Capítulo 14

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Depois da conversa na varanda e de arrumarmos nossas coisas no closet do quarto estávamos deitadas na cama conversando sobre coisas aleatórias, Mon foi baixando o tom de voz no meio da conversa, falávamos quase num sussurro deitadas uma de frente para a outra, o som da voz dela parecia um abraço afetuoso. Eu podia sentir a respiração dela e o cheiro suave de seu perfume muito próximo de mim.

- ChanChan, posso perguntar uma coisa? - Mon me encarou receosa.

- Já está perguntando MonMon- falei sério e depois ri - Pode - ela não sorriu, então respirou fundo e começou.

- Você nunca falou de sua mãe - eu sabia pra onde aquilo iria - O que aconteceu com ela? - respirei fundo ao ouvir aquela pergunta, eu sabia que Nop nunca tinha mencionado nossa mãe, eu o conhecia bastante para saber que assim como eu, esse era um assunto difícil para nós dois.

- Ela morreu, quando eu ainda era pequena - disse tentando me lembrar do rosto dela que era quase um borrão.

- Ela também ficou doente? - Ela quis saber.

- Morreu no parto.... quando Nop nasceu, eu tinha três anos - encarei ela na penumbra entendendo o porque não falava na mãe.

- Sinto muito, Nop também não falava dela, mas sempre me perguntei sobre isso - Mon me olhava nos olhos, a penumbra do quarto não era tanta, podíamos nos enxergar.

- Acho que ele sempre se culpou pela morte dela - disse de repente pensando sobre o assunto - Ele mencionou isso uma ou duas vezes entre nossas brigas na adolescência - eu imaginava que ele se culpava, e que ele sentia como se tivesse tirado nossa mãe do nosso convívio.

- Você se lembra dela? - perguntou Mon.

- Pouco, acho que minha melhor lembrança é dela me pondo para dormir, ela cantava uma canção para mim e Nop, lembro dela passar a mão na barriga enquanto cantava - sorri ao recordar aquilo.

- Queria ter lembranças assim - disse ela me tirando da lembrança de minha mãe para voltar a olhá-la.

- Sua mãe sempre foi muito ocupada? - questionei ela.

- Desde que eu me lembre, sim. Nunca teve tempo, me lembro do meu pai, de como ele cuidava de mim ou quando ficava com medo, mas ela sempre estava viajando, depois ele também começou a viajar tanto quanto ela, me senti abandonada pelos dois, os criados da casa passaram a cuidar de mim como filha, eu sempre me senti como uma coisa que atrapalhava a vida deles - Mon deixou as lágrimas caírem

- Você parece uma pessoa muito forte - muito mais que eu, pensei comigo mesma.

- Não sou - disse ela - Yuki é meu porto seguro, nossa amizade segurou muitos dias ruins - Mon limpou os olhos.

- Ela parece se preocupar bastante com você, seria bom mantê-la perto agora também - disse me lembrando do que Tee havia me dito.

- Ela é uma ótima amiga, mas meio sufocante - Mon deu de ombros - Sinto falta dela - Mon sorriu fraco.

- Aposto que ela também sente a sua falta - disse quase dormindo

- ChanChan...- chamou Mon

- hum.. - respondi

- Você sabe quais são as três coisas que não podem ser escondidas? - ela sussurrou

- Não sei... - sussurrei de volta

- O sol, a lua e a verdade - ela sussurrou para mim

- você tem razão...- sussurrei pensando nas palavras dela, mas meus olhos estavam pesados e cansados.

E enquanto ela tagarelava alguma coisa sobre sol e lua, eu já não estava mais compreendendo as palavras que ela dizia, sentia apenas o tom suave de seu sussurro invadindo meus ouvidos como um carinho, até que adormeci , mas não antes de sentindo os dedos de dela  entrelaçando-se aos meus e um beijo suave na minha testa antes dela sussurrar um "boa noite ChanChan".

Linhas Cruzadas (Sam&Mon)Onde histórias criam vida. Descubra agora