DESEJO ASSASSINO

19 - R e a l i d a d e

The Weeknd - Real life

Não gaste suas preciosas lágrimas comigo,

Eu não valho nada

Fico melhor quando estou sozinho

Riley Donovan

Chery Baldwin poderia ser descrita como peculiar e perspicaz. Astuciosamente doce e suavemente provocadora. Tinha uma presença intrigante que me fazia questionar sua quase inocência.

Não sinto pela sua partida, ela passou suas horas aqui tão submersa em silêncio que mal a notei sentada confortável sobre o chão do escritório. As roupas novas lhe caíram bem e os dias de folga lhe fizeram milagres. Parecia mais disposta e saudável. Estava como um zumbi diante de toda a carga que lhe obriguei a suportar nas semanas anteriores.

Passo uma mensagem rápida para Liam.

"Chery está a caminho, inicie com ela o treinamento de armas de longa distância.

Lembre-se de falar apenas o necessário."

Recebo sua confirmação e descarto o celular sobre a mesa. Eu devia treina-la, mas ainda não confiava na minha capacidade de suporta-la

Liam e Jacob eram rigorosamente profissionais e experientes, mas Chery era capaz de coisas que poderiam comprometê-los ainda mais. Foi escolha deles aceitar trabalhar comigo, e mesmo que os planos de Chery envolvessem apenas a mim, algo acabaria respingando neles. E como responsável, eu não deixaria que suas vidas fossem arruinadas.

Faltava pouco para descobrirmos mais sobre sua vida.

Até lá, espero que ela se dê conta de que matar, rompe todos os limites éticos e morais que a nossa sociedade construiu. Que a vingança não trás paz. Apagar uma vida é algo que vai pesar sobre ela independente das circunstâncias.

Me concentro em interpretar todos os números da planilha quando o barulho da porta chama minha atenção.

Layla entra trajando seu conjunto formal justo sobre o corpo de curvas suntuosas. O salto altíssimo faz eco conforme se aproxima e o cabelo, que outrora fora castanho, pende loiro em suas costas de um lado a outro. Não tínhamos nada marcado e estranho ela não ter sido anunciada. Então uma Anya aborrecida surge na porta me olhando com culpa. Sua expressão de derrota me diz que Layla invadiu minha sala.

Esse não é um comportamento comum da mulher na minha frente, no entanto não faço muito caso. Aceno de leve para Anya que sai trancando a porta.

— Olá, Layla. — Cumprimento ajustando minha postura na cadeira.

— Olá.

Ela se senta em minha frente.

Layla me olha como se procurasse algo, investigando. Sinto que estou perdendo alguma coisa e não tenho ideia do que seja. Ela fala antes que eu questione se há algo de errado.

— Encontrei a sua, garotinha, lá fora. — sua voz sai acusatória.

A forma como a palavra garotinha sai da sua boca me incomoda, porque soa como se eu tivesse contratado uma garota de programa. Chery é a personificação dos meus pecados cobrados em juros, mas não chega nem perto de ser uma prostituta.

Minha mandíbula trava ao ter essa percepção.

— Não sei do que está falando. — não dou margem para que o assunto continue.

— Ela está diferente — Layla continua ferina, me olhando com irritação — Está bem vestida. — a sua voz fica um tanto aguda — Engraçado que outro dia eu a vi e ela parecia ter catado as roupas em um buraco, de tão velhas.