enquanto andamos próximo a água gelada do pacifico, percebo que meu filho tem o olhar distante no mar. Ele não pergunta mais sobre eles, mas quando está fazendo algo e lembra que eles faziam com ele noto a expressão triste em seu rostinho. Crianças de três anos sentem e lembram mais do que pensamentos. 

Filho, tudo bem? — pergunto e ele me olha e balança a cabeça em positivo.

Enquanto ele joga a água para cima e gargalha alto, o mar bate em meus pés, fazendo um arrepio subir em minha pele. Acaricio minha barriga e sinto o chute costumeiro da minha bebê, me arrancando um sorriso. Acho que ela também gostará do mar.

A noite se aproxima e voltamos para a casa, molhados, cansados e com a sensação da maresia em nossos corpos. Assim que coloco Henry para dormir, ajeito algumas coisas em meu guarda-roupa e me deparo com a bolsa que está o dinheiro que peguei deles. Abro-a e encaro as muitas notas que estão ali, pois usei quase nada do que peguei. Faço uma promessa mentalmente de que devolverei esse dinheiro para eles. Ainda não sei como, nem quando,  mas vou. Termino de organizar as coisas e me deito, deixando a escuridão tomar conta da minha mente.

Acordo sentindo cada membro do meu corpo doer. Abro os olhos e quando me levanto, minha cabeça lateja tanto, que preciso respirar dez vezes antes de conseguir me levantar totalmente. Pego o celular e telefone para meus tios, pois moram mais perto de mim. Quando acendo a luz, vejo as cobertas cheias de sangue e automaticamente olho para as minhas pernas, que estão da mesma forma. O pânico sobe e começo a chorar desesperadamente, sem saber o que fazer primeiro. Desço as escadas com muita dificuldade, deixo a porta aberta e me sento no sofá, respirando rápido, tentando manter a calma, que não existe nesse momento. Abafo um grito de dor e rezo mentalmente para meu tio chegar logo. Intermináveis minutos se passam, até que vejo o farol do carro e a freada brusca do carro. Meus tios entram correndo, com a preocupação estampada em seus rostos. Me ajudam a ir até o carro, minha tia volta para a casa e meu tio dirige velozmente até o hospital. Assim que chegamos, ele faz uma gritaria, fazendo os enfermeiros aparecem com uma cadeira de rodas e me levarem para a emergência. "Tem alguma coisa errada" eu falo, entre lágrimas, "SALVEM A MINHA FILHA" grito, em desespero. O médico de plantão me examina rápido e me levam para a sala de cirurgia. Minha mente apaga, assim que sinto a pressão da agulha em minhas costas. 

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É uma menina! 

Gostaram? Não esqueçam de curtir e comentar para eu saber o que estão achando. 

Beijos

S. 


Criminous Paradise | TOM E BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora