60 - A H i s t ó r i a D a P r i n c e s a

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Lana Del Rey - Lost at sea

Felizmente

Felizmente

Eu fui encontrada

Perdida no mar

Chery Baldwin - Kristen Grey

A casa é estranha.

Não estamos em Boston, é o que acho, os últimos dias foram confusos. Não lembro de como cheguei aqui. Tudo o que lembro é de acordar e vê Riley sentado em uma poltrona marron, com as pernas esticadas e as mãos entrelaçadas na barriga. Depois de falar, ele levantou e saiu. Eu não lembro do que ele falou.

Achei que estivesse sonhando. Eu lhe agarrei o pulso, sentindo-o forte, vivo.

Era ele mesmo.

Também pensei que talvez eu tivesse morrido e Deus tivesse sido generoso em me colocar no paraíso.

Mas eu não morri. De novo.

Paro diante da piscina da casa e o vento do final da tarde me faz encolher, sinto frio mesmo usando uma calça moletom e uma camisa de Riley.

Quando o vento atinge a água da piscina fazendo os reflexos de céu tremeluzir, eu me questiono se talvez, o meu inferno seja permanecer viva. Quem sabe eu não seja ruím demais para morrer.

Não posso ser complacente, não depois das escolhas que fiz e principalmente de não me arrepender delas. Mas ainda estou com medo, medo de acordar e descobrir que Riley não me quer, que está com nojo de mim e das coisas que fiz.

— Está frio aqui fora, doce Mors.

A voz profunda me alcança, me atinge bem no meio do peito. É como ser sacudida de dentro para fora. Ele é sempre tão silencioso. Então ele surge à minha direita, com uma calça moletom cinza e uma camiseta preta que deixa seus os braços expostos. Os mesmos braços que me acolheram naquela banheira.

Puxo o ar com força e o cheiro de capim, limão e canela ainda é o mesmo. Exatamente o cheiro da casa do lago, onde minha mãe fazia torta de limão e meu pai tomava cappuccino com canela extra, eu lembro de sempre estar suja de terra e mato ao sentar a mesa.

A cozinha ficava com cheiro de limão, capim e canela.

Esse era o cheiro da minha época feliz, agora esse cheiro pertence a ele.

Mesmo com medo, procuro os olhos de Riley, e assim como ontem, ainda é o mesmo azul profundo. Olhar para os olhos dele agora é como ver o céu escuro a noite, há um pequeno brilho intenso, como estrelas.

Decido que talvez se falar, ele decida concretizar meus novos pesadelos, onde só restou a vida, sem ele. Vazia e solitária, como sempre foi.

— Ele invadiu a minha casa, estuprou a minha mãe grávida e torturou a mim e aos meus pais por causa de um carregamento de drogas que o meu pai nunca soube da existência. — a minha voz ainda é rouca e os olhos de Riley ainda são intensos. — Ele me espancou e me deixou para morrer no fogo. Eu sobrevivi, por muito pouco. Eu não falei com ninguém, eu estava com tanto medo. Então eu fui para o orfanato, mas ele me encontrou. Achei que o meu silêncio fosse suficiente para me salvar, mas não foi.

O vento do fim de tarde me faz estremecer, mas Riley mal se mexe.

— Ele incendiou um orfanato, Riley. — minha garganta seca, mas eu sigo olhando para ele. — Matou 94 crianças, entre 7 e 10 anos. E eu estava na biblioteca, no meio da madrugada. Elas gritaram tanto, elas gritaram por socorro, elas imploraram. Eu vi todas elas queimarem, eu vi ela queimar até o prédio virar cinza. E ela era a menina mais otimista e sorridente que conheci, e durante todos os dias em que esteve comigo, Chery Scofield Baldwin acreditou que eu ficaria bem.

DESEJO ASSASSINOOnde histórias criam vida. Descubra agora