24. Perdão

653 24 0
                                    

🎱 | L8.
09h31, quarta-feira.

Dia da missão chegou e eu já levantei naquele pique, já tava desde cedo na boca com os moleques, só esperando o aval do Espinha, que tava olhando pra todo o esquema procurando sei lá o que.

Braga: Vai ser de que horas isso?

Espinha: Tem outra parada pra fazer? É só meter o pé, boto outro no teu lugar. — Foi totalmente grosso, sem necessidade nenhuma pô.

Sabia que a parada que o x9 falou ontem, mexeu com ele. Conhecia o Espinha há tempo e nunca vi ele tão nervoso e inquieto como tava hoje.

Foi só o mandado lá mencionar a irmã, que eu nem sabia que existia, que ele ficou transtornado.

L8: Aí irmão. — Levantei indo pro lado dele. — Nós já bateu isso aí um milhão de vezes, já tá todo mundo mais que ciente de como vai acontecer. Sem neurose, pô. — Dei um toque, afastando os bagulhos da frente dele.

Espinha: Tu tá no comando dessa missão, não vai vacilar. — Ele deu o papo e saiu da boca.

Braga: Maluco tá doidão.

Kauê: Fica aí brincando, vacilona. — Ele puxou leve o cabelo dela.

Juntei os manos antes de sair e esperei dar o horário certo pra gente ir pegar o carregamento.

A gente passou a manhã toda preparando as armas, mas eu tava confiante que o bagulho ía sair tudo certinho.

E foi só tranquilidade na missão, era papo de quatro da tarde quando a gente voltou pro morro com todo o carregamento de drogas. Tinha dado tudo certo e geral tava felizão.

L8: Aí Espinha, tamo de volta. — Abri porta da boca e olhei pra ele que tava mexendo no telefone.

Espinha: Tô indo resolver uma parada, só tava esperando tu voltar.

L8: Algum bagulho sério? — Ele virou a cabeça pra mim antes de sair da sala.

Espinha: Nada demais. Tira tua parte e divide o resto com os moleques. — Peguei o envelope da mão dele, que só saiu andando.

Fiz o que ele disse, tirei o meu e dividi pra cada menor que foi na missão. Tudo igual, comigo é no certo.

🚬 | Espinha.
16h53, quarta-feira.

Subi nervosão o morro de Parada de Lucas e parei na casa da coroa, o Teteu já tinha dito qual casa era e tava eu ali paradão na frente do portão.

Toquei a campainha e por ser alto tive visão de boa parte da casa por dentro, o pequeno quintal era tomado de plantas e flor de tudo que é tipo. Sorri de lado percebendo que dona Josi ainda se amarrava em flores e plantas.

Foi preciso eu tocar a campainha mais duas vezes e eu a vi de longe vindo abrir o portão, mas sua cabeça estava baixa e ela ainda não tinha me visto pela brecha do portão de ferro.

Josiane: Esqueceu o que dessa vez, Mateus? — Escutei sua voz sair com ar de riso, mas assim que ela abriu o portão seu sorriso foi fechando aos poucos. — O que você quer aqui? — Sua fala baixa me deixou sem reação.

Espinha: Podemos conversar? — Soltei o ar que eu estava prendendo e ela hesitou na hora de responder.

Josiane: O que quer aqui? — Insistiu na pergunta.

Espinha: Me desculpar, mãe. Eu vim aqui pra isso... — Vi que ela abaixou a guarda e me olhou séria, assim como fazia quando eu era menor e aprontava alguma coisa.

Josiane: Entra. — Ela abriu mais o portão e me deu passagem pra entrar. Esperei ele fechar o trinco e entrei com ela dentro da casa. — O que te fez vir aqui, justamente agora depois de tanto tempo?

Espinha: Acontece que eu não consigo mais viver minha vida sabendo que deixei uma parte dela pra trás, mãe. — Olhei pra ela com a voz embargada já. — Tô ligado que eu não tinha o direito de ter sumido e deixar o peso de tu doente no colo da Fernanda.

Josiane: Você fez uma escolha. Eliseu.

Espinha: E me arrependo disso. — Ela sentou no sofá e apontou pra eu fazer o mesmo. — Mãe, tô aqui pedindo pra tu um bagulho que eu sei que é difícil pra caralho.

Josiane: Muda o linguajar dentro da minha casa, não foi assim que eu te criei. — Ela apontou me fazendo perder toda minha postura. — Você foi um moleque fugindo das tuas responsabilidades como o homem da casa, Eliseu. O fato de você ter ido não me machucou tanto quanto você ter demorado tanto para correr atrás do tempo que passou longe. — Ela não me olhava enquanto falava, estava com o olhar preso num ponto fixo evitando contato comigo. — Você tem uma filha não é? — Ela me olhou com uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto. — Eu tenho uma neta que não tive a chance de conhecer, puro capricho seu.

Eliseu: Eu vou te pedir perdão da forma mais limpa possível. — Virei pra ela segurando na sua mão. — Nada vai justificar o tempo que eu passei longe de vocês, sei que a Mafê vai continuar fingindo que não me conhece, vou entender que tu não me queira mais na tua vida, mas tô aqui falando pra você, mãe, que eu tô arrependido de ter fugido e se você permitir eu quero voltar a fazer parte desta família.

Josiane: Eu jamais seria capaz de renegar você, filho. — Ela me abraçou apertando meu corpo, seu choro baixo me deu um certo alívio, mas ela logo se afastou olhando nos meus olhos. — Espero de coração que você esteja arrependido de verdade.

Espinha: E eu tô. — Passei a mão no rosto dela, secando a bochecha molhada pelo choro. — Eu amo você, tá escutando?

Josiane: Eu te amo, filho. — Ela me puxou pro abraço dela denovo. Era tão bom ter a sensação do amor de mãe dela.

Me culpo direto de ter feito as duas primeiras mulheres da minha vida sofrerem tanto, amava minha mãe e a Mafê acima de tudo, e faria tudo pra manter as duas em segurança.

Fiquei com ela praticamente o resto do fim do dia, a coroa parecia feliz em me ter ali e eu estava mais ainda sabendo que ela tinha me perdoado.

Um novo (re)começoOnde histórias criam vida. Descubra agora