23. Desenrolo

626 17 0
                                    

🎱 | L8.
19h40, terça-feira.

Fui com a Braga até Parada de Lucas, com ela curiosa no meu ouvido pra saber quem era a irmã do Espinha.

Braga: Tu conhece o mano a mais tempo e não sabe disso, caraí.

L8: Larga de ser fofoqueira. — Fui parando a moto na entrada de Lucas, favela tava cheia de barricada. — Aí qual foi, Teteu tá por aí? — Perguntei ao moleque da contenção.

- Quer o que?

Braga: Assunto com ele, fofo. — Ele passou um rádio e encarou nós dois. — Diz que são os amigos de Vigário. — O moleque mandou o papo e recebeu o aval pra liberar a gente.

L8: Teteu tá brincando no comando não ein. — Dei risada e saí voado até a boca.

Vivia colando aqui em Lucas, curtia a galera daqui e o baile mais ainda. Conhecia esse morro tanto quanto Vigário Geral.

Teteu: Quem é vivo sempre aparece né. — Ele foi levantando da escadinha que levava até a laje da boca e veio cumprimentar nós dois.

L8: Tu que sumiu. — Abracei ele dando dois tapas nas costas.

Teteu: Minha barbie cada vez mais gata. — Sorriu indo abraçar a Braga. — Qual o desenrolo de vocês? — Assumiu a postura e cruzou os braços esperando a gente falar.

Braga: Espinha mandou o papo que quer a mãe dele que mora aqui sob tua proteção. — Ela explicou.

Teteu: E ele não faz isso porque mermo?

L8: Disse que não se dá bem com a coroa. — Adiantei. — Mas manda aí, vai fazer ou não?

Teteu: O que vocês quiserem, irmão. Minha dívida com vocês de Vigário tá alta, essa parada aí é mole de resolver. — Concordou. — Só tem que me passar o proceder depois. — Fez gesto de dinheiro com os dedos.

L8: Jaé então, Espinha vai acertar o resto contigo.

Braga: A cerveja tu que paga agora? — Falou rindo.

Teteu: Por minha conta, mas ó. — Apontou o dedo. — Sábado vou colar lá no baile de vocês, só pra ver se tá uva ainda. Quero tudo na tua conta. — Bateu fraco nas costas da Braga.

Braga: Quem tá podendo é ele ai, sou meramente vapor lá dentro. — Meteu mó caô apontando pra mim.

L8: Pilantra pra caralho.

Teteu: Tô ligado na dela. — Ele riu.

Acabou que a gente ficou até tarde da noite no bar, jantamos por aqui mesmo e voltamos pro morro já era quase meia noite.

🦋 | Ana Alice.
07h02, quarta-feira.

Mafê: Aí Alice, logo cedo isso. — Reclamou ainda escutando o áudio no meu celular.

Ana Alice: Se eu tive que escutar, tu também vai. — Ri.

A dona Vivian tinha, simplesmente, mandando um áudio de mais de dois minutos no grupo dos enfermeiros e deixou claro que na sexta-feira nós tínhamos uma ação social em Manguinhos e que éramos obrigadas a ir.

Mafê: Quero só ver quem vai dar conta da emergência se ela vai tirar metade da equipe de manhã. — Falou ainda escutando o áudio, enquanto a gente andava até o postinho.

Ana Alice: De manhã não gata, termina de escutar pra tu ver. — Ela fez careta escutando a parte bem específica de que a ação social era durante to-da a sexta-feira. Das 06h às 20h da noite.

Mafê: Caralho! — Ouviu os últimos segundos e me entregou o celular. — Pra quê descansar né?

Ana Alice: A gente é de ferro. — Revirei os olhos, puxando a Mafê pelo braço pra gente atravessar a rua. O som alto da buzina da moto me fez soltar um grito. — Tá maluco? — Gritei sem nem ao menos ver quem era.

L8: A rua é de vocês, foi mal aí. — Disse debochado parando a moto na frente da nossa passagem. — Bom dia, meninas.

Ana Alice: Bonjour. — Sorri falsa.

Mafê: Bom dia, Araújo.

L8: Vai virar costume te ver cedo todo dia? — Ele secou ela e eu fiquei só de canto olhando. A besta da Mafê nem percebeu a maldade no olhar dele.

Mafê: Pois é.

L8: Bom trampo aí pras duas. — Ele desceu direto quebrando no primeiro beco e eu lancei meu olhar pra Mafê.

Ana Alice: Vai virar costume é? — Repeti rindo e ela me mandou dedo.

Mafê: Para de ser boba.

Ana Alice: Aí L8, sou uma boba mesmo, nem percebi tu comendo minha amiga com o olhar. — Debochei caindo na risada. — Amiga, ele tá muito querendo te comer denovo.

Mafê: Nossa Alice, como você é esperta. — Ela revirou os olhos e me puxou pra andar de volta. — Ele me chamou pra sair na sexta, agora com essa ação social não vou conseguir ir.

Ana Alice: Ah, mas tu vai sim.

Mafê: Lá vai acabar tarde da noite Alice, vou estar o pó da rabiola.

Ana Alice: E tu vai perder a chance de ficar com ele denovo?

Mafê: Nós ficamos ontem quando ele me deixou em casa, esqueci de te contar? — Olhei pra cara falsa dela.

Ana Alice: Claro que você não mencionou isso ontem, só falou que tinha jantado com ele.

Mafê: E ficamos ué. — Falou simples.

Ana Alice: Tu já me manteve mais informada ein.

Mafê: Olha o drama.

Ana Alice: Tu vai dar teu jeito de sair com ele sexta, ok?

Mafê: Até parece. — Ela riu. — Agora quem sabe no baile de sábado eu não consigo algo com ele? — Olhei pra cara dela, bicha mó safada.

Ana Alice: Pra quem evitava baile...

Um novo (re)começoOnde histórias criam vida. Descubra agora