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HUGO

Estava uma manhã fria de 11° nessa terça-feira e eu só conseguia pensar no momento em que tudo isso irá acabar. Sair desse inferno pra um lugar longe, eu e ela, a paz e mais ninguém.

Aproveitando essa privacidade, vou fazer a primeira ligação.

- Alô? - ouço a voz familiar de pratrick do outro lado da linha.

- Olá, sogro! - respondo, com um certo sarcasmo.

- Nunca achei que estaria numa situação como essa com você. Cadê a minha filha?

- Ei, espera aí! Não é assim que funciona, sabe bem disso. Quem dita as coisas sou eu, incluindo quando poderá falar com ela.

- Pelo menos me diga se ela está bem!

- Ela está ótima, sendo muito bem cuidada. Aliás, sei que essa ligação pode estar sendo monitorada, já adianto que não servirá de nada.

- O que você quer? Diga, eu dou tudo o que pedir.

- Obviamente terá dinheiro nessa parada, muito dinheiro. Mas, antes eu queria... sua bênção.

- Minha benção? Do que está falando?

- Quero me casar com sua filha, Patrick. Claro que não sinto necessidade de sua permissão, mas queria ao menos ser cordial.

- Você só pode estar ficando maluco...

- Parece mesmo loucura, né? Aliás, isso nem mesmo é uma troca, eu nem mesmo pretendo lhe devolver ela. Está mais pra um acordo: ela terá liberdade para lhe visitar, passar um dia com a família, sob supervisão, e é exatamente isso o que está em negociação aqui.

- Não pode estar falando sério! - eu podia notar a aflição dele em sua voz.

- Vou lhe dar um tempo pra pensar, você tem até a manhã de Quarta pra me responder e a noite resolveremos tudo. Sem dinheiro, eu sumo com ela e nem mesmo a merda da Interpol poderia te ajudar a acha-la. Lembrando: não adianta tentar rastrear, mudaremos de locação. Até mais tarde.

Desliguei o celular e subi avisando a todos que sairiamos, indo buscar Helena. Eu ainda tinha um carinho pelo Patrick como sogro, mas eu não podia amolecer. Eu não podia falhar e acabar colocando tudo a perder de novo a essa altura do campeonato.

- Vamos. - digo, entrando no quarto e a vendo deitada.

- Pra onde?

- Vamos sair do Hotel.

- Pra que lugar? Por que?

- Não faça perguntas.

Pego tudo o que é necessário, fazendo o possível pra recepção não perceber nada e realizar o check-out . O lugar para onde íamos não era tão distante, mas com certeza não seria mais um Hotel de classe média. Depois de receber toda a grana, iríamos ao destino final do plano e viajariamos logo após.

08:30 da manhã.

DANTE

- DROGA!

Grito alto o bastante pra ecoar pela recepção daquele hotel. Chegamos tarde e eu tinha esperança de ainda poder recupera-la hoje. Eu vou acabar com a vida desse infeliz.

- Ele avisou que não adiantaria, Dante. - Peter relembra, parando ao meu lado.

- Eu tinha que tentar.

- Vamos voltar. Precisamos de um plano para que tudo dê certo.

Saímos todos de lá e assim que chegamos, aquela sala podia exalar aflição e desespero. Patrick estava sentado e não parava de bater o pé no chão sendo consumido pela ansiedade.

- Não acharam nada, não é? - ele pergunta, parecia perdido.

- Não, mas eu precisava. Não ía aguentar ficar sentado sem ao menos tentar.

Ele sentou olhando pro teto e era praticamente indecifrável, já que não expressava nada. Naquele momento ele estava disposto a tudo pra tentar recuperar ela.

Nessas horas qualquer coisa nos faz pensar na vida de quem amamos e ele amava a Helena mais do que qualquer coisa. Não queria arriscar a vida da própria filha caso qualquer plano desse errado, mas eu sei que ele também não cederia facilmente.

- Me diga uma coisa, filho... - ele começa, me fazendo prestar atenção nele.- Você está com a minha filha, não está?

Naquele momento senti cada pedaço do meu corpo pulsar, seguido de um gelo e formigamento em minhas mãos. A pergunta foi muito do nada, eu nem mesmo esperava naquele instante. O que eu deveria dizer? Sim? Não? E se ele fosse contra, como eu iria lídar? E se me afastasse dela?

- Vamos, rapaz... - seu tom de voz era calmo.- Pode me dizer a verdade.

- Nós... nós não estávamos juntos, éramos muito próximos. Na noite em que a levaram, passamos desse nível e...bom, eu só posso dizer que eu gosto muito da Helena. Ela se tornou extremamente importante pra mim.

- Eu não duvido. Mas, você sabe que não quero minha filha vivendo a vida casada com um policial, não sabe? Mesmo confiando que você cuidaria bem dela.

- Sim, eu sei. Com todo respeito, eu espero que não mantenha esse pensamento por muito mais tempo... - ele me olha, esperando o restante.- porque eu quero sua filha do meu lado e farei o possível pra que me aceite.

Todos na sala estavam atentos ao diálogo, até mesmo os policiais. Foi um momento completamente inesperado. Todos sabiam que Patrick era exigente quanto ao homem que casasse com Helena, isso era nítido no quanto ele a protegia sempre. Porém, a verdade é que a escolha sempre foi dela, e ninguém poderia contestar esse direito.

Nada mais foi dito e ele mudou completamente o rumo do assunto, tomando iniciativa para que qualquer um que tivesse pensado em algum plano, falasse alí. Foi aleatório, me pergunto o que poderia ter passado pela cabeça dela para me questionar sobre isso assim. Mas, tirou um certo peso de meus ombros. Eu estava repleto de esperança de que tudo ficaria bem e eu a teria novamente comigo.

X

Estava tudo correndo como planejado. Finalmente uma faísca para reacender minha fé. O Hugo serviu de algo no fim das contas, e se ele fizer tudo certo, sairemos vitoriosos dessa com tudo o que tanto queríamos.

É bom eu deixar as coisas como estão, porque se tudo for bem sucedido, sairei ilesa e poderei executar a minha parte de toda essa vingança. Foram anos de espera, eu precisava que tudo corresse ao meu favor e eu sei que o universo me compensará por todo o esforço.

Traçados no amorOnde histórias criam vida. Descubra agora