53 - Q u a r t a S e n t e n ç a

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Chris Avantgarde - Inside

Se eu fosse você, eu correria

Se eu fosse você, eu me esconderia

Se eu fosse você, eu teria medo

Medo do que tem dentro

Chery Baldwin

O cenário mudou.

Fiz o check-in em um pequeno hotel, um pouco mais aconchegante que a pequena pousada. Não que fosse mesmo necessário mais conforto. Seria apenas uma diária, então resolvi aproveitar para tentar descansar. O que de fato não aconteceu.

Havia um inquilino aqui, mais que temporário.

Mediante as suas condições talvez um apartamento ou mesmo um sobrado não seja do seu agradado, ainda que seja mais caro, quando está na cidade ele costuma ficar em hotéis. Para homens que costumam deter poder, coisas simples não massageiam o ego. Oliver Smith era um desses homens. Eu estudei a vida de todos eles, Oliver era o fiel escudeiro, o braço direito, estava sempre acima dos outros. Quando não estava brincando de cachorrinho favorito, ele estava resolvendo assuntos ilícitos fora da cidade.

Eu o assisto de costas para mim, olhando o telefone atentamente enquanto aguarda sua refeição. Eu finalizo meu prato mal sentindo o gosto da comida. Quando chamo o garçom, ele me traz a comando e eu coloco o número do meu quarto.

Respiro fundo e saio do restaurante incomodada com a tensão sobre as minhas escápulas. Tensão essa que agora, no auge da minha incapacidade de controle, vinha da mais pura ansiedade de poder executar o meu novo alvo.

No elevador, aperto o número do sétimo andar, o último. Era apenas sorte a minha que o quarto certo estava vago, do contrário eu teria mais trabalho para finalizar tudo o que eu planejava para essa noite.

O meu quarto era o 701, o de Oliver era o 702. Meu vizinho de andar. Eu sabia todos os hotéis em que ele costumava se hospedar, mas tive que ligar para todos procurando por ele e quando o encontrei, fiz a reserva e consegui um quarto ao seu lado.

Fecho a porta já dentro do quarto, prendo os cabelos em um rabo de cavalo alto e firme. Passo pela pequena sala e ligo a televisão, me ajeito no sofá e arranco as sandálias as trocando pelo meu all star azul. Coloco o moletom preto e cubro a cabeça.

De acordo com a polícia local, — diz a voz firme da apresentadora do noticiário. — Parece haver uma ligação entre esse incêndio da madrugada com uma casa incendiada dias atrás.

A reportagem continua.

Tudo deveria ser feito de forma tão silenciosa que as pessoas jamais sentiriam falta da ausência dessas vidas mediocres. Foi assim que planejei tudo. Foi por isso que busquei Riley.

Eu não deveria ter cedido aquela pequena voz, que sussurrava baixo, sobre como seria fascinante saber que eles derreteriam sob o fogo. A ignorei por longos anos, a voz cálida e sombria, mas não resisti, o fogo é o princípio do fim. Eu estava no fim, e nada mais justo do que abraçar ele da forma como ele me abraçou.

Mantenho as luzes do quarto apagadas e deixo o som da televisão mais alto. Caminho para a pequena varanda e refaço o cálculo para alcançar a varanda vizinha.

O beiral entre uma varanda e outra, não tinha mais que trinta centímetros. Teria que ser suficiente para eu me equilibrar. Sigo para a esquerda engolindo em seco, passo a perna esquerda pelo parapeito e em seguida a direita. Sentindo todo o corpo tremer, consigo por o pé direito no beiral e, de costas para a rua pouco movimentada metros abaixo, me arrasto para a varanda seguinte.

DESEJO ASSASSINOOnde histórias criam vida. Descubra agora