08. Amigo

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🎱| L8.
13h47, segunda-feira.

Início de semana sempre era corrido, já tinha passado metade do dia e eu já tinha feito coisa pra caralho.

Tinha acabado de descansar as pernas na cadeira e vem a porra da Carolina encher meu saco.

L8: Não aperta minha mente não, porra.

Carolina: Você tem que falar pro Leozinho, Luís Otávio. — Aumentou o tom de voz, ela estava putinha por conta das amigas dele. — Ele fica na maior conversinha com aquelas duas.

L8: Vou nem abrir minha boca pra falar nada disso, namoro é teu, resolve tu e ele. — E tu acha que a maluca parou de falar?

Carolina: Você como meu primo deveria ficar do meu lado. — Meteu essa olhando pra mim. — O Leonardo não tem que ficar dando atenção pra aquelas duas cachorras, a atenção dele tem que ser toda pra mim.

L8: Carolina, vaza daqui que eu tô cheio de coisa pra fazer. — Ela me olhou duas vezes antes de sair batendo pé. Eu ein, eu lá tenho cara de psicólogo? Se fuder.

Levantei puto da cadeira já, tava cheio de dor de cabeça e ainda vem uma dessas.

Minha moto tava com um menor que foi fazer um favor pra mim e eu tive que subir o morro andando mesmo. Geral que eu conhecia parava pra falar comigo, cresci desde molequinho aqui nesse lugar, conhecia metade da favela.

Passei na frente da casa a amiga da Mafê e a baixinha estava saindo na mesma hora.

L8: Fala tu. — Cutuquei a doida. 

Ana Alice: Oi, e aí? — Sorriu fraco. E aí que eu quero saber da tua dupla, cadê?

L8: Não foi trabalhar hoje? — Notei que ela não estava com o traje branco como sempre.

Ana Alice: Turno da noite hoje, as escalas estão diferentes. — Hum. — Mafê inclusive tá no plantão, só larga 19h.

L8: Mó trampo isso aí. — Cocei a nuca. Dei tchau pra ela e voltei a subir o morro. Tem vezes que eu esqueço o quão cansativo era subir isso tudo a pé, tá doido mermão.

Cortei caminho pelos becos, em um deles eu vi uma mina mamando um mano logo ali, porra, no clarão do dia e com gente passando toda hora.

Apertei o lábio para não rir e quando o cara virou o rosto eu vi o Roger, vaporzinho, ele abriu mó olhão pra mim. Neguei com a cabeça e passei por eles batidão, que vacilo com a mina dele.

Esses negos aqui do morro as vezes não dão valor pro mulherão que tem dentro de casa. Só pela ideia que eu troquei com a mina ontem dava pra perceber que ela tinha mó visão pro futuro, não tinha mente pequena como a maioria aqui de Vigário. Aí vem um merdinha desse e faz essa sacanagem com a garota.

Não era da minha conta, claro, mas que essa parada tinha me deixado intrigado tinha.

🐆 | Maria Fernanda.
17h04, segunda-feira.

Amo meu trabalho, mas hoje eu tava tão afim de ter ficado em casa.

Ainda faltavam quase duas horas pro meu plantão terminar e eu já tava enlouquecendo. Tinha perdido as contas de quantos copinhos de café já havia tomado.

Não parava de entrar paciente, as vezes a UPA lota e sobrecarrega os enfermeiros do plantão. Porque os médicos mesmo, não se preocupam em sair do horário de descanso para ajudar o restante da equipe.

Estava mais que exausta quando bati meu ponto para sair, estava com fome e além disso uma enxaqueca desgraçada.

Subir o morro até em casa era o desafio do dia, sem contar na bolsa pesada que eu estava carregando. Subi dando pausas no caminho,  cortando pelos becos e cantarolando uma música na cabeça.

Um novo (re)começoOnde histórias criam vida. Descubra agora