Aguente

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Dois dias se passaram desde que conheci o pai dos meninos e fiquei com uma enorme sensação de já conhece-lo. Apesar de não ter conseguido ter um diálogo com ele, assim que vi a forma como ele sorri com os olhos, tive a impressão de que já nos vimos em outro momento da vida.

Os meninos estão cada vez mais escusos, tentam fingir normalidade, mas sinto toda a sua tensão quando transamos. O sexo com eles é sempre uma surpresa, intenso e bruto, mas agora parece que estão descontando toda sua fúria com uma agressividade extrema, como se o objetivo fosse apenas me fazer sentir muita dor, mas não aquela que junto vem o prazer. Mesmo quando eles fazem as coisas mais insanas, o prazer é para ambos, por mais bamba e dolorida que eu saia depois. Mas, agora, é como se eu estivesse sendo apenas o alvo que eles podem descontar sua ira. Como se eu tivesse que apenas aguentar toda o enraivecimento e explosões de ódio deles. E é o que estou fazendo, aguentando. Não sei o que aconteceu entre eles e o pai, nesse quesito eles são tão fechados quanto eu para falar, mas se fazer isso faz eles se sentirem melhor, então eu aguento. Por eles eu aguento, eu acho que aguento.

Acordo quase sufocando, Tom dorme na minha frente e Bill nas minhas costas, ambos estão me abraçando forte, com Bill com os braços envolta da minha cintura e Tom com os seus envolta do meu pescoço, quase não encosto no colchão, por estar envolvida no meio deles. Vou me mexendo para ver se soltam os braços, mas só faz eles me apertarem mais. "Preciso ir trabalhar" falo e eles resmungam um pouco e me solto com dificuldade . Assim que levanto, meu corpo todo é tomado por uma fisgada de dor e me apoio com dificuldade na cama. Pego a roupa que deixei separada no dia anterior e entro no banheiro, porém, antes de tomar meu banho matinal, olho-me no espelho. Pouco abaixo da minha clavícula, uma marca avermelhada de dentes está visível, passo meus dedos por cima e sinto a sensibilidade que me faz dar um gemido baixo de dor. Algumas marcas roxas e outras já esverdeadas estão na minha barriga, de tanto que eles me apertam. Ligo o chuveiro e tranco a porta, preciso desse momento sozinha sem ser esfolada de dentro para fora. Deixo a sensação da água quente relaxar meu corpo, procuro manter minha respiração controlada para não chorar, mas se torna inevitável as lágrimas não descerem quando tudo para estar um caos. Encosto minha cabeça na parede e deixo todos os pensamentos conflitantes virem, toda a bagunça causada por essa maldita lista, toda a singularidade e total insanidade que está sendo ter um caso com dois homens que precisam nitidamente resolver seus problemas emocionais e familiares. Um barulho na porta me tira dos meus devaneios e escuto a voz do Tom, rouca e arrastada, pedindo para entrar. Sei o que ele quer, sei que se ele entrar aqui vou sair com mais marcas do que entrei. Peço para ele esperar e termino o banho rápido. Coloco um macacão preto justo, que tem mangas compridas e um cinto afivelado, saio do banheiro com uma toalha enrolada no cabelo, me sento na cama e começo a calçar minhas botas de cano curto na cor caramelo. Tom me encara uns segundos e entra no banheiro. Assim que termino de me calçar, tiro a toalha, pego meu secador e vou em direção ao quarto do meu filho. O acordo e já o levo para tomar seu banho, enquanto ele brinca um pouco na banheira, eu seco meu cabelo. O tiro da água, seco, visto e volto a secar meu cabelo. Assim que termino, prendo em um rabo de cavalo, deixando minha franja e alguns fios soltos. Volto ao meu quarto e Tom está mexendo no celular, coloco meu casaco jeans folgado, dobro um pouco as mangas e pego minha bolsa.

— Tá indo aonde? — pergunta, largando o celular na cama.

— Eu vou trabalhar — respondo, como se fosse óbvio.

Hoje você não trabalha de manhã — escuto a voz sonolenta do Bill e ele abre os olhos lentamente. Como fui esquecer que eles sabem meus horários?

É que hoje tem reunião com todos os professores — contorno rápido e dou um selinho em Tom e outro no Bill e saio do quarto em disparada, antes deles me questionarem mais.

Criminous Paradise | TOM E BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora