47 - P r i m e i r a S e n t e n ç a

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Valtamos! Espero que estejam prontos para mergulhar na mente Chery!

Amy Winehouse - Back To Black

Eu sigo um caminho perigoso

Tudo vai contra mim

Eu vou voltar para a escuridão

Chery Baldwin

A viagem de Boston até o Michigan demorou pouco mais de 20h.

Pedi carona na rodovia para chegar ao meu destino final. Pulei de um carro desconhecido a outro, não pude correr o risco de ser localizada caso houvesse falhas e pontas soltas. Não tive tempo para descanso e quando cheguei a uma pousada frígida, minha história era de uma mochileira atravessando o país.

Tudo o que trouxe comigo, foi algumas mudas de roupas, documentos falsos, dinheiro e uma pistola com silenciador comprada no mercado negro com munição. O resto, estava tudo em minha cabeça. Todos os detalhes, cada passo.

Eu havia planejado e decorado tudo sobre cada um deles. Saberia exatamente o que fazer quando chegasse a hora. Seria limpo, discreto e fatal, exatamente como Riley me ensinara.

— Não pense nele.

Resmungo para mim, como tenho feito nos últimos dois dias, desde que fugi. Evito pensar nele e na forma com meu coração lateja sempre que relembro de sua imagem pouco antes do elevador nos separar.

Volto a me concentrar no agora.

Não importa quanto tempo Riley e Samuel tenham me surrado, minhas costas não são de ferro. Estou encolhida em uma propriedade privada, cujas folhagens que a cercam são tão densas que é pouco provável que alguém me veja. Na esquina seguinte, a casa vizinha tem pouco mais de vinte metros de distância de onde estou.

São quase três horas da madrugada, a rua está tão silenciosa que toda vez que o vento passa por mim eu me assusto. Acalmo a respiração, meu coração galopa de medo e ansiedade, eu esperei muito por isso, talvez esse seja o motivo do embrulhar estático do meu estômago.

Então decido começar.

***

Nunca achei que a habilidade de abrir portas me seria útil. Vi Kilian fazer isso tantas vezes ao longo dos anos no orfanato que aprendi.

A casa de Eliot é bem arrumada e organizada, grande para alguém que administra uma pequena oficina mecânica no centro da cidade. Eu permaneço sentada na sala de estar, de frente para a escada de acesso ao segundo andar. Vasculhei toda a casa de forma silenciosa até me entediar e esperar.

Ouço o despertador tocar no andar de cima, em pouco minutos o silêncio retorna. Eliot tem uma rotina comum, ele acorda todos os dias as 4h em ponto para correr na sua esteira disposta na garagem, então depois de uma hora de corrida ele volta para a casa e começa os preparativos para o seu dia. Seus passos são pesados e a cada farfalhar sobre a madeira do piso meu corpo estremece de pavor. Meu peito se aperta e o pânico fica sobre a borda, no aguardo da gota final para transbordar.

Mesmo diante da penumbra, assisto os pés ocuparem o espaço no corredor de cima, meus olhos já completamente adaptados. Ele desce os degraus com calma, ainda sonolento. Eu o observo estática, ele passa pela sala sem nem se dar conta de que estou aqui, chega a entrada da sala de jantar e liga o interruptor. Quando a meia luz invade de forma parcial a sala de estar, ele para.

De costas para mim, os ombros fortes ficam tensos, os cabelos em partes grisalhos, a pele dourada coberta por uma calça flanela e uma camiseta. Não parece muito diferente do que me lembro. Ele se vira com calma para olhar por cima de seu ombro e quando ele me tem em seu campo de visão um ofego apavorado lhe escapa.

DESEJO ASSASSINOOnde histórias criam vida. Descubra agora