Capítulo 6

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Dois anos...dois anos, aquilo ecoava na minha cabeça, o que eu perdi da vida de meu irmão, isso por algum motivo me consumiu, por todo esses anos eu o havia culpado por não se despedir de meu pai, e agora eu me culpava por não poder deixar Nop ir, feito uma criança mimada querendo algo eu me consumia com a idéia de nunca mais ver meu irmão novamente. Quando Mon e eu voltamos pra casa num silêncio assombroso, sabíamos que nada precisava ser dito, ambas estávamos pensando nele, eu tinha total certeza disso. Eu havia preparado uma sopa que era receita de meu pai, ele fazia sempre que eu ou Nop ficamos triste como forma de nos animar e principalmente de nos alimentarmos direito, Mom parecia não ter comido nada a dois dias, afinal ainda vestia seu vestido de noiva, era um pouco macabra? Sim, verdade, mas totalmente compreensível devido a forma como ela recebera a notícia, e eu sentia que ela ainda não processara bem a morte dele, porque nem eu mesma tinha feito isso, ela também não havia ido ao velório e nem ao enterro de Nop, não que eu tivesse como julgá-la também não havia ido ao enterro, estávamos negando o fato de deixá-lo ir.

Minha cabeça ia longe enquanto estávamos sentadas a mesa da sala comendo, então ela levantou-se da mesa sem terminar o que havia na tigela, e foi em direção ao quarto, pensei em ir atras, porem me dei conta de que talvez ela precisasse ficar sozinha, nós não havíamos passado muito tempo juntas, e eu não me incomodava com isso, ter Mom ao meu lado estava me trazendo uma serenidade da qual eu necessitava desesperadamente naquele momento, tínhamos nos conhecido a menos de trinta e seis horas e ela já se tornara alguém importante para mim, sentia a necessidade imensa de cuidar dela, como se devesse isso ao meu irmão, ou talvez esperava que ele quisesse isso, tirei a mesa e pus as coisas no lugar, enquanto divagava sobre isso em meus pensamentos, pus a última tigela limpa sobre o secador de louça, e ouvi alguns gritos vindo do quarto, Sam parecia sentir dor, corri até seu encontro e me deparei com uma cena de caos, ela estava aos gritos tirando todas as roupas de Nop do armário, se questionava porque Nop a deixara, e como ele pudera fazer isso, ela estava num momento de surto, eu sabia bem como isso funcionava, havia surtado assim que desliguei o telefone no fatídico dia que ele partira.

- Mon! - berrei tentando fazê-la me ouvir, ela se debatia sem parar, mas absorta de mais em sua dor - Mon! Me ouve - eu me aproximei tentando acalmá-la, segurei seus braços tentando protegê-la de si mesma, mas ela estava tão transtornada que precisei usar um pouco mais de força que o normal, ela parecia fora de controle.

- Porque?....- ela dizia aos prantos - porque ele e não eu? - lágrimas caíam de seus olhos e quando os olhos castanhos dela cruzaram como os meus eu senti seu medo, sua insegurança.

- Mon calma! Estou aqui - eu berrei novamente por sobre seu choro, Mon se debatia tentando se machucar, e sem pensar ou raciocinar direito acertei um tapa em seu rosto do lado direito e ela parou automaticamente como um robô que se desliga. - Mon...eu...me.. - comecei a me desculpar por tomar medidas tão drásticas, mas ela apenas se ajoelhou sobre meus pés, e então percebi que algo não estava certo, ela se debateu e começou a tentar tirar o vestido de noiva em desespero.

- Eu... não consigo.... respirar..... - Mon disse tentando abrir o zíper do vestido enquanto parecia se sufocar.

Me ajoelhei ao seu lado desesperada e comecei a procurar pelo zíper de seu vestido, quando encontrei o abri rapidamente fazendo Mon soltar um longo suspiro como se voltasse a respirar de imediato, a puxei para perto a enlaçando em um abraço preocupado por alguns segundo. Seu ataque de pânico parecia distante agora, depois de alguns segundos a ajudei a se levantar, ela decidiu tomar um banho, eu apenas assenti, então ela tirou o vestido de noiva, sem pensar muito me peguei observando as curvas do corpo de Mon, ela vestia uma lingerie branca com cinta liga, desviei os olhos assim que ela me olhou antes de entrar no banheiro, fiquei assustada, mas eu não queria me deixar pensar sobre aquilo, porque por breves segundos eu estava surtando, o que diabos eu estava fazendo olhando para noiva de meu irmão, uma mulher que eu acabara de conhecer, eu tinha ficado louca, era a única explicação que eu podia dar naquele momento de surto interno. 

Linhas Cruzadas (Sam&Mon)Onde histórias criam vida. Descubra agora