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Aquilo - Human

Eu sei que está sendo duro,

Está refletido em você.

Você caiu fora do contato,

Se perdeu ao longo do caminho.

Eu sei que não é o suficiente,

Mas as coisas ficarão melhores,

Mesmo sendo difíceis.

Riley Donovan

Faz algumas horas que voltamos para Detroit. É final da madrugada, em algumas poucos minutos o sol deve nascer.

A casa em que estamos é alugada em uma área residencial luxuosa e afastada do centro da cidade, nos dando mais liberdade para atuar. Caminho rápido pelo corredor na intenção de voltar para Chery o quanto antes. Sinto o corpo tenso mesmo depois do banho quente.

Vamos permanecer na cidade para o caso de haver a necessidade de fazer algum controle de danos embora eu tenha certeza de que ela foi tão cirúrgica quanto possível.

Assim que alcanço a porta do quarto, o som que vem dela faz meus sentidos entrarem em alerta. Abro em um rompante e meus olhos vasculham o quarto escuro, pelas cortinas fechadas. Encontro Chery sentada no colchão com o rosto escondido nos joelhos e os braços esticados apertando o edredom.

— Chery? — chamo ainda do batente da porta.

Ela não me responde. Vejo seu corpo balançar de leve e seus sussurros me deixam nervoso. As pernas descobertas se movem inquietas e tudo o que ela veste agora é um das minhas camisas, na cor azul escuro.

— Chery? — tento de novo entrando no quarto devagar, mas ela permanece no mesmo estado.

— Eu os matei... — a escuto dizer conforme me aproximo da cama. — Matei todos eles.

Não respondo. Não é uma pergunta, porque ela não está falando comigo.

Alcanço a cama e sento sobre o colchão, a apenas alguns centímetros dela. Os cabelos compridos ainda meio úmidos, depois da minha tentativa falha de secá-los. Ela não me olha, mal me nota.

— Ei doce Mors. — falo para ganhar sua atenção. Não funciona.

— Eu matei todos. Queimei todos. — ela balança o corpo de leve, a voz agora um tanto rouca. — Eles não existem mais, não estão aqui.

O rosto ainda escondido sobre os joelhos. Engulo em seco, meu coração erra uma batida, Chery está quebrando, ela está se perdendo bem diante dos meus olhos.

Resolvo me aproximar, mas antes que minha mão a alcance, Chery se afasta bruscamente indo parar do outro lado do colchão, junto da cabeceira.

— Chery? — não consigo esconder a confusão e a preocupação em minha voz.

— Você não pode chegar perto. — ela fala cobrindo o rosto com as mãos, a voz fraca. — Eu os matei! Matei todos eles!

Ela começa a se desesperar.

— Está tudo bem. — argumento.

— Você não pode ficar aqui. Não pode. — então ela começa a chorar. — Eles não existem mais...

O choro é dolorido e faz meu peito apertar.

— Vai ficar tudo bem. — Consolo me sentindo horrível.

DESEJO ASSASSINOOnde histórias criam vida. Descubra agora