5 dias depois...
Estavam todos alí, amigos, colegas, parentes, todos em volta no caixão. Um caixão que nem sequer tinha o corpo dela.
Os primeiros dias foram todos dedicados a procurar vestígios, mas nada foi encontrado. Mesmo eu achando impossível, levantaram a possibilidade de tudo ter virado cinza e se misturado com o que virou pó. Mesmo assim, como não acharia algo? Depois de pararem as buscas, foi que eu senti a dor voltar e o quão aquilo me derrubou... mesmo sabendo que não, ela ainda parecia estar aqui. Passar por isso é maluco demais.
- Ei, cara... - olhei pro meu lado e Peter havia se aproximado.- Como você está?
Os olhos dele estavam vermelhos como os meus. É...você se tornou especial pra todos, minha menina. Mas, como não se tornaria?
- Está doendo. Muito. É insuportável. - e novamente meus olhos foram invadidos pela água.- É uma doideira, uma parte de mim sabe, mas outra ainda não quer acreditar...
- É o processo de uma perda inesperada...o luto vai ser difícil, acho que você sabe disso. Seja forte.
Segundos depois William e Lucas, junto com as meninas se aproximaram. É como se todos tivessem a intenção de aumentar a força e o conforto entre nós mantendo aquela proximidade.
Nenhuma delas disse uma palavra desde que chegaram. Talvez ainda estivessem processando tudo e eu entendo completamente.
Depois do fim das buscas, passei o resto dos dias na cama, parecia um choque interminável ao mesmo tempo misturado com a dor de estar ciente de que tudo aconteceu. Minha mãe insistia em tentativas falhas de me fazer sair daquele quarto, mas só pude ter forças pra sair hoje e ainda assim, sinto uma ponta de arrependimento dentro do peito pois lembrar dela é um momento difícil pelo qual passar.
E mesmo assim, depois do tempo demorado de 1 hora, aqui estou eu. Na frente de todos, em meio ao silêncio rompido pelos ruídos de choro, pronto pra lhe dizer, para que ouça de onde quer que esteja, tudo o que eu precisava colocar pra fora...
"Acordar naquele dia seguinte e perceber que você não estava mais aqui... acredito que tenha sido a maior dor que já senti, não me lembro de nada me machucar assim.
Cinco dias se passaram, mas sangrei em cada um, sem parar...ainda tinha esperança de te achar, acho que ainda estava em choque, o fato de perder você era algo no qual eu não queria crer. Ainda não quero. Lembrar do futuro que eu já planejava, e perceber que não seria possível vive-lo com você, foi como receber 10 facadas de uma só vez, em um só segundo.
Pode ser que existam pessoas no mundo que tiveram dores parecidas, mas nada me permite acreditar nisso, porque era você quem me ajudava a ver dessa forma, em tudo o que fazia, pensando nas pessoas que amava...meu amor por você me mantinha tentando ser uma pessoa cada vez melhor.
E pode confiar em mim, minha princesa... por mais difícil que esteja sendo agora, não irei deixar isso se desfazer."
- Obrigada pelas palavras, querido. Que bom que veio!
Dona Malia, mãe dela, me abraçou agradecendo e ficou em meu lugar para que agora ela falasse o que desejava.
Eu não podia continuar alí, então fui pra uma parte mais reservada. Mal podia conter a água acumulada em meus olhos. Eu estava olhando fixamente pra janela daquele canto, chovia forte demais pra ver claramente qualquer coisa pelo vidro. Havia apenas uma figura preta no meio do jardim. A silhueta de uma pessoa.
Continuei olhando, tentando entender o que quer que fosse aquilo. Abri um pouco o vidro e pude enxergar, era uma garota, estava toda de preto, enxarcada mas mantinha o capuz em sua cabeça cobrindo metade do rosto. Seria alguém que ela conhecia?
- Ei... - tento chama-la.- Você pode entrar, se quiser...
Ela levantou a cabeça, que estava baixa segundos atrás. Lentamente meu rosto foi reagindo com espanto ao que eu estava vendo. O choro entalado por horas saía aos poucos... era a dor me fazendo alucinar? Não era possível. Pisquei fortemente meus olhos, os secando, mas ainda a via. Então, ela simplesmente soltou um pequeno sorriso... Deus, me diz se eu estou ficando louco!
Ela tirou a mão do bolso, eu acompanhava cada movimento seu. Ela segurava algo, que logo jogou em minha direção e saiu andando. Saí pela enorme janela, me molhando com a chuva e peguei do chão. Logo saí correndo dalí, consequentemente chamando a atenção de alguns, mas eu não me importei. Eu precisava ir atrás dela, mas não adiantou. Ela sumiu.
Olhei para minha mão com o pedaço de papel preso a uma pedra de Jade. Ao abrir, meu coração quase saiu pela boca.
"O que você não viu, não aconteceu."
O que ela quis di... espera... o que eu não vi, não aconteceu. Eu não a vi morta.
Ela tá viva!
- ELA TÁ VIVA!!!
Gritei caindo de joelhos na grama molhada, enquanto a chuva se misturava com as lágrimas do meu choro emocionado.
X²
- Pronto, agora sim.
Digo assim que termino de organizar as coisas. Logo ouço o barulho da porta e vejo ela entrar, depois de 1 hora sem saber onde ela estava.
- Você ficou louca de sair assim? - digo enfurecido, ao ver Helena entrar molhada.- A onde você foi?
- Eu precisava ir à um lugar antes de partirmos.
- Que lugar? - questiono desconfiado.- Sabe que ninguém pode te ver, aquele cara está por aí te caçando junto com o pessoal dele.
Olhei para ela que demonstrava um estranho ânimo e então logo deduzi.
- Você foi ver ele, não é?
- Não pude evitar... agora ele sabe.
Continua...
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Traçados no amor
Любовные романыDepois de anos escolares meio conturbados, em meio a fase jovem adulta dois ex colegas de colégio, Dante e Helena, se reencontram. Entre acontecimentos inesperados descobrem ao decorrer do tempo no que certas mudanças são capazes de resultar, mas ta...