Capítulo 1

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CAPÍTULO UM

"-Nop, onde você está? Papai, chamou por você várias vezes - dizia a mulher que estava parada em pé ao parapeito da janela do segundo andar da casa dos Anantrakul, ela estava ao telefone olhando pela janela à espera de avistar o carro do homem do outro lado da linha.

- Sam não posso ir até aí - disse a voz do homem em resposta ao telefone, ele não estava muito longe dali, ele se encontrava dentro de um carro estacionado a duas quadras da casa de onde a mulher estava.

-Nop se você não vier ver nosso pai antes dele morrer, esqueça que você tem uma irmã, como pode ser tão rude com o homem que nos criou - ela tinha lágrimas nos olhos.

- Desculpe Sam, mas não posso, me perdoa - ele tornou a repetir as palavras, era difícil dizer para a irmã que não podia ver o pai morrer, que isso era para ele muito difícil, ainda mais porque o pai os criará sozinho após a morte da mãe quando ele nascerá.

- Nop, você é um monstro! - ela cuspiu as palavras ao aparelho - Espero nunca mais voltar a te ver - ela desligou o celular.
No carro Nop deixou-se chorar, sabia que o pai estava muito doente e talvez nunca voltaria a vê-lo, além disso para eles desde pequenos os monstros eram quem matavam os pais..."

 Sam acordou em um susto, sonhara novamente com Nop, nos sonho o irmão se afastava dela depressa demais sem que ela conseguisse alcançá-lo e seu semblante era de dor, passou a mão pelos cabelos tentando afastar a lembranças do pesadelo, olhou para o relógio na cabeceira da cama que marcava 3h12min, a madrugada estava um pouco fria aquela noite, e um vento soprava fazendo as janelas rangerem, Kirk, seu marido, permanecia adormecido e sereno ao seu lado, levantou-se e foi pegar um copo de água.

A dias Nop não saia de seus pensamentos, fazia quatro anos que não se viam e nem se falavam, ele havia telefonado algumas vezes durante esse período de tempo, porém Sam se recusou a atendê-lo todas as vezes, quando voltou para o quarto deitou-se novamente ao lado do marido, precisava tirar Nop dos pensamentos.

Na manhã seguinte acordou indisposta, como se tivesse corrido uma maratona inteira, se espreguiçou ainda deitada na casa, Sam era fotógrafa e podia se dar ao luxo de não acordar cedo, e naquela manhã agradeceu por sua profissão lhe proporcionar isso, Kirk não estava na cama, estava no banho, podia ouvir do quarto o barulho do chuveiro ligado, ela se perdeu em pensamentos sobre seus pesadelos até ser despertada por ele.

- Sam, você não vai se levantar? - Questionou ele entrando no quarto praticamente pronto, foi até a gaveta e pegou uma gravata, Kirk tinha uma empresa de marketing no centro de Bangkok, mas sonhava com um futuro ao lado da mulher no Japão onde poderia expandir seus negócios.

- Eu não irei ao estúdio, agora pela manhã - ela se remexeu na cama preguiçosamente.

- Não devia ficar jogada na cama até tarde desse jeito, não faz bem à saúde - disse ele a recriminando, Sam apenas ignorou a reprimenda dele como sempre fazia, Kirk era metódico e implicante com qualquer estilo de vida mais despojado, quando se conheceram Sam mudou muitas coisas suas para ajudá-lo a subir na vida, menos sua profissão, porque lhe dava alegria tirar fotos e isso Kirk não foi capaz de mudar, o homem se despediu com um beijo em sua cabeça e foi trabalhar.

Sam levantou-se e foi até o pequeno balcão do quarto onde tinha algumas fotos sobre o comodo, pegou o porta retrado da última foto que tirou com o irmão, os dois abraçados ao pai sorrindo, os três bem vestidos, a foto era antiga, havia sido tirada no dia do casamento de Sam, o pai ainda estava bem de saúde, e muito sorridente, sentiu um aperto no peito, Nop agirá feito um monstro, quem abandona a família de forma tão rude assim, num súbito momento de raiva retirou a foto do porta retrato e rasgou Nop dela, deixando apenas ela e o pai.

Ainda sentia muita raiva de Nop, mesmo que fosse muito mais por ele não ter ido ver o pai nos seus últimos momentos de vida ou sequer ter aparecido ao velório, do que por ele próprio, para Sam era insuportável a ideia de que alguém não quisesse ver o próprio pai pela última vez. Depois de pôr o porta retrato no lugar, Sam se vestiu e foi trabalhar, amava o que fazia, e ver as pessoas através da lente de uma câmera era a coisa que ela mais amava no mundo.

Estava em frente ao notebook trabalhando quando o telefone começou a tocar insistentemente, julgando ser importante visto a insistência, Sam se levantou e foi atender, mas o que ela não podia imaginar era que aquele telefonema mudaria toda sua visão sobre monstros, perdão e principalmente sobre amor.

Linhas Cruzadas (Sam&Mon)Onde histórias criam vida. Descubra agora