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Sardenha - Junho de 2022

A fórmula 1 teria uma pausa de duas semanas entre as corridas e Sebastian organizou uma viagem incluindo todo o grid e amigos para sua casa de praia. Havíamos chegados todos ontem a noite e ficamos meio que amontoados nos quartos.

Assim que o dia nasceu a primeira pessoa que pulou da cama foi eu, desci para o andar de baixo aproveitando o silencio de todos para apreciar toda a beleza daquele lugar. Passei pela sala e segui para a praia observando o mar bem a minha frente e com os pés descalços caminhei pela praia e sentei perto do mar, vendo o horizonte e os pássaros que faziam seus cantos tão habituais.

-Que milagre é esse você acordado tão cedo? - A voz feminina bem atrás de mim me fez olhar imediatamente olhar para trás.

Abri um sorriso ao ver Isabela Vettel em pé segurando duas xícaras. Não podia deixar de reparar nas pernas grossas que o short jeans não cobria quase nada e o moletom grande que ela usava, que a deixava incrivelmente simples, não que isso interferisse em alguma coisa na beleza dela.

Isabella Vettel é sobrinha de Seb e a conheço desde que dividi a equipe com ele, a loirinha sempre estava nas corridas torcendo pelo tio.

-Não sabia se queria ficar sozinho, mas acabei perdendo o sono e vi você pela janela da varanda. Quer um café? - ela ofereceu a xícara e eu assenti com o mesmo sorriso ainda no rosto e bati a mão na areia fofa e prontamente Bella sentou-se ao meu lado.

-Não dormiu bem? - Perguntei pegando uma das xicaras de sua mão.

-Na verdade sim, mas acordo muito cedo e acabei me acostumando. Não passo disso. - ela deu de ombros e segurou a xícara com as duas mãos - E você dormiu bem?

-Sim, mas se bem que os roncos Pierre, Max e Lando me atrapalharam e muito. - revirei os olhos e ela riu.

-Eu acho que a Maya não foi com a minha cara. - ela balançou os ombros.

Senti  um sopro no coração porque eu sabia o quanto Maya podia ser geniosa com quem ela não ia com a cara, ou sentia ciúmes. E por mais que ela jurasse que não sentia nada, eu entendia o que passava naquela cabecinha. 

-Ela estava falando para a Sarah que você está interessado em mim e que te conhece muito bem para saber que não vai demorar muito para que aconteça algo. - ela me olhou e logo desviou o olhar.

-Maya tem um gênio do cão. - tentei  explicar ainda completamente embaraçado.

-Não, isso é apenas amor. - ela abriu um sorriso e eu arregalei os olhos. - Toda mulher se sente ameaçada quando outra se aproxima do seu amor, seja com boas ou más intenções, é normal.

-Eu não tenho mais nada com ela. - apressei em dizer. - Inclusive ela está namorando.

-Mas ficou claro que ela está apaixonada por você. - Ela falava como se tentasse montar um quebra cabeça que não se encaixava de modo algum em sua cabeça.

-Não Bella, de verdade Maya e eu somos apenas amigos. - expliquei e ela sorriu. - Ela pode sentir ciúmes, porque é normal após ter namorado e ter que conviver ao meu lado, mas ser apaixonada, não, nem um pouco.

-Acho que vou entrar - ela falou levantando - Estou com frio.

Franzi a testa pois fazia um calor enorme mas preferi não contestar e também levantei. Sem dizer mais nada relevante, voltamos para a casa e antes de entrarmos encontramos  Maya com uma roupa de esporte e tênis, segurando um copo de suco e sentada em um dos sofás da varanda.

Sem precisar dizer nada eu soube exatamente o que se passava naquela cabecinha dela, de modo que ela apertou tão forte o copo de vidro que jurei que ele iria se espatifar na mão dela.

-Acordada tão cedo?  - perguntei de forma divertida e para minha surpresa ela sorriu de um modo normal. - Mavi te derrubou da cama?

-Vou correr na praia. - ela falou assim que bebeu o último gole do suco e levantou e deixando o copo em cima de uma mesinha.

-Me espera colocar um tênis? - A minha proposta fez ela abrir um sorriso e assentiu com a cabeça.

Saiu correndo para dentro da casa enquanto Maya ficou parada na varanda e dois minutos depois voltei com o tênis e a mesma bermuda que eu vestia. Fomos até a beira da praia e nos aquecemos  começando a correr em um ritmo primeiramente lento, onde ficamos um do lado do outro em silêncio.

Apos um certo tempo em silêncio Maya parou abruptamente e eu parei junto com ela franzido a testa.

-Eu não deveria estar aqui e muito menos correndo na praia com você. - ela respirou fundo - Na verdade eu deveria ter esquecido você de uma vez por todas.

Aquela simples frase fez o meu coração saltar ,ela se afastou um pouco de mim  e passou a mirar a praia, ver a pequena ilha a algumas milhas e alguns barcos passeando livremente pelo mar.

-E por que não esqueceu? - perguntei e ela não me olhou, continuou parada olhando o horizonte.

-Sabe aquele brinquedo que te acompanha por toda sua vida? Aquele que você mais gosta, mais cuida e está sempre com você? Aquele que para salvar ele do cachorro que queria morder, você acaba sendo mordida, para salvar de uma queda, você acaba caindo junto. Mas que mesmo com tudo isso, todas as marcas que você causou nele e em si própria, você nunca consegue se desfazer por ser grande parte da sua vida? É assim com você, Charles. - ela me olhou e eu percebi o quanto ela se segurava para se manter firme e forte, quando eu sabia que por dentro ela estava em pedaços.

-As vezes acho que eu não me dou o devido valor, as vezes acho que sou um pouco masoquista, mas na verdade, eu gosto de ter você por perto. -ela deu de ombros e eu me  aproximei passando delicadamente o braço sob os ombros dela.

-Eu não tive oportunidade de falar isso para você ainda, pois achei que não era o momento certo, mas eu queria que você me perdoasse por ter agido daquela forma com você. - Falei e Maya me olhou com os olhos cheios de lagrimas. - Eu cometi o pior erro da minha vida e sei que te fiz sofrer da pior forma possível, mas eu sei que você é capaz de me perdoar.

-Por que eu faria isso, Charles?- ela me perguntou ainda me olhando.

-Porque você é melhor do que eu. - falei e ela abriu um sorriso pequeno piscando várias vezes para se livrar das lágrimas que estavam prestes a cair. - E por favor, não me joga fora, não me esquece, por mais que eu tenha te machucado e te derrubado muitas vezes, eu não consi... Eu não quero viver longe de você.

Completei a frase com a garganta ardendo, pois havia ainda tantas coisas a serem faladas e discutidas, mas eu sabia que Maya não estava preparada para aquilo e a ideia de sermos amigos confidentes era mais apropriada para aquele momento.

-Eu perdoo. -ela disse baixo me fazendo abrir um sorriso e a puxar para um abraço. -Isso significa que vou ter que te aturar comendo a sobrinha do Seb com os olhos e não falar nada?

-Eu nunca te disse que prefiro as morenas ? - cruzei os braços e ela riu levantando e logo começando a correr novamente e eu a acompanhei.

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