Nice - Junho de 2022
A situação em que eu me encontrava era para lá de desagradável e esperava com toda a minha vontade que ninguém passasse por ali.
Minha ideia inicial era levar Charles até em casa e o deixar em segurança no apartamento dele, mas ele começou a gritar dentro do carro para que eu parasse onde estava. Desceu do carro que ainda estava em movimento e correu por entre as ruazinhas estreitas da cidade.
Eu quis matá-lo pelo susto e acabei deixando o carro na primeira vaga que encontrei, para logo depois sair correndo atrás de Charles pela cidade que mais parecia um ovo e por isso, não foi difícil encontrar ele sentado em um banco de um bar caindo aos pedaços.
Respirei fundo e sentei ao lado do meu amigo, este que com os ombros abaixados tomava em um único gole o que parecia ser a vodka mais barata que ele já tinha visto na vida.
Em silêncio, pediu uma bebida e fiquei bebendo ao lado dele, que virava um copo atrás do outro entre os soluços do choro. Não sabia o que fazer para ajudar.
-Ela já está com outro Daniel - ele sussurrou para logo depois virar o que eu julguei ser a sexta dose de vodca que ele colocava para dentro. - Eu só queria ver aqueles olhos esverdeados e me irritar com a única mulher que me fez mudar.
-Você meio que buscou isso Charles - falei olhando a situação deplorável dele.
-Eu a perdi - mais uma lágrima escapou de seus olhos e ele imediatamente limpou com o antebraço. - Daniel e perdi por uma coisa que eu fiz.
-Eu amo aquela mulher desde o dia que eu a vi pela primeira vez e eu a perdi porque sou burro - ele bebeu mais uma dose de vodka.
- Ela voltou para a vida que ela nunca deveria ter saído. É como se eu... Não existisse. - ele se jogou novamente no banco e pediu mais uma dose ao dono do bar.
-Você precisa ir para casa Charles. - segurei ele pelo ombro e ele balançou-os, virando mais uma dose.
-Você acha que ela vai ser feliz sem mim? -ele me olhou.
-Nós teremos que esperar para ver, Charles. - mirei meu amigo e ele apenas abaixou a cabeça novamente.
Me dei por satisfeito quando ele levantou do banco, deixou uma nota no balcão e trançando as pernas, voltou para o carro, onde por vários minutos até a chegada ao prédio permaneceu calado.
-Você vai ficar bem? - perguntei virando para ele.
-Veremos. - simples e seco ele respondeu e desceu do carro, caindo bem na entrada do prédio e logo sendo ajudado pelo porteiro.
[...]
Canadá - Junho de 2022
Sai do circuito após as entrevistas, a temporada não vinha muito bem e minha vida pessoal também não, Maya havia levado o namoradinho para esse GP e eu fiquei extremamente incomodado com a presença dele ao lado dela.
-Charles - ouvi meu nome sendo chamado e virei dando de cara com Antonny ao lado de Maya é uma loira.
Ele se aproximou de mim e eu vinha na cara de Maya o quanto ela estava incomodada.
-Oi Antonny - falei sorrindo forçado.
-Deixa te apresentar. Essa aqui é minha irmã, Nora. Ela é modelo. - apontou para a loira que estava ao lado de Maya.
A loirinha era linda e sorriu para mim, mostrando duas covinhas adoráveis na bochecha. Eu sorri também e dei dois beijinhos no rosto dela.
-Você é mais bonito pessoalmente do que pela televisão. - Nora comentou o que me deixou completamente sem graça é Maya olhou para a garota com a sobrancelha arqueada.
-Discrição não é o forte dela. - Maya deu um sorriso completamente forçado para a garota.
-Estamos indo jantar, não quer ir Charles ? Faça companhia a minha irmã. - Antonny disse.
Cheguei a conclusão que definitivamente aquela família era pirada. Olhei para Maya e ela estava com os braços cruzados e nervosa o que me fez pensar em recusar, mas passar um tempo a mais ao lado de Maya seria agradável.
-Eu adoraria! - eu disse o que fez Maya revirar os olhos.
Assim que chegamos sentamos em uma mesa e pedimos algumas bebidas. Eu comecei a conversava com Nora que parecia ser uma garota legal, era meses mais nova que eu e gostava basicamente das mesmas coisas, como bandas e lugares favoritos.
Por mais que o papo estivesse interessante com Nora, eu olhava para Maya que estava de cabeça baixa mexendo no celular, enquanto Antonny olhava o cardápio.
-Vou querer uma dose de wisky ! - ele falou para o garçom.
-Duas.- falei e ele assentiu e em seguida perguntei a Nora - Um suco de melancia, né?
- E um suco de morango. - fiz o pedido de Maya que me olhou sem entender e segurou o sorriso o garçom anotou tudo e saiu.
O jantar foi agradável, exceto pela cara de tédio de Maya, o que nós fez sair do restaurante sem pedir a sobremesa.
-Essa é a minha filha - mostrei uma foto de Mavi no meu celular para Nora.
-Essa é a filha da Maya - ela falou franzindo a testa - Você é o pai da filha da Maya ?
- Ele não é pai dela - Antonny falou abrindo um sorriso - Eles não tem o mesmo sangue.
Quando ele terminou de falar a raiva começou a subir e eu caminhei rapidamente até ele segurando a gola de sua camisa.
-Você nunca mais abra a boca para falar que Mavi não é minha filha - falei encarando ele - Ou você vai ver o sangue na sua cara.
-Charles... - Maya falou perto de mim - Solta ele.
Soltei Antonny com força no chão que deu um gemido de dor, Nora correu até ele é Maya segurou no meu braço.
-Pobrecito - falei antes de sair de perto dele e da irmã.
Peguei a chave do meu carro e entrei no mesmo vendo Maya entrar no banco do passageiro, ela não falou nada apenas sentou e virou o rosto para a janela o caminho todo até o hotel.
Quando o elevador se fechou saindo da garagem ouvi a gargalhada de Maya bem ao meu lado. Olhei para ela e a minha garota parecia se divertir rindo de algo.
-Porque está rindo ? - perguntei segurando a risada.
-Você falou pobrecito antes de ir embora - ela gargalhava mais ainda. - Pobrecito Charles.
O elevador parou no andar do quarto de Maya e eu desci junto ela indo até a porta do seu quarto como sempre fazia.
-Obrigada por me trazer - ela falou sorrindo - Você é o melhor pai que Mavi poderia ter.
Os olhos de Maya estavam dóceis e amáveis, o que me fez me acalmar um pouco, por todo aquele estresse que passei nos últimos minutos. Era assustador o poder que Maya tinha sobre mim e ela com certeza deveria saber disso.
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NO REGRETS
FanfictionApós algum tempo, vemos que tudo aquilo valeu a pena e que o amor, sem medidas e sem limites, nos trouxe presentes muito mais importantes do que a felicidade.