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VALENTINA VITELLO

Enquanto as crianças brincavam no parquinho não deixei de observá-las um só instante. Amei o fato de estar frio, só assim poderia usar minhas roupas mais escuras e quentes. Obviamente, quando o ar pareceu esquentar mais um pouquinho, retirei meu casaco o deixando sobre minhas coxas. Minha bota de salto grosso tinha resquícios de terra como a barra da minha calça, para que não ficasse tão evidente dobrei a barra.

Ri quando Patrick decidiu brincar com os meninos no Gira-Gira. Pelo visto, ainda não tinha crescido mentalmente. Mariana ensinava Oliver a fazer uma casinha com a areia o deixando mais entretido com o momento.

Essas cenas me fizeram voltar ao passado e relembrar de um dos melhores dias que tive quando criança...

— NO TRÊS! — anunciou meu irmão — UM... DOIS... TRÊS!

Corremos com todas as nossas forças, Patrick e Ângelo sempre ganharam mas daquela vez, seria totalmente diferente. Eu amava ir a praia, principalmente pelas nossas apostas em corridas.

Quando eu tinha cinco anos, meu primo onze Ângelo nove, decidimos criar uma brincadeira. Teríamos que pegar uma bandeira e colocar em uma distância bem grande, o primeiro que chegasse venceria e poderia comer todo o sorvete. Por Patrick ser o mais velho, sempre ganhava — mas também, às pernas de ganso que tinha era sua verdadeira arma contra nós. Ao contrário das minhas, que mais pareciam de uma galinha pelo tamanho e eram totalmente contra mim.

Foquei minha atenção totalmente notando que estávamos muito próximos.

— Olha TINA, A SEREIA ESTÁ TE CHAMANDO! — gritou Patrick apontando para o lado.

— O QUE?! — olhei para onde apontou e, bom, caí na sua armadilha, o garoto me empurrou para água.

— EU TE ODEIO PATRICK! — gritei, nunca mais ficarei na ponta.

Ângelo deu uma gargalhada roubando toda a minha atenção, ele tinha conseguido, o meu irmão tinha ganhado.

— ISSO! — comemorou, correu em minha direção em seguida. Patrick rolou suas íris esverdeadas vindo em nossa direção minutos depois. Meu irmão me deu a mão ajudando a me levantar — Toma, pra você... — me estendeu a bandeira.

— Você está falando sério?! — perguntei surpresa.

— Ei! Isso é trapaça! — denunciou o garoto loiro.

— Qual é o problema eu entregar o meu prêmio para ela?

— Todos os problemas do mundo!

— Você está com inveja, isso sim! — falei dando a língua em seguida.

— Não!

— É sim, só porque o meu irmãozinho preferiu me entregar, e não a você!

Agarrei a cintura com um pouco de areia, de Ângelo, como se essa fosse minha salvação.

— Isso é ridículo!

— Parem vocês dois, aí não vai ter mais graça essa brincadeira... — Patrick bufou.

— Tá bom, você conseguiu ter o prêmio da mãos dele... — disse meu primo olhando em meus olhos — Agora, quero vê pegar das minhas mãos! — ele catou o objeto da mão do que estava em meu lado correndo em seguida. — VAMOS VÊ SE ESSA DUPLINHA CONSEGUE — gargalhou.

— Pronta?

— Pronta. — afirmei.

Iniciámos nossa corrida juntos, Ângelo era meu porto seguro em tudo...

A Verdadeira Felicidade | Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora