Capítulo 29

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Um borrão, tudo que eu me lembrava era um borrão, fragmentos de memórias incoerentes com barulhos indistintos, abri os olhos, a claridade ofuscou minha visão por alguns instantes, dei algumas piscadelas tentando me adaptar a claridade e assim que minha visão voltou me deparei com uma enfermeira de rosto simpático e sorridente me encarando, o meu corpo todo estava dolorido, mas minha garganta ardia pedindo por um pouco de água, fiz uma breve careta levando a mão à garganta, a mulher se afastou indo até a bancada do quarto onde tinha um copo e uma garrafa e serviu um copo do líquido em seguida trouxe até mim com um canudo, peguei o mesmo e tomei pausadamente.

- Beba de vagar - orientou ela gentilmente, depois encarou o monitor ao meu lado e anotou algo em uma prancheta da qual só notara ali agora - Como se sente? - perguntou ela.

- Eu..- tentei falar e saiu quase um sussurro, dei uma leve pigarreada antes de prosseguir - Me sinto como se um caminhão tivesse me atropelado - resmunguei sentindo meus músculos se contraírem conforme me mexia, e automaticamente nesse instante me lembrei de Sam....e Kirk, levei a mão em direção a minha barriga e encarando a mulher de forma assustada a questionei - Meu filho....e Sam... ?- de repente algo começou a apitar e ela veio mais próximo da cama mexendo em alguns botões dos aparelhos ao meu lado.

- Se acalme está bem - tranquilizou ela - O bebê está bem, fique calma - senti um alívio tomar conta de mim, ela continuou.- Vocês estão bem, ele está forte e saudável - ela sorriu simpática - E seus familiares e amigas estão lá fora, todos impacientes, já perguntaram por você três vezes - disse ela, e eu sorri ao ouvir aquilo, Sam estava bem e estava ali.

Gelei ao ouvir as palavras "meus familiares", não que eu não os quisesse ali, mas minha família não era atenciosa assim, eu não havia conseguido dizer nada sobre o bebê, e eu queria que Sam fosse a primeira a saber e se alguém houvesse falado aos meus pais? Minha mãe teria surtado, e eu jamais teria a chance de falar com Sam sobre isso primeiro. E se o médico mencionará sobre o bebê, Sam ainda estaria ali perguntando de mim assim mesmo? Talvez. Suspirei tensa, será que Sam a essa hora estaria feliz ou apenas preocupada? Mas ela estava ali, certo? Eu esperava que sim, suspirei pesadamente, será que isso era algum tipo de castigo por eu ser egoísta? Encarei a enfermeira.
- Sam está lá fora? - perguntei timidamente e ela pareceu confusa - A mulher com hematomas no rosto - disse sem ter certeza, mas eu imaginava que ela estaria com hematomas visíveis depois da covardia de Kirk.

- Ah sim, está com sua irmã na sala de espera - disse a enfermeira sorridente, mas eu só conseguia me atentar no detalhe da qual me chamara a atenção, eu não tinha irmãos, então que familiares estariam ali? - Agora que acordou, precisa descansar - a enfermeira falava analisando meu rosto - Tente não ficar ansiosa ou estressada, você perdeu sangue e o bebê sente essas coisas - disse ela amável - Vou liberá-la para as visitas, sua irmã e suas amigas devem querer vê-la logo...Mais tarde volto para ver como está - ela disse anotando algo na plaqueta que estava na bancada, eu apenas assenti, e ela saiu.

Me sentia confusa e aliviada, seja quem fosse que havia se identificado como minha irmã era melhor do que meus pais estarem ali, afinal teria que lhes explicar muitas coisas, e naquele momento tudo que eu queria era ver Sam e saber como ela estava.

Meu coração se acelerou por um momento com a ideia de Sam já saber sobre o bebê, imaginava se ela iria querer ficar comigo ainda? Ou ela faria como antes? Se afastando de mim e lutaria novamente contra o que sentimos para querer uma relação com o bebê? Isso estava me corroendo internamente, alisei lentamente minha barriga, apesar de sentir medo e insegurança quanto ao que Sam faria, eu só conseguia sentir amor, Nop havia me dado as duas razões para seguir em frente com a minha vida, eu estava certa disso, e amar Sam fora exatamente o que eu precisava para me lembrar que amor era tudo em que Nop acreditava, apesar dos problemas entre ele e a família, ele sempre acreditou que o amor podia mudar tudo.

Uma criança era um novo ciclo, um motivo pra seguir em frente sem ele, mas agora eu não queria seguir em frente sem Sam, e eu tinha certeza que não conseguiria, não mais, e só de pensar que isso poderia ser uma possibilidade meu coração doía, ela se tornará tudo que eu desejava.

Acariciei minha barriga perdida em meus pensamentos, eu já tinha aquela criança tão próxima, tão minha, eu já a amava tanto então pouco tempo, discorri por um futuro onde eu e Sam estávamos felizes com a chegada do bebê, será que isso poderia se realizar? Algumas lágrimas escorreram pela minha face e eu não impedi, eu estava insegura e tudo que eu precisava era dos braços de Sam me dizendo que tudo ficaria bem.

Não sei bem quanto tempo fiquei ali sozinha até ouvir um barulho na maçaneta da porta e eu congelei por um segundo, então vi Yuki adentrando o quarto e assim que seus olhos pousaram em mim eu vi o alívio se dissolver por eles.

- Mon! - ela caminhou até mim e me abraçou com carinho tentando me soltar e me encarar, porém permaneci agarrada a ela por mais alguns segundos, até ouvi-la novamente com seu tom de voz preocupado assim que me ouviu chorando - Mon... o que aconteceu? Pelo amor de Deus a enfermeira disse que estava tudo bem.... - ela se afastou de nosso abraço para me encarar então seus olhos se encheram de lágrimas - O bebê?....

- Não Yuki! - disse depressa antes que ela imaginasse coisas - Ele está bem - pus a mão sobre minha barriga.

- Então o que aconteceu, Mon? - questionou ela confusa.

- Eu estou com medo Yuki... Medo de perder Sam - disse, pondo as mão sobre meu rosto e deixando as lágrimas correrem.

- Mon, Sam é louca por você, porque você a perderia? - Yuki alisou meus cabelos com carinho.

- Eu não sei como ela vai reagir quando souber sobre o bebê, eu nem pude contar Yuki, eu ia contar a ela e então Kirk apareceu e... - eu solucei e olhei para ela que me olhava penalizada - Ela se condenou e lutou contra isso que sentimos por causa de Nop por tanto tempo, e se quando ela souber do bebê ela se afastar mim? - enxuguei minhas lágrimas e funguei como uma criança - E se ela quiser apenas ele - baixei os olhos para minha barriga, meu medo era que Sam quisesse esquecer tudo que havíamos passado juntas agora que o bebê estava a caminho.

- Mon olhe quanta besteira está dizendo, parece uma criança enciumada, está com medo de que Sam escolha o bebê ao invés de você? - Yuki disse sensata me fazendo pensar - Ela deixou Kirk porque acreditava no que vocês duas estavam construindo, você me contou isso, eu tenho certeza que o bebê não vai mudar isso, ela amava o irmão profundamente, já imaginou se você está está aí se martirizando atoa? E se for o total oposto? Sam vai amar ainda mais você.

- Ah Yuki - abracei ela - Você sempre me dá bons conselhos - enxuguei as lágrimas e a soltei - Você a viu? - questionei.

- Não, quando eu e Tee chegamos apenas a amiga dela estava na sala de espera... Kade - disse Yuki - Mas tenho certeza que ela deve estar esperando para entrar - tranquilizou Yuki.

- Acha mesmo que Sam está lá? - questionei

- Mon! Pare já com isso, Sam também estava ferida, Kate me disse que tiveram que vir fazer exames depois que foram à delegacia - ela disse pensativa então viu meu semblante de preocupação - Ela esta bem, e já deve ter sido atendida - disse ela assim que notou que minha preocupação era de que Sam estivesse machucada - Ela deve estar assinando algum papel ou algo assim, ela esta aqui, tenho certeza.

Não disse mais nada. Eu esperava com todas as forças que sim, suspirei  e fechei os olhos, não sabia quanto tempo tinha passado, mas ouvimos batidas curtas na porta, abri os olhou e em seguida avistei o rosto de quem eu mais ansiava ver, Sam...ela tinha marcas no rosto na parte superior da sobrancelha esquerda e na lateral da boca, meu coração teve um misto de alívio por vê-la e preocupação com seus hematomas.

- Posso entrar? - sua voz doce soou da porta.

Linhas Cruzadas (Sam&Mon)Onde histórias criam vida. Descubra agora