The Weeknd - Angel
Porque tudo que eu vejo são as asas,
eu posso ver suas asas
Mas eu sei o que eu sou e a vida que vivo, sim,
a vida que eu vivo
E mesmo que eu peque,
talvez nós nascemos para viver
Mas eu sei que o tempo dirá
se estamos destinados para isso, sim,
se fomos destinados para isso
Riley Donovan
Sinto os nós da mão direita doerem depois de socar a maldita porta do elevador. Não me atrevo a descer as escadas, seria inútil.
— Merda! — soco a maldita porta de novo apenas para descontar minha frustração.
Volto a passos largos para a minha sala ignorando alguns olhares que recebo no caminho. Anya está pálida de pé no meio da antessala, ela engole em seco, assustada e de olhos saltados.
— Cancele minha agenda do dia. — é tudo o que eu digo ao passar por ela e bater a porta do meu escritório com tanta força, que as dobradiças rangem.
Aperto os dedos na testa respirando fundo, tentando me acalmar. Tiro o paletó e a gravata, para me livrar da sensação de sufocamento. Ela escapou pelas minhas mãos, estava tão perto de desistir, tão malditamente perto. Eu só precisava fazê-la entender que existe uma linha tênue entre justiça e vingança. Quando essa linha é ultrapassada, o caminho de volta pode nunca ser encontrado.
Na justiça entregamos aquilo do qual se é merecedor, mas quando entregamos algo que ultrapassa o justo, concedemos vingança. Nem todos estão preparados para vingança, porque quando descobrimos que ela não é suficiente, sucumbimos ao lado sombrio da morte.
Ela ainda não esta pronta para viver isso.
Eu devia ter previsto que ela fugiria.
Devia saber que ela não me escolheria.
— Porra! — chuto uma das cadeiras quando surge diante da minha vista.
Chery é esperta, ao perceber que a situação estava fugindo do seu controle, ela fugiu. Mas eu estava muito ocupado admirando o vinco sutil entre as sobrancelhas, o arfar suave entre os lábios. Eu estava cego por ela, muito satisfeito em saber que agora possuía minha doce obsessão, não vi os sinais com clareza.
Caminho para a mesa e reviro os papéis, à procura do meu celular pessoal. A demora em encontrá-lo me faz jogar todas as coisas pelo chão, impaciente. Luminária, notebook, pasta, documentos, tudo vai ao chão. Eu o encontro debaixo de uma pasta de documentos que também descarto. O primeiro número que disco é o de Liam.
Chama duas vezes antes de a voz forte me atender formalmente do outro lado.
— Vá atrás de Chery no apartamento dela, agora. — ordeno fazendo o possível para me manter calmo.
— Sim, senhor. Há algo que eu deva saber?
— Não a deixe sumir, Liam.
A linha fica em silêncio por um tempo, e eu o tomo para raciocinar.
— O que aconteceu?
— Me ligue assim que tiver algo para mim, Liam. — não há como explicar tudo, não nesse estado caótico em que minha cabeça se encontra.
— Tudo bem.
É tudo o que Liam diz antes que eu encerre a chamada.
Caminho de um lado a outro na tentativa de impedir que minha raiva tome o controle da situação. Eu fui um tolo em acreditar que seria tão simples. Eu não era suficiente para ela, e o que eu podia lhe oferecer era pouco, porque Chery queria mais.
Ela não quer apenas vingança, ou sangue, não. Chery quer destruição, desespero e dor. A combinação perfeita do caos.
Meu celular volta a tocar e meu peito dispara na esperança estupida de que Liam já tenha a encontrado, no entanto, o nome de Samuel surge na tela. Assim que eu atendo a chamada, a voz de Samuel surge afoita no meu ouvido.
— Acabei de chegar em Boston.
Ele havia ido ao Michigan, estado de nascença de Chery para investigar de perto os registros do orfanato. Tudo que eu conseguia pensar é que não importava o que ele havia descoberto, porque eu a havia perdido.
— Eu a perdi, Samuel. — minha voz saiu a meio engasgo.
— O que? Do que você está falando?
Puxei o ar com calma.
— Ela estava aqui, nas minhas mãos, e eu a perdi. — olho para a bolsa descartada na cadeira, diante da minha mesa, a raiva sacudindo meu peito. — Ela fugiu de mim.
— Puta merda! — parece entender exatamente do que estou falando.
Escuto seus xingamentos de incredulidade quando junto as minhas coisas e caminho até a maldita cadeira apegando a bolsa de Chery.
— O que vamos fazer? — pergunta através do ruído de trânsito.
— Vou atrás dela, vou a trazer de volta.
No fim, tudo o que me importa é que Chery esteja bem, e que seus pedaços mutilados estejam firmes o suficiente para fazer ela sobreviver e quem sabe, me aceitar.
— Certo — Samuel concordou de pronto conforme eu caminho para fora da minha sala. — Estou indo para o hangar.
Passo diante de uma Anya um tanto pálida e perdida. Não posso culpá-la, é a primeira vez que algo assim acontece. O elevador não demora mais que alguns segundos para chegar ao meu andar.
— Chame Jacob, quero todos vocês comigo, não tenho um bom pressentimento sobre como as coisas vão ocorrer agora.
— Considere feito, Jacob estará lá comigo.
— Nos vemos em trinta minutos.
Antes que eu encerre a ligação, ouço a voz de Samuel me chamar.
— Eu tinha a intenção de falar com você a sós. — a voz de Samuel fica séria do outro lado. — Já que nossos planos mudaram, acho importante falar sobre algo que descobri.
— Fale.
Peço, mas pelo tom sombrio na voz de Samuel, não sei se quero mesmo saber o que ele tem a me dizer.
— Acho que Chery está morta.
Meu coração falha em uma batida. O silêncio se torna austero dentro do elevador e uma pressão cresce em minha cabeça ao criar uma linha finita de cenários.
Eu soube desde o início que ela era como uma força da natureza. Foi ignorante da minha parte acreditar que ela não me destruiria, ela era a fórmula perfeita: bela, forte e brutalmente catastrófica.
E agora, estava indo viver sua vingança.
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DESEJO ASSASSINO
RomanceSinopse. Essa não é uma história sobre uma pessoa que se salva, mas de alguém que escolhe se perder. Às vezes a liberdade se encontra no exorcismo de velhos fantasmas. Para Chery seria assim, um evento único que findaria seus anos aprisionada no ep...