15 - D e s c a n s o

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Billie Eilish - Lovely

Não é adorável, completamente sozinha?

Coração feito de vidro, minha mente de pedra

Riley Donovan

Solto o ar preso sentindo minha cabeça latejar. O cheiro de flores misturado com sangue invade meus sentidos. O cheiro dela já está por toda parte, principalmente em mim.

Chery Baldwin fugia de todas as linhas lógicas da compreensão sobre a mente humana. Era inconsciente, imprudente e absurda. As imagens da última luta passam como um borrão diante dos meus olhos. O soco que recebeu deveria ter finalizado a luta, ela perderia por nocaute.

Aquele bastardo falou algo para ela, algo que virou uma chave. Foi como ver uma nova Chery ressurgir diante dos meus olhos.

Ela partiu para cima dele como se a sua vida dependesse daquele único momento. Foi tão rápido e insano que demorou para que entendêssemos que a luta tinha se tornado uma catástrofe. Antes que eu pudesse fazer algo, Samuel já estava no ringue sobre ela dizendo que havia desmaiado depois de acertar um chute no maxilar daquele merda.

Eu tinha certeza que ela não chegaria tão longe, mas Chery é muito boa em contrariar as probabilidades. Na verdade, ela era muito boa em me contrariar.

Seria uma boa lição e no fim, eu ainda poderia me vingar da sua atitude inescrupulosa, que me fez visitar uma base frágil da minha vida. E aqui estou eu, com uma Chery apagada em um dos quartos de hóspedes da minha casa.

- Não acordou ainda? - a voz de Samuel invade o quarto.

Não respondo.

Continuo debruçado sobre a cama segurando a compressa de gelo sobre o rosto dela. A blusa branca está manchada de sangue, havia um corte no supercílio e outro nos lábios. O olho esquerdo está quase fechado e espero que o gelo amenize o machucado.

Em pouco mais de um mês, é a primeira vez que não sinto vontade de matá-la. O que é confuso e contraditório levando em conta que será o resultado final desse infortúnio.

- Eu trouxe analgésico, anti-inflamatório e um remédio pra ela voltar a dormir e poder se recuperar.

Samuel deixa tudo o que comprou na mesa de cabeceira da cama. Organiza também uma jarra com água, um copo e um recipiente com os remédios em cima.

- E os outros?

Pergunto me afastando de Chery descartando a bolsa de gelo ao lado da jarra de água. Abro espaço para Samuel que, prontamente, se senta ao lado dela.

- Jacob foi pro hangar se preparar para a próxima encomenda. - fala cuidando do rosto maltratado da garota, é quase como um irmão mais velho. Está sempre muito atento a ela, vigiando.

- Liam foi pra casa e disse que avançou um pouco com relação a grampear os aparelhos dela. Ele não conseguiu nada sobre o e-mail que ela enviou quando marcou o primeiro encontro ou sobre o notebook.

Passo a mão na barba que deixei de fazer nos últimos dias e aperto os dentes com as notícias pouco positivas. Se ela não tem onde esconder, então é um arquivo digital, ou é o que ela quer que eu pense. Bufo imaginando que Liam não consegue ir mais rápido.

- Você tem certeza que pode ficar com ela aqui? - Samuel perguntou se levantando da cama.

- Qual o problema? Com medo que eu a mate durante a noite? - minha pergunta é sarcástica.

DESEJO ASSASSINOOnde histórias criam vida. Descubra agora