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Mônaco - Julho de 2022

Respirei fundo pela terceira vez em menos de vinte minutos, tinha saído de uma emergência e estava sentada na sala de descanso médico pois meu peito doía de um modo torturante e a falta de ar quase me sufocava.

Meu celular começou a tocar no mesmo segundo e eu atendi ao ver o número de Pascale na tela.

-Maya acho que sequestraram Mavi e Sarah - ela falou e eu me apoiei sentindo uma coisa subindo em minha garganta que me impedia de falar.

Derrubei o celular no chão completamente atônita. Nada, mas nada de tudo que senti durante toda minha vida foi pior do que aquela sensação.

Sentei novamente na cadeira e peguei o celular no chão discando o número de Charles que atendeu no segundo toque.

-Oi Maya - ele falou.

-Levaram a minha filha e a Sarah - falei chorando e ele ficou em silêncio.

-Quem disse isso para você Maya ? - Ricciardo meteu-se no meio da conversa depois do silêncio de Charles.

-Pascale me ligou agora - eu só conseguia chorar.

-Estamos indo para Monaco agora - ele falou desligando o telefone.

Algumas hora mais tarde estavam todos dentro da minha casa ouvindo a explicação de Pascale que dava seu depoimento para a polícia que colhia informações.

Eu estava sentada no sofá totalmente dopada olhando Charles acariciando o ombro da mãe, que chorava copiosamente ao dizer tudo o que tinha visto.

Lewis ficou parado no mesmo lugar desde que chegou. Ele estava em pânico por Sarah ter sido sequestrada

-Nossa principal suspeita é mesmo por conta do dinheiro, se for assim eles logo farão contato. - o delegado de polícia após colher o depoimento de Pascale disse e todos ergueram os olhos para ele. - Mas não podemos descartar a ideia de vingança.

Olhei para o relógio impacientemente e vi que já passava das duas da manhã e os bandidos ainda não tinham feito contato. Todos ainda estavam sentados na sala e vi mais um policial entrando.

-Senhor? - um dos policiais entrou na sala um tanto afoito. - Estávamos fazendo a perícia e notamos que os bandidos figuram no carro da vítima Sarah.

- A câmera de segurança filmou uma mercedes preta - todos olhamos para o policial e Lewis levantou do sofá.

-Eles roubaram minha Mercedes. - Lewis disse alto - Meus carros têm rastreadores.

Lewis puxou o celular do bolso e saiu caminhando com o policial para localizar onde o carro estava.

Não acreditei ao ver a estrada que estava nos levando para Génova completamente interditada e com um pequeno trânsito àquela hora da madrugada. Estava exausta e completamente dopada enquanto Charles dirigia ao lado do delegado na frente e ela atrás junto de Lewis.

Ninguém falava absolutamente nada, afinal, não tinha o que falar, era a hora de rezar e implorar para que tudo ficasse bem. Os guardas de trânsito sinalizavam com lanternas para reduzir a velocidade e o susto de ver o caminhão do corpo de bombeiros passando com uma velocidade alta, cortando a fila de carros e atrás mais duas ambulâncias.

-Charles... - segurei o ombro dele já sentindo as lágrimas virem à tona.

-Não foi com elas, fica tranquila. - ele segurou fortemente o volante do carro na mesma hora que o celular do delegado começou a tocar.

-Sim... Entendido. - disse firmemente e logo em seguida desligou. - Minha equipe estourou o galpão e capturou um dos bandidos, mas as duas não estavam la.

-Essa é a única estrada que existe em Génova... Onde quer que foram, eles passaram ou vão passar ainda por aqui. - o delegado falou.

-O acidente... - Lewis murmurou com a voz baixa assim que passamos pelo  carro prensado por um caminhão e a barreira de ferro.

Tudo estava bem iluminado e o socorro se amontoava sob o carro que tinha virado um amontoado de ferro. Grudei as mãos na janela, prestando atenção no acidente e a pessoa em cima da maca completamente cheia de sangue me fez berrar.

- Sarah. - Ao falar aquilo Charles meteu o pé no freio e eu pulei do carro com Lewis atrás de mim.

Corremos e empurramos toda a polícia e bombeiros que cercavam o lugar. Meus  olhos não conseguiam compreender com exatidão o que estava acontecendo, era muita gente. Muita luz. Muito barulho da máquina que cortava o ferro. Muito sangue... Muito sangue em Sarah, que passou em minha frente desacordada.

-Não! Não! NÃO! - berrei e me atirei para frente tentando tocar nela que estava com um corte grande que ia do rosto até o pescoço e o resto do corpo coberto de sangue.

-Não é possível.. - Lewis colocou as mãos na cabeça ao ver Sarah passando em sua frente naquele estado e as lágrimas brotaram e ele pulou em cima dela e tocou o rosto dela com as mãos.

-Não toque nela senhor. - o bombeiro gritou e andou mais rápido com Sarah levando-a para dentro da ambulância.

Dois policiais me seguraram quando eu tentei ir até o carro procurar Mavi.

-Minha filha está lá dentro, tire ela de lá. - Charles pedia incansavelmente para o bombeiro chorando como uma criança.

-Capitão... - o bombeiro que cortava as partes do carro gritou de lá e Charles e o capitão olharam. - Estão todos mortos.

Olhei para Charles sem acreditar realmente no que tinha ouvido. Via tudo em borrões, a faísca da máquina cortando o ferro, os carros dos nossos amigos chegando e nada fazia sentido. Cai de joelhos no chão e tampei o rosto com as mãos.

Vi os bombeiros tirarem um corpo pequeno e vi ser Mavi, ela estava desfalecida e sangrando no pescoço e na cabeça. Os olhos dela estavam fechados e o rosto lavado de sangue. Era a imagem mais aterrorizante de minha vida, ainda mais por saber que ela não estava mais ali.

Os paramédicos avançaram em cima de Mavi, nem se importando de ter Charles ali ao lado.

Os bombeiros retirando uma mulher do carro, que assim que foi colocado no chão, eu reconheci que era Nora. A raiva brotou do fundo de meu peito e eu  avancei em cima dela, tendo que ser segurada pelos bombeiros.

-Ela quebrou o pescoço... Está morta.- o médico disse para mim impedindo que fosse para cima de Nora.

-A garota está viva. - o paramédico que estava em cima de Mavi gritou para os outros que se apressaram em trazer uma maca. - A pulsação está fraca...

Olhei para Charles e me atirei em cima dele, gritando de alívio ao saber que minha filha estava viva. Mavi passou rapidamente perto de nós e foi encaminhada diretamente para a ambulância.

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