🐆 | Maria Fernanda.
12h36, terça-feira.Até que enfim uma manhã tranquila aqui no trabalho, consegui sentar pra almoçar com calma e junto da Ana, que hoje tinha pego o mesmo plantão que eu.
Ana Alice: Ein, quando voltam tuas aulas mesmo? — Me lembrou chega fiquei animada, faltava tão pouquinho pra terminar.
Mafê: Agora no finalzinho de Agosto já.
Ana Alice: As minhas começam em Setembro só. — Ela choramingou.
Mafê: Mas falta pouquinho, já já a gente termina.
Ana Alice: Se Deus quiser né, porque me falta vontade de ir pra aula.
Mafê: Quanto mais aula pegar, mais cedo a gente termina, doida.
Ana Alice: Fala por você que dá conta, meu amor eu peguei DP du-as ve-zes!
Mafê: Chacota, Ana Alice. — Dei risada. — Tu se ferra porque falta mais que tudo.
Ana Alice: Me dá preguiça. — Ela fez careta.
Foi graças à faculdade que a gente conseguiu uma vaguinha de emprego aqui na UPA, na época do nosso primeiro estágio a Vivian, chefe das enfermeiras daqui gostou de nós duas e nos efetivou. Isso foi bem no início do curso mesmo, quase quatro anos atrás.
E agora falta pouco para eu me formar e conquistar meu tão esperado diploma, não via a hora de ter o gostinho de estar formada.
Mafê: Já se resolveu com o Kauê? — Olhei bem curiosa pra mensagem que ele havia acabado de mandar.
Ana Alice: Ele foi lá em casa ontem. — Começou a falar e eu olhei pra cara dela já sabendo do resto. — Aí Mafê, nem vem.
Mafê: Não abri minha boca ainda.
Ana Alice: Mas eu te conheço. — Revirou os olhos. — Ele se desculpou e tá tudo certo, não tem pra que ficar de cara fechada pra sempre pra ele.
Mafê: Tá, né. — Dei de ombros e ela mudou o assunto comentando uma fofoca do morro. — Como tu não me falou isso safada?
Ana Alice: Mas isso foi ontem. — Ela desbloqueou o celular e abriu a galeria me mostrando uns prints. — Lembra dela né? — Mostrou a foto de uma menina que estudou com a gente mais nova.
Mafê: Lembro, da igreja né?
Ana Alice: Da igreja sou eu amor. — Ela riu passando pro lado e eu olhei boquiaberta pra foto. — Essa foto tá rodando todos os grupos do whatsapp. — A Cassiane, menina que estudou com a gente aparecia em uma rodinha com mais quatro homens, tava mamando um cara e com uma fantasia de coelhinha uó.
Mafê: Que porra é essa? — Soltei uma risada alta. A Ana Alice bloqueou a tela e me olhou morrendo de rir.
Ana Alice: Da igreja né? — Falou ainda rindo.
Mafê: Garota, deixa a família dela saber disso!
Ana Alice: Fernanda! — Ela segurou meu braço alterada. Quando se tratava de fofoca a Alice virava o cão. — A mãe dela desceu a porrada nela na frente de geral, você tá em que mundo que não ficou sabendo disso? A treta toda aconteceu na tua rua, garota. — Abri a boca mais chocada ainda. A Cassiane morava na mesma rua que eu, porém duas casas acima.
Mafê: Que horas foi isso?
Ana Alice: Ontem a noite, umas sete. Você não tinha chegado do trabalho não?
Mafê: Ontem eu fui jantar com o L8. — Falei baixo e ela me encarou indignada. — Tu não me deixa falar, ué.
Ana Alice: Já tá nessa de ficar saindo com ele, é?
Mafê: E com o sobrinho. — Pontuei.
Ana Alice: Ele tem sobrinho?
Mafê: Disse que tem, mas o menino tinha um carinho muito grande por ele, o chamou de pai e tudo.
Ana Alice: Choc. — Colocou a mão na boca. Não sabia se ela tava chocada com a parada da Cassiane ou com a outra revelação. — Já vi que não posso ficar um dia sem ver tua cara que eu já perco um monte de fofoca.
Mafê: Não sei que monte. — Ri, levantando pra lavar meu pote. Outros funcionários haviam chegado na cozinha e nós duas saímos para liberar espaço.
💋 | Braga.
19h21, terça-feira.Braga: O que tu quer? — Encarei a Carolina parada na salinha da boca.
Carolina: Viu o Leonan? Não falou comigo o dia inteiro.
Braga: Tá fora do morro. — Menti com a minha melhor cara pra ela, que me olhou de volta mas logo saiu da boca.
Xadrez: Pra que mentir pra garota? — Empurrou meu joelho com o braço.
Braga: Ah, garota chata. Leozinho pode nem cagar que ela quer saber onde tá.
Xadrez: Namoro dos outros e tu se metendo.
Braga: Me meto mesmo, Leozinho é meu irmão. — Nem liguei pra isso, Elias só negou com a cabeça e voltou a separar a coca em saquinhos.
Xadrez: Tem nada pra fazer não, pô? — Me olhou de lado.
Braga: Nadinha. — Revirei os olhos, escutando na mesma hora o L8 me chamando no radinho.
L8: Cola aqui na casinha. — Peguei minha pistola e coloquei na cintura indo pra minha moto lá fora. Cheguei em papo de dois minutos na casa de tortura.
Braga: Qual foi? — Olhei o moleque amarrado na cadeira. Estavam ao lado dele L8, Leozinho, Espinha e o Kauê.
Leozinho: Esse merdinha tá de x9 na favela.
Espinha: Só quero que ele abra o bico pra falar a mando de quem que ele tá aqui. — O Espinha puxou a cabeça do cara pelo cabelo.
L8: Tá calado depois da coça, né menor? — Olhei ele por completo, não parecia ter mais de vinte anos.
- Já disse que eu não vou falar nada. — Mesmo cheio de sangue no rosto e machucados pelo corpo, o infeliz abriu um sorriso fraco. — Como tá a família, Espinha? — Olhou pra ele e todos nós encaramos o Espinha. — Tua irmã ainda continua gostosa? — Sua pergunta pareceu mexer bastante com o Espinha.
Espinha: Melhor tu calar a sua boca, seu pau no cu! — Ele deu só um chute na cara do maluco, o que foi o suficiente pra deixar ele desacordado.
L8: Quem é esse menor? — Perguntou pro Espinha.
Espinha: Não sei caralho, nunca vi esse merda na minha frente.
Kauê: E que papo é esse de irmã? Pensei que tu era filho único.
Espinha: Namoral, isso não é da conta de vocês.
Braga: Mas desde o ponto que ele toca nesse assunto é porque sabe que é um dos seus pontos fracos. — Falei olhando entre o moleque e o Espinha. — Já que tu tem essa irmã, deveria protegê-la, pela forma que ele falou ela pode sim tá na mira seja lá quem for o chefe dele.
Leozinho: Braga tem razão.
Espinha: Esse bagulho eu resolvo depois. — Ele esfregou o rosto, estava aparentemente inquieto. — Tua missão é descobrir quem é esse mandado. — Apontou pro Kauê, que confirmou. — Tu e L8, preciso de vocês em Lucas pra cuidar de uma parada pra mim. — Apontou pra mim e pro Araújo.
Leozinho: E eu?
Espinha: Brinca aí com esse filha da puta, mas deixa vivo que o dele vai ser cobrado mais tarde.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um novo (re)começo
General FictionMaria Fernanda merecia uma segunda chance, um novo (re)começar, precisava por ela e por aqueles que amava. Seu caminho traçou por lugares escuros e difíceis, mas sua motivação por sair do fundo do poço não a deixou desistir.