48 - A m e n i n a Q u e S o b r e v i v e u

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BELLSAINT - Losing my religion

Esse sou eu no canto

Esse sou eu no centro das atenções

Perdendo minha fé

Kristen Morone Grey

Michigan, Detroit, 15 de Agosto 2007

Havia algo errado.

O quarto estava escuro, não de uma forma assombrosa, como as vezes ficava. Um brilho suave vinha da janela descoberta, era o brilho da lua, e estava iluminando uma parte da minha cômoda laranjada.

Me encolhi debaixo dos cobertores tentando entender o porquê de ter acordado.

O sono estava quase me ganhando quando um ruído estranho me fez despertar. Tentei apurar os ouvidos, entender de onde o ruído vinha. Supus que fosse a mamãe. Li em um livro sobre gravidez, que as mulheres costumam sentir vontade dobrada de comer, fosse coisas comuns ou não.

Talvez fosse isso, mamãe devia estar fazendo algo para comer. O sono estava quase me vencendo de novo quando um novo ruído me despertou. Seja lá o que mamãe estiver fazendo, seria melhor eu ir ajudar. Ela me contou outro dia, que quando estava grávida de mim, gostava de tomar suco de limão puro. Parece que é normal desejar comer coisas incomuns, vai ver é isso.

Eu só esperava que ela não fizesse papai ir ao centro procurar algo que não estava em nossa cozinha.

Resolvo levantar, se está fazendo esse barulho todo, pode estar precisando de ajuda.

Esfrego os olhos ao levantar da cama, arrumo o exemplar de Relíquias da morte na cabeceira. Ainda não terminei, na verdade não quero terminar, não gosto da sensação de que vou me desligar da história, mesmo que eu ame.

Caminho no escuro bem devagar, passo pelo corredor e pouco antes de chegar a escada, um ruminar de vozes me deixa totalmente desperta. Uma luz fraca vem da sala de estar, e quando alcanço o pé da escada, perco o fôlego.

Demora um tempo para entender o que está acontecendo.

Há vários homens na sala. Dois segurando meu pai, outros dois segurando minha mãe e a um de pé, no hall de entrada. Meus pais estão ajoelhados, mal consigo vê-los na meia luz da luminária amarelada. Tem um outro, mais velho, caminhando bem no centro. Ele se vira para a minha mãe e seu braço voa na direção do rosto molhado, e o barulho abafado que ela solta pelo pano em sua boca causa um choque no solado do meu pé.

Meu corpo todo tremelicou antes de despertar. Meu cérebro levou um segundo para entender o que estava havendo e quando isso aconteceu. Minhas pernas criaram vida, havia um ganido desesperado invadindo o silêncio oprimido.

Estava saindo da minha garganta.

— Não encosta na minha mãe!

Eu empurrei o homem com tanta força que ele desequilibrou, e se distanciou aos tropeços. Eu fui em direção a outro que segurava minha mãe pelo braço direito. Eu o puxei para longe dela com tanta truculência, que ela também se moveu com o impulso.

— Larga ela!

Minha voz estava além de desesperada, ofuscada pelo crescente ódio. Eu não sabia quem eram ou o que queriam. Mas eu não ia deixar que machucassem minha mãe.

— Eliot segure a menina!

A voz ao fundo era sombria enquanto eu chutava, arranhava e socava o homem calvo diante de mim. Mãos tentavam me afastar, mas eu não podia deixar que fizessem isso. No entanto, em algum momento me afastaram dela, me venceram mesmo diante da minha luta, talvez isso tenha me feito gritar e rosnar como uma criatura enlouquecida.

DESEJO ASSASSINOOnde histórias criam vida. Descubra agora