Capítulo 4

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Sam editava algumas fotos naquela tarde, era um ensaio de casamento, o sorriso do homem nas fotos a fazia lembrar-se de Nop, ele sempre estava em seus pensamentos, mesmo que não o quisesse vê-lo, Kirk já havia chegado e estava no banho, havíamos discutido pela milésima vez sobre saírem ou não para jantar, o que Sam tinha absoluta certeza que seria um jantar de negócios por isso ele insistira tanto, ele adorava exibir Sam como esposa de um bem sucedido empresário, mas ela preferia não se envolver nos negócios dele, as vezes a ambição dele a cansava, ele queria uma oportunidade no Japão a qualquer preço e isso se tornará chato e irritante ao longo dos anos, tudo que ela queria era trabalhar em suas fotografias e cuidar de sua carreira ali em Bangkok, e especialmente naquele dia que lembrará tão fortemente do irmão, só queria comer qualquer coisa na bancada da cozinha, e ter um dia comum, ou assim ela acreditava que seria até ouvir o som do celular vindo da sala.

Quando atendeu aquela ligação, no começo pensou que fosse uma piada sem graça, alguém fazendo uma ligação por engano talvez, mas quando realmente se deu conta de que não, sentiu como se houvessem lhe acertado um soco na cara que a fez perder completamente a razão. Só quem recebe um telefonema desses sabe a dor que lhe atinge quando você ouve que alguém que você ama está morto.

Quando acordou do seu desmaio, sentiu os braços de Kirk lhe segurando no sofá da sala, pensou que talvez fosse um sonho ruim, mas infelizmente não era, a dor estava ali presente, e uma forte falta de ar, como se seus pulmões houvessem parado e instantaneamente a verdade lhe atingiu, não conseguia falar, e tudo que sentia era uma dor profunda, misturada com culpa, remorso e medo.

Aquela noite foi a pior, Sam teve uma série de pesadelos que deram início a um processo de luto lento e doloroso. Queria morrer, e se perguntava um milhão de vezes porque ele, e não eu?

Acordou no meio da noite suando frio, um pesadelo onde Nop lhe pedia desculpas, e aos poucos ia se afastava dela com medo, e por mais que ela gritasse por ele, suplicando para que ele ficasse Nop sumia numa névoa de fumaça e Sam se encontrava sozinha e desesperada em meio a uma floresta escura, cheia de sombras que a faziam se sentir culpada, acordou no susto e sentou-se na cama pensando no irmão e de forma lenta foi até o banheiro, sentia-se fraca e sem vida, encarou o espelho enorme do banheiro, pequenos flashes de seu sonho começaram a perturbar sua mente e sem conter mais, lágrimas começaram a cair e ela desabou num pranto doloroso e sentido, encolhendo-se ao lado da banheira como uma criança.

- Sam ? - Kirk entrou no banheiro cuidadosamente após ouvir um barulho, e quando viu a esposa enroscada em si mesma no chão do banheiro correu até ela - Sam! - ele tentou abraçá-la

- Não! me deixa! - berrou Sam o empurrando, tudo que queria era estar sozinha - Eu quero ficar sozinha, me deixe Kirk - ele disse entre soluços e choro, queria sentir a perda do irmão, mesmo que não consegui-se aceitá-la, e Kirk nunca entenderá a ligação que eles tinham desde pequenos, nem mesmo quando ele conhecera Nop e mesmo após seu casamento.

- Sam, você não está bem, venha para cama, esse chão deve estar imundo e ficar aqui vai te deixar doente, além de que não vai mudar em nada - ele insistiu.

- Me deixe, Kirk - ela empurrou ele novamente para longe - Só saia - disse ela.

- Tudo bem - disse ele fazendo uma careta contrariado, como se achasse aquilo uma maluquice da parte da esposa - Posso pelo menos pegar uma água? - perguntou se levantando e indo até a pia do banheiro.

- Pegue e saia por favor - disse ela sem mostrar o rosto que estava coberto pelos braços.

Depois que Kirk saiu, Sam se deixou vagar por momentos felizes com o irmão e o pai, e quando a dor era forte demais chorava até cansar. Não se sentia mais a mesma, algo dentro dela havia morrido, e sua única vontade era desaparecer.

Linhas Cruzadas (Sam&Mon)Onde histórias criam vida. Descubra agora