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Ângelo Vitello

Encarando o teto refleti sobre as horas que se passaram e seus acontecimentos, ainda naquela noite.

Logo cedo notei um movimento em frente a casa, pensei que fosse mamãe mas tive a confirmação de que não era ela graças aos passos e automóvel marrom. Reconheci meu primo com facilidade. Seus ombros estão mais largos, cabelos num tom mais escuro e leves marcações no rosto indicando que a feição vinha mudando com o tempo... Quando retornava para a estrada, me afastei indo em direção às escadas. Pensamentos rondava minha mente embrulhando meu estômago de forma vigorosa, tentei achar a motivação mas falhei miseravelmente.

De banho tomado e cabelos úmidos, notei que um bom tempo havia se passado e a manhã envolveu tudo ao seu alcance. Passos soaram novamente enfrente a porta e escutei uma voz mansa e fraca ecoar do outro lado da porta. A reconheci com facilidade — mamãe tinha uma voz única e inconfundível. Olhei para baixo cerrando meus punhos, contraindo meu maxilar com firmeza. Grande era a minha vontade de abrir a porta e sair para os braços daquela que dizia me amar... Porém, às diversas fechaduras, trancas, e vozes me prendiam deixando-me impotente. Murmúrios soaram do outro lado, mal consegui escutar pois às paredes revestidas pelas ripas e madeiras impediram a passagem sonora perfeitamente do outro lado.

Depois de longos minutos, livrando-me de alguns cadeados, agachei meu corpo pro lado dando apenas o contato de minha mão com a caixa pelo outro lado da fresta. A fechando, levei o caixote até a pequena cozinha, o pondo na mesa de mármore — nele estava líquidos, frutas e lanches.

Sorri ao notar que mesmo não escutando minha voz ou recebendo qualquer carinho em troca, ela ainda me amava e cuidava de mim.

Descansei minha cabeça sobre o travesseiro da cama deixando minha mente vagar mais uma vez, na velocidade da luz, encontrei-me, mais uma vez, revivendo memórias engavetadas do meu passado...

O cheiro vindo da sala de jantar me faz esboçar um sorriso gigantesco. Deixei minha maleta encima do sofá indo em direção ao cômodo que era preenchido pelas conversas. Com passos rápidos e mãos fixas no bolso da calça, adentrei o espaço me deparando com minha imagem preferida; minha família toda reunida ao redor da mesa rindo e se divertindo. Mariana, a bebê de nove meses era segurada por sua mãe, Benício o menino de oito anos tinha seus olhos fixos no prato, minha irmã Valentina acariciava sua enorme barriga de oito meses. Com uma mão, mamãe acariciou o rosto de meu pai, pelo visto ficou com receio de sua piada machucar o coração aborrecido do meu velho. O olhar do menino ruivo encontrou com o meu, e um grito de alegria saiu de seus lábios fazendo a todos me olharem, logo o riso voltou enquanto o menino correu até a mim.

— Você chegou, titio! — grita animado apertando seus braços em volta da minha cintura. A gargalhada e conversas envolvem o ambiente me dando a certeza de que, estava em casa...

O lacrimejar e saudade atolaram meu peito me deixando com total descontrole dos meus sentimentos assim que tornei a realidade.

— Ah! — esbravejo enquanto esfrego minhas mãos em meu rosto, odiava ser sensível naqueles momentos.

Uma vontade louca de sair me fez querer fazê-lo, mas assim que minha respiração se tornou meu foco, me recompus. O mundo lá fora me deixaria mais em perigo do que lá dentro — era isso o que mais sentia.

Otto Vitello

As crianças próximas às mulheres tinham seus olhos fixos no filme que passava, mal consegui prestar atenção pois a minha preocupação com o trabalho e conversa com meu sobrinho Patrick estavam mais em foco.

Edgar saiu mais cedo pois o jantar com um dos novos associados estava o esperando. Sendo assim, apenas nós nove jantamos juntos.

Já tarde, Valentina — com seu filho em seus braços — e Isabella, foram às primeiras a irem dormir, Mariana e seu pai foi o próximo junto com Benício. Surpreendo-me muito com a velocidade que esse garoto vem crescendo!. Ficando apenas nós três na sala, me sentei ao lado de minha esposa prestando atenção no assunto que era comentado por elas. Relembrar bons momentos era o que elas estavam mais fazendo e amando. Quando Marina citou que tinha de ir para o hotel insisti em que ficasse ao menos três dias conosco, aqui tem espaço suficiente e sempre tem lugar para mais alguém. Depois de tanta insistência minha ela cedeu e foi um dos motivos que fizeram a mim e Nora ficarmos contentes.

Adentrei o quarto de Ângelo fechando a porta atrás de mim logo em seguida. Caminhei até a grande janela que é coberta pelas extensas cortinas observando a beleza que a varanda dá para aqueles que estão admirando o lugar lá fora. Daqui posso vê uma das partes do jardim, metade dos pedregais que terminam longe e se iniciam no portão duplo dourado, assim como os móveis da mansão — exceto o do quarto que estou, a variação da cor azul marinho, marrom e preto inundam o espaço — dão uma bela vista.

Inspirei me relembrando dos bons momentos que pude compartilhar ao lado do meu único filho. Mesmo que estejamos distantes e não nos falando, meu amor por ele continuará até o findar dos meus dias. Por um instante meu olhar vai até uma estrela, o seu brilho exuberante me faz lembrar da energia e sorriso daquele que se afastou de mim e família. Um suspiro saiu entre meus lábios acompanhado pelo meu movimento fazendo minha cabeça se abaixar.

— Por quê, Deus?

Lágrimas desceram sobre minha face queimando minha pele assim como a dor em meu coração.

— Por favor. Traga ele de volta. — supliquei assim que voltei a olhar para o céu. A porta sendo aberta ecoou atrás de mim, os passos de quem eu conhecia ecoaram e logo sua mão esquerda foi para meu ombro, sua cabeça se encaixou atrás do meu pescoço dando-me o entendimento que estava chorando. — Eu só quero meu menino de volta...

A Verdadeira Felicidade | Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora