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Mônaco - Julho de 2022

Com uma velocidade assustadora a noticia do sequestro e do acidente ia se espalhando pelos meios de comunicação e o hospital em Mônaco começava a lotar de jornalistas do lado de fora, enquanto dentro, a policia e os bombeiros andavam apressadamente para todos os lados. As notícias eram escassas e as poucas informações que tinham era que elas estavam passando por exames para identificar o grau de riscos das lesões.

Eu estava na porta da emergência andando de um lado para o outro, enquanto os outros estavam todos sentados em sofás, sem dizer absolutamente nada. A dor aguda que atingia meu peito me deixava angustiada por saber que as pessoas que mais amava estavam lá dentro correndo riscos e eu não podia fazer nada para ajudar.

-Sr. Leclerc... - o delegado aproximou-se segurando alguns papéis e um saco lacrado com um celular dentro.

Eu imediatamente me virei afoita por novas informações.

- Nora Lombardi estava lá, como vocês puderam perceber, mas sobre ela não podemos fazer mais nada, pois ela está morta. - o delegado nos olhou e Charles concordou com a cabeça.  - Mas descobrimos que Antonny Lombardi era cúmplice dela e meus homens já estão em busca dele.

Fechei os olhos e respirei fundo. Me sentia mal por ter colocado Antonny no meio de todos nós e nunca imaginei que existia esse ódio por mim e por minha filha. Nunca poderia imaginar que tomaria aquele rumo e acabaria daquele modo.

Desviei o olhar para Lewis que estava sentado e se mantinha na mesma posição desde que chegamos ao hospital, debruçado sob as pernas e com os olhos fixos na parede, parecia em choque.

Charles passou a mão no rosto gélido, tentando aceitar que tudo aquilo estava mesmo acontecendo e não era um pesadelo asqueroso e assustador.

-Se tiver mais alguma informação, me procure. -Charles disse por fim antes do delegado prestar suas condolências e sumir pelos corredores branco do hospital.

Charles caminhou até mim e passou os braços pelo meu pescoço me fazendo aproximar dele e passando os braços pela cintura e acomodei meu rosto no peitoral dele, podendo finalmente colocar para fora tudo que estava sentido.

Nem que imaginasse algo tão doloroso, se compara a situação que estou vivendo. Minha filha e minha melhor amiga com meu afilhado na barriga jogados em algum canto desse hospital sofrendo de dor, sem certeza alguma do que viria a seguir.

-Familiares de Sarah Martino ? - a voz grave soou assim que a porta se abriu e em um segundo todos estavam de pé, olhando o médico. - As notícias não são boas...

O médico disse de cabeça baixa e Lewis passou às mãos no rosto começando a chorar.

-Sarah está em trabalho de parto devido o acidente - ele juntou as mãos e ergueu os olhos por cima dos óculos. - Mas temo que nas situações durante o parto aconteça o pior.

Lewis não aguentou mais a pressão e sucumbiu a dor, começando a chorar de um modo que deixou todos boquiabertos. Colocou as mãos na cabeça e começou a andar em círculos.

-Isso é desumano, tem que ter um jeito de salvar ela é o bebê. - falei entrando na roda que se fazia perto do médico e ele me olhou.

-Se a opção for essa, vocês perderão duas vidas se algo não der certo. - o médico explicou novamente com aquela calma irritante e eu olhei para Lewis que estava desesperado.

-Eu posso ver ela? - Lewis olhou para o médico que demonstrou certo receio, mas pela situação dramática acabou permitindo.

[...]

Mônaco - Julho de 2022

Fui com o médico até um tipo de centro cirúrgico, onde Sarah estava sob uma maca, coberta apenas com o lençol e respirando com a ajuda de oxigênio. Os machucados do acidente ainda estavam expostos e ela estava com os olhos fechados, mas assim que ouviu o barulho, os abriu e me encontrou chorando ao seu lado. Eu simplesmente não conseguia pensar em nada...

-Lewis - a voz dela saiu como um sopro no meio daquele ambiente silencioso.

Fechei os olhos e as lágrimas grossas escapavam dos meus olhos.

-Eu estou aqui por ele. - Sarah sussurrou novamente e eu peguei a mão dela, completamente machucada e roxa e a levei até a boca dando um beijo delicado nas costas da mão. -Você...Você vai ser um pai maravilhoso.

-Junto com você. - me abaixei até a altura em que ela estava e toquei o rosto gelado dela com as mãos.

-Cuida dele... - uma única lágrima escorreu por seu olho e eu balancei a cabeça negativamente.

Eu não a perderia. Não agora. Não com tudo que ainda tinhamos para viver.

-Não fala assim, vai dar tudo certo, nós vamos ficar juntos com ele e seremos muito felizes. - afirmei para ela.

-Eu... Eu escolhi você. - Sarah falou baixinho e eu fechei os olhos. - Agora você tem que escolher ele.

- Lewis? Estamos sem tempo. - o médico entrou na sala e Sarah tentou erguer a cabeça. - O que você decidiu?

-O bebê... - Sarah grunhiu alto olhando fixamente para os meus olhos. - Salva o meu filho.

O médico parou por dois segundos, mas logo se apressou em chamar sua equipe, que arrastou a maca de Sarah rapidamente. Fiquei parado vendo ela se afastar e me dei conta que aquela poderia ser sua última chance de falar, de ver aqueles olhos abertos, do sorriso debochado que me encantava aparecer... A ideia de viver sem Sarah para sempre era esmagadora e repulsiva.

Sai correndo atrás da equipe médica me enfiando com rapidez no avental azul que uma enfermeira me ofereceu na porta do centro cirúrgico. E lá estava ela, com os olhos fechados recebendo a anestesia.

-Doutor? - cutuquei as costas dele. -Eu sei que é difícil, mas por favor, por tudo o que o senhor mais ama, salva a minha mulher também... Eu não sei viver sem ela

Segui para o lado de Sarah vendo o monitor monitorando seus batimentos cardíacos que estavam fracos e a pressão marcando vinte e um por dez. Minha garganta secou e a única coisa que eu podia fazer naquele momento, era ficar ao lado dela.

-Sarinha... - sussurrei no ouvido dela que abriu os olhos num traço claro da dor que sentia. - Eu amo você.

-Eu vou te amar por mais mil anos. - A voz dela saiu num lamurio e eu fechei os olhos sentindo toda a força que as palavras que ela tinha usado faziam naquele momento.

Ela estava claramente se despedindo de mim. Ela começou a chorar e eu me inclinei sob ela, segurando com cuidado os dois lados da face machucada dela, antes de colar minha boca a dela.

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